Hoje durante o dia, nas artérias
largas da Baixa, nomeadamente as Ruas da Sofia, Visconde da Luz e Ferreira
Borges, um exército de senhores muito bem-vestidos com umas pastas no antebraço,
de fatinho e gravata, todos muito novos e que pode ser significativo para
agradar a um certo público, tolhia-nos o passo. Numa primeira impressão, até se
poderia pensar “queres ver que a moda de apanhar clientes para os restaurantes já
chegou a Coimbra? Depois de falhado primeiro pensamento, numa segunda impressão,
desabafava-mos para os nossos botões: “nãaa”.
Não pode ser! São mas é uma invasão de “meninos” mormons, como antigamente se
viam aos pares, recém-chegados. Se calhar para converter a cidade -que tanto
precisa, já que nem São Francisco se salva- a esta religião da Igreja de Jesus
Cristo do Santos dos Últimos Dias.”
Só desmanchávamos o tabu quando
um deles interrogava: “não está
interessado em ver um andar, aqui na Baixa, que temos para venda? Não?! E não
quer comprar em outro local? Não?! E não tem nada para vender? Não?! E não
conhece uns amigos que tenham qualquer coisa para vender? Se calhar tem?!”. E
entregava-nos uma pasta de capas avermelhadas.
Afinal, tratava-se de uma
investida –sim o termo está apropriado- de uma agência da ERA COIMBRA, situada
no Vale das Flores, com um novo formato de vendas inserido na temática “CASA
ABERTA –NEGÓCIO FECHADO. No caso, era uma transacção de um andar por cima da
antiga pastelaria Central e ao lado do Café Nicola, na Rua Ferreira Borges que
estava de portas franqueadas –como quem diz abertas- à espera de visitantes.
À entrada, onde estava uma bandeirola e uma passadeira vermelha, mais um
pelotão de fuzilamento –como quem diz de inquirição- interpelava-nos e dava-nos
mais um panfleto onde informava que “ANTES o apartamento T3 custava 85,000
euros, AGORA 59,000 euros”.
Ora bem, se esta crónica começou
por ser escrita em tom irónico, a cair no brejeiro, agora passa ao sério. Há
aqui qualquer coisa que não bate bem. Estas ruas da calçada estão transformadas
em “empata-focas” –eu escrevi “empata-focas”. Não tenho culpa nenhuma que você
pensasse noutra expressão. Sou muito sério por parte do meu pai que, por acaso,
até era velhaco. Escrevi “empata”, porque empatam quem passa. E “focas”, porque os transeuntes destas
ruas, no qual me incluo, vão sempre direitinhos e emproados.
Começa a ser incomodativo tanto
tolher o passo por uma causa qualquer. É por uma associação de beneficência, é
para a AMI, é para a “liga não sei das quantas”. Fosca-se! Já não há
pachorra!! Com urgência, é preciso dizer que este estado já era, ou já foi, ou
qualquer coisa assim.
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