O Anildo Mota é o brasileiro mais
português que conheço. É pintor, retratista e há vários anos que tem o seu atelier montado junto à Igreja de São
Tiago, na Praça do Comércio. O Anildo, como a maioria dos seus conterrâneos, é
um cara bacana. Dá-se bem com toda a gente.
Talvez por isso nunca teve problemas com os seus vizinhos, incluindo os santos
da igreja ao lado e até os pombos que volta e meia vêm apreciar a arte do Mota.
Entre eles, pássaros e homem, houve sempre um respeito mútuo, assim uma espécie
de acordo selado com palavras de ouro. O Anildo prometeu não voar, invadindo o espaço aéreo
das aves, e os passarinhos juraram solenemente não cagarem a sua arte
pictórica. E sob vigilância divina, por parte dos locatários do templo ao lado,
tudo corria sobre rodas, até há dois dias. Pelos vistos, um qualquer passarão,
numa declarada provocação, deu em defecar em cima do desenho de Pedro Passos
Coelho, o actual Primeiro-ministro. Ora, como está de ver, estamos perante uma
ofensa grave a um político do Estado. Aliás, até punível criminalmente. Perante
isto, o Anildo não sabe o que há-de fazer. Vai apresentar uma participação no Ministério
Público contra incertos? E se porventura o passarão, que se esteve a cagar para
o chefe do Governo, for assim uma espécie de Mário Soares dos beirais? Isto é,
com a mesma importância e ninguém liga à cagadela? O Anildo, quase em súplica,
pediu-me um conselho, mas eu sei lá de alguma coisa? Eu não percebo nada de
nada. Se o leitor puder ajudar este nosso reconhecido e amado pintor da Baixa
faça isso.
1 comentário:
Já absorvi o pássaro! embora ele possua uma forma nada ortodoxa de manifestar o seu desagrado ao 1º ministro temos que ser compreensivo ao seu estilo.
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