Há cerca de dois meses que
passámos a vê-lo junto ao Banco de Portugal, no Largo da Portagem, a assar
castanhas num futurista veículo de uma nova vaga e diferente de todos os que
presenciámos até agora.
Quando demos por acabadas muitas
profissões em vias de desaparecimento, numa lição para todo este progresso
desenfreado, eis que, como Fénix renascida das cinzas, aí estão elas a reconquistar
o seu território perdido. As crises têm estas coisas boas, obrigam-nos a olhar
para o passado e a procurar instrumentos empurrados para as calendas do tempo.
O nosso novo vizinho chama-se Miguel
Louro. É da Figueira da Foz e todos os dias percorre a distância entre o mar e
este porto de abrigo que é a cidade de Coimbra. Era Radiologista Industrial, uma
espécie de apóstolo contra o pecado nas soldaduras de tubos na indústria. Como
nasceu e cresceu a ouvir a família, lá em casa, a falar de pipocas, gelados,
tremoços, pistácios e castanhas assadas, sempre teve um carinho especial por
este género de venda ambulante. Quando a sua profissão começou a falhar, em
solilóquio, disse para si mesmo: “nem é tarde nem é cedo, é a hora, Miguel!”.
Desenhou e mandou construir o novo modelo de assar castanhas. Mesmo sem alterações,
custou-lhe cerca de 3000 euros. Quando foi com o veículo à Inspecção Sanitária
nem queriam acreditar no que estava patente: nunca tinham visto nada assim. “Por
cá, no país, não há nada como isto”, enfatiza com orgulho de projectista
inovador.
1 comentário:
Muito bom! O país precisa de mais pessoas assim, dinâmicas e empreendedoras. Parabéns Miguel
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