terça-feira, 8 de janeiro de 2013

REABRIU O GAT NO TERREIRO DA ERVA



 No sábado, a notícia no Diário de Coimbra caiu que nem um meteorito no Centro Histórico: “Toxicodependentes perderam Gabinete de apoio na Baixa”. Especulando, será de supor que, tal como quando chove o comerciante que vende guarda-chuvas fica contente e o transeunte sente uma arrelia, também aqui alguém teria chorado e outros cantaram de contentamento. Contra todas as premonições catastróficas, esta organização de apoio e por conta da Cáritas reabriu hoje.
Quem por aqui calcorreia estes becos e vielas sabe que os operadores comerciais e as forças policiais, na maioria, não vêem com bons olhos a instalação desta estrutura importantíssima no apoio aos adictos, nomeadamente toxicodependentes e alcoólicos, aos sem-abrigo e prostitutas. Ou seja, já conhecemos a sua opinião generalizada. E a outra parte, os utentes, já alguém se deu ao trabalho de a escutar? Conheço o “João” –vou chamar-lhe assim que ele não se importa- há muitos e muitos anos. Fosse lá por Karma ou por outra coisa qualquer, a verdade é que este rapaz trocou uma vida, aparentemente dita normalizada onde tinha tudo para ser feliz, por outra sem eira nem beira e a dormir onde calha. Encontrei-o à hora do almoço de hoje, terça-feira, junto ao GAT, Gabinete de Apoio a Toxicodependentes, no Terreiro da Erva. Depois do tradicional cumprimento, de supetão, atirei-lhe a pergunta: diz-me lá, João, ao que parece, a Cáritas já reabriu este espaço hoje. O que achas do encerramento?
-Olha meu, encerrar isto é muito mau! Pode ser uma tragédia, um flagelo, “tás” a ver? Pensas que pelo facto de isto fechar o pessoal vai embora? Só pensa assim quem não sabe nada de nós, nem nunca procurou saber. Para eles somos lixo… humano. Não somos gente. Ninguém se importa. Só olham ao seu interesse e nada mais. É aqui que estão os nossos amigos. Há cerca de uma década que frequentamos o GAT. Se persistissem no seu encerramento tudo continuaria igual. É um erro pensar o contrário. Com uma agravante: iria haver muito mais criminalidade e mais mortes. Com isto aberto ainda vão sabendo, mais ou menos, quantos somos, como vivemos e as nossas necessidades. Dão-nos uma palavra de conforto e esperança… “tás” a ver, meu? Encerrar esta coisa é um contra-senso. E numa altura em que as farmácias já não trocam seringas? Consegues imaginar esta zona em redor da Rua Direita toda pejada de agulhas pelo chão? Consegues? Estes gajos são uns tolos, meu! E a Câmara? Não terá nada a dizer? Cá para mim a autarquia, como velejador experiente, limita-se a surfar a onda sem fazer nada pelos danos colaterais.
Durante a manhã fizeram aí uma reunião aberta –agora estão apenas 5 técnicos e vão estar com horário reduzido. Anteriormente eram 8 e, incluindo fins-de-semana, estavam diariamente abertos entre as 9h30 e as 23h00. Até chorei de felicidade, meu! Chorei por ver estas pessoas, que nos tratam bem, outra vez cá. Chorei por aqueles que perderam o emprego –tu conheces-me, sabes que não sou exemplo para ninguém, mas aqui dentro, dentro do peito, bate um  coração, meu! Ao que sei a Cáritas está a fazer um grande esforço para manter isto de portas abertas. Foi dito na reunião que os resultados de uma nova candidatura ainda não saíram. Por isso, ao que entendi, não se sabe muito bem o futuro disto. Como está, está mal, meu! Deveria haver capacidade para prever… não sei se me entendes, meu! Todos os anos é sempre igual. Abrem sempre os concursos de candidatura em cima do encerramento, e é o mesmo no todo nacional. Já viste a insegurança que quem cá trabalha deve sentir? Isto é tudo muito estranho, meu!”

1 comentário:

"João" disse...

Obrigado pelo apoio e pelas palavras de compreensão. Continua a ser uma voz que rema contra a maré e contra a opinião populista.