quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

EDITORIAL: MUDAM-SE OS PENICOS MAS...



 Ontem os dois jornais da cidade, Diário de Coimbra e Diário as Beiras –este em notícia online- plasmavam que “Os Serviços Municipalizados de Transportes Urbanos de Coimbra (SMTUC) anunciaram que o estacionamento automóvel em alguns locais da Baixa da cidade será gratuito no sábado e ainda a 21 e 28 deste mês (…). A medida, segundo os SMTUC, pretende incentivar os munícipes a realizarem as suas compras na Baixa de Coimbra, contribuindo para a dinamização do comércio local” –prosa transcrita do Diário de Coimbra.
Antes de dar a corda toda de uma vez só à argumentação -porque estou irritado-, respirando fundo e contando até dez, vou tentar mostrar que esta acção, contrariamente ao que parece, não é uma medida séria mas antes um truque mágico, de onde sai um coelho da cartola vestido de Pai Natal. Vamos por partes:
Primeiro, por acaso, pensarão as ilustres cabecinhas pensantes dos SMTUC que são umas “alvíssaras” oferecidas, de três sábados de manhã gratuitos nesta quadra, que vão espevitar e revitalizar o comércio local? Se esta medida não fosse tão desgraçadamente irrisória, tão pobre, porque pobres são quem assina ordens assim, diríamos que dava vontade de rir. Saberão estes senhores administradores alguma coisa da Baixa? Já entraram alguma vez numa rua estreita? Já entraram em alguma loja? Fazem alguma ideia de como está o tecido comercial? O mais certo é conhecerem apenas o trajecto directo, que separa a margem esquerda do rio, entre a sede dos SMTUC, atravessando a Portagem e ruas da calçada, e a Câmara Municipal. E mais nada! Do Centro Histórico não sabem nada –nem querem saber! Falam de dinamização do comércio local como se revitalizar este sector fosse assim uma espécie de dar uma moeda a um mendigo e este, pelo gesto metafísico, imediatamente ficar rico e feliz. É assim, por um lado, um descarregar de consciência subjectiva e, por outro, para mostrar a quem assiste ao acto que se está muito preocupado com os pobrezinhos. Verdadeiramente é uma acção fingida que busca apenas os holofotes públicos. Constata-se, infelizmente, que estamos na mesma, mudaram as caras mas o mesmo ostracismo em relação à Baixa, o desleixo que se tem por uma coisa imprestável, continua. Tal como os anteriores executivos de coligação, cujos líderes foram Carlos Encarnação e Barbosa de Melo, que nunca tiveram uma política clara de revitalizar esta parte velha da cidade, verifica-se que, embora ainda estejamos no princípio do mandato e sujeito à dúvida metódica, o abandono, a displicência, a falta de planos para reerguer uma zona comercial da cidade, que já foi de excelência, segue a mesma cartilha. Do horizonte político dos novos ocupantes da Praça 8 de Maio não se vislumbra uma ponta de esperança para a recuperação desta parte da cidade.
Segundo, saberão estes iluminados dos SMTUC, com rendimentos garantidos por força da nomeação política, que, entre o nin e o talvez, desde 2009 que o estacionamento público deveria ser gratuito por promessa dada mas nunca cumprida? Ou seja, em 2009 o vice-presidente da Câmara Municipal, engenheiro Rebelo, prometeu que, para incentivar os comerciantes a abrir ao Sábado e para desenvolver a Baixa, a paragem de automóveis na via pública seria desonerado. Acontece que nunca as máquinas de cobrança automática foram alteradas nem foi colocada qualquer sinalização a indicar a gratuitidade. Resultado: quem sabia da notícia vinda nos jornais não pagava, quem desconhecia pagava. Mais ainda, tanto quanto sei, como não houve despacho regulamentar, postura, tudo ficou assente na discricionariedade –ou arbitrariedade- dos agentes da Polícia Municipal. Umas vezes multavam outras vezes não.
Em 16 de Março de 2010 titulava o Diário as Beiras: “A Polícia Municipal deixou aviso: o estacionamento aos sábados de manhã na Baixa de Coimbra vai voltar a ser pago”.
Em 19 do mesmo mês de Março, em reunião conjunta da APBC, Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra, e da ACIC, Associação Comercial e Industrial de Coimbra, com o então, na altura, vice-presidente Barbosa de Melo ficou assente que a autarquia deixaria cair o pagamento do estacionamento ao sábado de manhã, até às 14h00 –a partir desta hora passa a ser gratuito. Como já era de prever, porque palavra de político não vale uma pirisca de cigarro, tudo continuou como dantes, isto é, pagavam os parvos e os espertos safavam-se. Resultado: como sempre, perdia o elo mais fraco, a Baixa.
Em 4 de Março de 2011, na Assembleia Municipal e em recomendação ao Executivo da Coligação por Coimbra, era o Bloco de Esquerda a defender que “o comércio tradicional da Baixa de Coimbra atravessa uma conjuntura de profunda crise, que se traduz, nomeadamente, no definhamento das actividades, por falta de procura, a que não é alheio o panorama de crescente e contínua degradação urbana e desertificação habitacional; a instalação prolífera de grandes superfícies comerciais veio gerar novas centralidades e acentuar o esvaziamento de consumidores da Baixa da cidade”. Entre outras medidas pugnava: “Que se facilite o acesso e mobilidade na Baixa de Coimbra, nomeadamente, facilitando o estacionamento gratuito na Baixa e no Mercado D. Pedro V aos sábados de manhã; proporcionando a gratuitidade da 1.ª hora de estacionamento nos espaços públicos de estacionamento automóvel (durante a semana?).”

ATÉ TU, INDEPENDENTE?

Agora, depois de este novo executivo tomar posse, que em tudo se esperava ser diferente, verifica-se que apenas mudaram os penicos, o hábito continua, para não dizer pior.
Pasme-se também, anteontem, na reunião do executivo camarário, o representante do movimento independente Cidadãos por Coimbra (CpC) votou favoravelmente, por unanimidade ao lado dos seus compartes, o Estudo de Impacte Ambiental referente à instalação da nova grande superfície IKEA, no Planalto e Santa Clara, e que vai nascer sobre um terreno onde foram cortados ilegalmente sobreiros cuja lei prescreve a proibição de edificação durante 25 anos. De salientar que o delegado do CpC que votou era Pedro Bingre, o número dois da lista, em substituição de Ferreira da Silva. Há ainda outro pormenor interessante, Bingre, que é especialista em Ambiente, Planeamento Regional e Urbano e Políticas de Solos, perante esta aprovação por unanimidade, não teria nada a dizer? Não saberá ele o quanto este licenciamento vai custar a centenas de famílias que trabalham na Baixa?
É minha noção de que para os eleitos tanto faz ser independente, ser simpatizante do Bloco de Esquerda, ser do PSD, ser do PS, como ser da CDU, ninguém se importa com o estado caótico da Baixa. Desgraçado de quem por aqui tenta aguentar-se. Se estiver à espera da solidariedade de qualquer destes, vale mais ir apanhar gambozinos para o Choupal.

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