segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

NÃO HÁ UMA SEM DUAS



O edital do Juízos Cíveis de Coimbra está colado na porta interior e transcreve o que é habitual neste género de processos: “Faz-se constar que este imóvel foi objecto de uma diligência… (…)”.
O que causa alguma apreensão não é o facto deste arresto em si mesmo. O que gera alguma dor é saber que em 2008 a firma inicial, Coimbra & Filhos, Lª, que funcionou aqui durante 40 anos, encerrou. Em 2010 pediu a insolvência. Esta grande empresa em 1990 chegou a ter ao seu serviço 38 empregados.
Em Março de 2011 o edifício, incluindo a loja, foi adquirido por um comerciante chinês de nome Chen. Encerrou em Janeiro deste ano, de 2013. Sabe-se agora, oficialmente, que o prédio foi entregue ao banco, ao BCP.
Onde quer que esteja –o que pressupõe que não descansará em paz-, o velho José dos Santos Coimbra –que conheci bem porque trabalhei lá de 1973 a 1982- deve estar a revolver-se em sofrimento. Quem imaginaria que o comércio chegaria ao ponto em que está?!? Não deixa também de ser curioso o facto de, depois do PS ter contribuído para a morte do comércio popular dos centros históricos nos últimos anos, agora ser o PSD, o partido amado do malogrado José Coimbra, o coveiro que enterra de vez o comércio tradicional. Lembro-me bem das palavras do velho lobo do negócio, a partir de 1974 e nas eleições subsequentes, mais ou menos assim: “Luís, vote no PSD! Ajude a salvar este país. Os comunistas hão-de destruir tudo!”. Ironia do destino!
Hoje olha-se para esta outrora catedral do comércio e dá pena. No antigo edifício do Carlos Camiseiro, em frente às desaparecidas Galerias Coimbra, e também adquirido por Santos Coimbra por volta de 1980, está o TRAJE, que também jaz abandonado. Por estes últimos dias furtaram a letra “J”. Mais uma vez, numa ironia fina e sub-reptícia de má sorte, ficou “TRAE”. Quem traiu quem? Interrogo eu.


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