Duas notas sobre a
reunião da Assembleia Municipal de 25 de novembro de 2013
Nesta sessão foram, como se sabe, fixadas as
taxas do IMI (Imposto Municipal sobre Imóveis): 0,38% para os prédios avaliados recentemente; 0,70% para os que
têm avaliações antigas. Foram também fixadas minorações para a zona
classificada como património mundial e para os prédios arrendados e majorações
para os devolutos.
As notas que quero deixar não
são, contudo, sobre a taxas fixadas. São sobre dois outros aspetos relevantes
daquela sessão, que devemos destacar, e em que julgo que a nossa intervenção
foi importante.
O primeiro é sobre o próprio funcionamento
da Assembleia Municipal (AM), a sua democraticidade e a sua dignidade institucional.
A culminar a discussão sobre o IMI, na sessão do dia 21, a maioria fez a
interpretação de que a AM só podia votar (aprovando ou rejeitando) a proposta
da Câmara, sem considerar as que foram entretanto apresentadas e que, sendo
diferentes, da primeira, a modificariam se obtivessem vencimento. Ora, tal
interpretação só é possível ser feita por quem nem sequer leu a lei, tão
simples e clara ela é! Se não foi descuido, falta de atenção ou preguiça, pode
então colocar-se a hipótese de, desse modo, se querer abrir alas a formas
autoritárias (e, portanto, patéticas) de lidar com a AM, condicionando-a.
Reagimos, por razões de democraticidade e dignidade institucional, contra tal
interpretação e fomos persistentes a convidar que se ultrapassasse aquele “mau
momento”, voltando atrás. Mas só a derrota de uma proposta igualmente obtusa,
que consistia em, sem qualquer base lógica,procurar repor à votação a proposta
da Câmara já anteriormente votada e rejeitada, conseguiu, por caminhos
tortuosos, dar lugar a um bocadinho de bom senso. A posição que defendemos
quanto a isto era óbvia mas não deixámos de procurar previamente a
interpretação de excelentes juristas, conhecedores do direito do poder local.
Causa-nos, no entanto, a maior apreensão que tenha sido possível, sem
fundamento nem cuidado, impor tais ideias à AM e tentar levá-las por diante.
Felizmente, impediu-se isso, e esperamos que tal contribua para a democraticidade
e a dignidade deste órgão, no futuro.
Quando se chegou à forma de
votação, em alternativa, das propostas dos vários grupos políticos, a do PS
(convergente com a da Câmara),foi aprovada.
A segunda nota que quero deixar é
sobre a posição que apresentámos relativamente ao IMI. Defendemos que este
imposto é, em primeiríssimo lugar, um instrumento de gestão urbanística: por
isso é que ele é predial e municipal. Assim sendo, a principal modelação que se
lhe pode dar, através das majorações e minorações possibilitadas pela lei, é
para servir a política urbanística do município. Defendemos na campanha um
urbanismo de requalificação e regeneração urbana, que valorize o centro
histórico e toda a zona urbana consolidada, contra a construção desenfreada em
novas zonas urbanizáveis, com as quais se desqualifica a cidade e se socializam
os custos da necessária infraestruturação desses novos espaços, enquanto os
lucros são privados. Defendemos mesmo que a localização de atividades
empresariais devem privilegiar o uso de espaços industriais hoje abandonados e
degradados, assim contrariando a disseminação de novas zonas infraestruturadas,
caras para o município e sem proveito para a requalificação da cidade. Ora,
estes princípios só podem ter conteúdo e efeitos futuros se fizerem parte de
uma mensagem estratégica clara a todos os propósitos, incluindo na sede
fundamental da fiscalidade local.
Foi este o nosso contributo e foi
na demonstração desta ideia que nos concentrámos – tendo logrado a compreensão
de vários sectores da AM. Nestes termos, a nossa proposta consistiu em propor
duas minorações específicas à taxas que viessem a ser aprovadas: a de 30% para
a zona classificada como Património Mundial e 15% para a parte remanescente,
dentro do que o PDM classifica como área urbana. A primeira parte da proposta,
por coincidir com a de outros grupos, foi aprovada. A segunda parte obteve a
consideração de outros grupos da AM mas não foi aprovada. O nosso grupo ficou,
no entanto, convencido que apresentamos bem a proposta com que nos
diferenciámos dos demais e que fomos pedagogicamente coerentes com um dos
traços principais do nosso manifesto eleitoral.
Uma observação final. O IMI é um
imposto sobre o património. Não é progressivo face ao rendimento de quem o
paga, como mandam as leis da justiça fiscal. Hoje, onera o custo de vida da
maioria das famílias, que foram empurradas para a compra de casa própria. Tudo
isto deve ser considerado na fixação da taxa geral, para a qual a lei
estabelece um intervalo, isto é, um mínimo e um máximo. Sabe-se também que os
valores prediais sobre que incidem as taxas dependem, eles próprios, da
localização no espaço do município. Estas são questões importantes. O que não
se deve é esquecer a relação deste instrumento da política urbanística com a
cidade que defendemos e desejamos.
José Reis
Membro da Assembleia Municipal de Coimbra eleito pela candidatura Cidadãos por Coimbra
José Reis
Membro da Assembleia Municipal de Coimbra eleito pela candidatura Cidadãos por Coimbra
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