terça-feira, 10 de dezembro de 2013

O COMÉRCIO A ENTRAR EM PÂNICO



 São 17h00 desta terça-feira, 10 de Dezembro. Nas ruas estreitas da Baixa o ambiente é desolador, de uma pavorosa atmosfera desprovida de transeuntes. Quem mais se vê a calcorrear a calçada são idosos com sacos na mão de uma qualquer grande superfície. As lojas estão completamente vazias e os donos estão à porta como se tentassem vislumbrar um futuro que não se antevê. Nas ruas largas, Sofia, Visconde da Luz e Ferreira Borges o movimento de pessoas é contínuo. Será que nestas artérias movimentadas é diferente? Fui tentar saber como se sentem os comerciantes do Centro Histórico. Falei com dois. A pergunta foi lançada assim: Como é que estão a decorrer as vendas nesta quadra de Natal? Vamos ouvir:

Rosa Maria, de 51 anos, proprietária da loja Belíssima, na Rua Eduardo Coelho, essencialmente com artigos de lingerie em marcas de grande qualidade, respondeu assim: “Muito mal! Nem menos de metade do ano passado. As pessoas obsessivamente pretendem o mais barato. Procuram por todos os meios esmagar o preço. Por muito baixo que se faça acham sempre caro. A Primark deu cabo de nós, de toda a Baixa. E sobretudo do meu negócio, cujas roupas interiores são o meu forte. Os clientes estão sempre a comparar o meu preço com aquela grande superfície. Hoje, no comércio, por parte do cliente vale tudo. Sinto-me ofendida na minha dignidade. As pessoas não querem saber de nós. Trabalhamos de segunda a domingo e elas não aparecem. Depois há coisas que me tiram do sério. Por exemplo as iluminações foram tardiamente colocadas e as ornamentações ficaram todas concentradas nas ruas largas. Olha aqui a nossa rua! Nem um único arco para amostra! Sinto-me excluída por parte da APBC, Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra, e da Câmara Municipal. Por parte dos políticos, como sempre, em campanha prometem tudo e depois é o que se vê!
Sinto-me frustrada. Faço tudo para cativar o cliente mas ele não vem. Por mais que me esforce, parece que nada o atrai. Ainda não estou deprimida, mas sinto-me desalentada. Vou para casa e implico com tudo. Reajo sem paciência à mínima contrariedade. Não durmo bem. Se acordar a meio da noite conto carneirinhos na passagem das horas até ao amanhecer. Vejo o futuro muito tremido, mas não desisto. Cá continuarei na luta. Sou uma combatente! Sempre serei assim até ao fim dos meus dias!”

E NA RUA LARGA? COMO É QUE É?


Arménio Pratas, de 65 anos, proprietário da Sofimoda, demais conhecido na Rua da Sofia, quase dispensa apresentações. À mesma pergunta, “Como é que estão a decorrer as vendas nesta quadra de Natal?”, respondeu assim: “O pior possível! Era inimaginável prever uma coisa assim! O que está acontecer são quebras colossais nas vendas! Pouca gente a circular na Baixa. E os que entram no meu estabelecimento procuram obter grandes descontos. Sente-se um esmifrar até ao tutano por parte do cliente. No geral, todos tentam comprar pelo mais baixo preço possível. Assim, como é que consigo ganhar dinheiro para pagar a mercadoria? Bem sei que esta assustadora quebra de vendas tem uma causa: quebra de rendimentos nas famílias, com os consequentes cortes nos subsídios, sobretudo na função pública que era o nosso melhor freguês. Contrariamente ao dito pelos ministros que falam em crescimento económico, sinto que estamos muito próximo da deflação. Eles, membros do Governo, que venham cá! Venham para a rua e auscultem o pulsar do povo.
Sinto que não tenho capacidade de resistência… porque não vendo! Quando caminho para a loja, de manhã, venho desmotivado e, diariamente, penso se valerá a pena continuar nesta aflição. Apetece-me fugir para longe e largar tudo. Já não tenho idade para emigrar, mas quero sair daqui. É frustrante sentir que tanto me esforcei e não valeu a pena! Não tenho dúvida que ando deprimido, sem esperança e sem futuro. Não durmo regularmente e, no pouco tempo que acontece fechar os olhos, acordo em pânico. Cada dia é um peso enorme. É como se sentisse o mundo nos meus ombros!”

E O QUE DIZ ARMINDO GASPAR?

Armindo Gaspar, presidente da APBC, Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra, acerca das iluminações natalícias, refere o seguinte: “Bem sei que as ornamentações foram colocadas muito em cima, mas tal atraso deveu-se ao facto de ter havido eleições autárquicas recentemente. Não me cabe defender o executivo camarário, mas o que sinto é um grande envolvimento da parte dos seus membros. Há uma enorme vontade de se fazer alguma coisa, obviamente, gastando o menos possível –o que entendo. Da coligação anterior havia uma verba cabimentada de 12,500 euros para as ornamentações. A direcção da APBC, fazendo o que lhe cabe, tentou reivindicar o máximo de ruas abrangidas. Conseguimos que o montante subisse para 14,500 euros, totalmente cobertos pela autarquia. A Agência, dentro dos poucos meios que dispõe, está nesta quadra a actuar em parceria com a edilidade. Somos nós que suportamos integralmente a sonorização. Algumas actividades, como os carritos na Praça 8 de Maio e as festas do fim de ano são em parceria. De qualquer modo, a APBC investe mais de 5000 euros para alegrar e animar as ruas da Baixa.”

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