segunda-feira, 1 de junho de 2009

UM ESQUECIMENTO INTOLERÁVEL






Você sabe onde é o Largo da Freiria, na Baixa da cidade? Não sabe? Deixe lá, não é o único. Há mais. E mais ainda, passando a redundância, vindo a ignorância de quem tem obrigação de saber por inerência da sua profissão.
Está bem! Eu vou deixar-me de passeios à beira-rio e vou directo à questão. Então é assim: alguns comerciantes do Largo da Freiria –eu explico onde é: fica junto à Rua Eduardo Coelho. É aquele Largo com azulejos “art nouveaux”, da fábrica Aleluia de Aveiro, encastrados no Snack-bar Padaria Popular. E ainda lhe digo mais: É o único largo, provavelmente no país, onde convivem alegremente, com amizade, fascistas, comunistas, trotkistas, comodistas, revivalistas e outros “istas” que por acaso agora não me lembro.
Agora que você já sabe onde é este famoso Largo –está admirado? Famoso, sim senhor! Há quem diga que D. Sisnando, o primeiro governador de Coimbra depois da reconquista aos mouros, tinha aqui a sua “Sisnandinha”, a sua amada “mais que tudo”. Dizem que este largo foi sempre tão importante ao longo da Idade Média que D. Afonso Henriques antes de exalar o último suspiro, para além do desejo dos seus restos mortais irem para a Igreja de Santa Cruz, perante o Papa Inocêncio II, disse, por entre monossílabos: “eu... quero... voltar... à Freiria”. Segundo parece, no colégio de freiras, que nesta altura existia neste largo e que lhe veio a dar nome, havia lá uma “freirinha” que o Conquistador por ela fazia tudo. Contam, alguns historiadores, que foi por causa desta “tenrinha” eclesiástica que o primeiro rei bateu na mãe. Era assim um amor moderno "à Berlusconi" pela sua “filhinha”, “vai chamar pai a outro”, que tanto encanta Itália nos dias que correm.
Calma! Não se enerve, eu sei que estou a ser longo. Mas é para ver a extraordinária importância histórica deste largo.
Agora é que vou contar o que me levou a escrever. Continuando, é assim: um grupo de comerciantes preocupados com um prédio abandonado no Largo da Freiria, com obras iniciadas há cerca de três anos, e que é um depósito de lixo, pediu à Junta de Freguesia de São Bartolomeu a sua intervenção junto da Câmara Municipal de Coimbra. O seu presidente assim fez. E qual foi a resposta da autarquia, quer você saber, leitor? Eu conto. Foi assim:

Exº Senhor Presidente da Junta de Freguesia de São Bartolomeu.

Assunto: Degradação de Imóvel sito no Largo da Freiria.

Na sequência do ofício de V.Exª, acima identificado, informa-se que o mesmo foi remetido à Chefe de Divisão de Estruturas e Renovação Urbana, senhora Engª (…), uma vez que o imóvel em causa se encontra fora da área de licenciamento do Gabinete para o Centro Histórico (SIC) (…).

O DIRECTOR DO GCH, por delegação de competências (Edital nº431/2005), Engº (…)

Ou seja, em resumo, já viu que nem o presidente, nem os funcionários que o coadjuvam no Gabinete para o Centro Histórico sabem onde fica o Largo da Freiria. É essa a conclusão a que se chega. É ou não é? Claro. Não pode ser outra.
Que diabo!, lá por já não ter uma casa de freiras não quer dizer que o largo seja completamente esquecido na toponímia do centro histórico.
Se o Conquistador, hipoteticamente, saísse do seu mausoléu da Igreja de Santa Cruz, não iria gostar de saber que se esqueceu o largo onde viveu a sua “freirinha”. Ai de certeza. Ó larilas!...

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