(Foto da Web)
"Os macacos são muito gregários, a
ponto de coçarem mutuamente os piolhos.
Viver na Baixa é como
experienciar viver numa ilha, num gueto, num sítio perdido... e em decadência,
ambiental e pessoal. Um pequeno pesadelo. Claro que ainda não andamos a coçar
os piolhos uns dos outros, mas vivemos acotovelados de tal maneira, que, se nos
apetecer, temos muita facilidade em macaquear a vida uns dos outros.
O que se pode conseguir de mil e
uma maneiras... como as receitas de bacalhau anunciadas e feitas imagem de
sonho ou delírio. Podemos fazê-lo pelo falar, pelas atitudes, pelos costumes
ditos tradicionais e... pela estupidez.
Uma das tantas maneiras com que
conseguimos macaquear os outros, com alguma vantagem adiante das outras. Recebendo
em troca quem exercita este "ponto negro humano", a mesma quantidade
e qualidade daquela que oferece. É uma lei básica dos movimentos estelares, celestiais
e universais: quem semeia ventos, colhe tempestades.
Isto para dizer que há pouco ou
nenhum respeito por quem vive na Baixa de Coimbra. Já bastam os entulhos
aglomerados em formas físicas ordenadas, a que se chamam habitações para, ainda
por cima, aglomerar uma espécie de população de baixos recursos a vários
níveis. São os que teimam em ficar, mesmo involuntariamente... e se sujeitam a
condições de habitabilidade muito manhosas.
Nem há, nem nunca houve, o
cuidado de preservar a necessidade de silêncio que todo, e sem excepção, o ser
humano precisa. Parece assunto sem monta ao qual todos fecham os olhos, mas
seguem vivendo as suas vidas acompanhando simultaneamente a degradação do
ambiente envolvente.
Toda esta amálgama produz um
meio-ambiente com efeitos negativos sobre as pessoas que pela Baixa se resignam
a suportar esses efeitos... como se de uma coisa natural se tratasse. Mas, conforme
o tempo passa - o tal que tudo resolve -, as pessoas assumem o aspecto de
fantasmas que por aqui deambulam, sem esperança, nem motivação.
Nada, nesta Baixa, foi pensado
para proporcionar às pessoas uma réstia de bem-estar. Quando até os macacos
escolhem a melhor árvore para se acotovelarem a caçar piolhos em regime de
mutualidade. Mutualidade, associativismo e cooperativismo, são os caminhos
talvez a seguir em oposição ao individualismo, prepotência e arrogância... aqui
na Baixa expressa na quantidade de "ares condicionados" que
proliferam como cogumelos nas paredes de todo o tugúrio. Dirão: é o progresso e
quem está mal mude-se!
Evidentemente que quem está mal
muda-se, mas também quem provoca o mal-estar dos outros se deve mudar e para
bem longe...
A Baixa de Coimbra é incompatível
com comércio e habitação. Ou pela fragilidade das construções em que muita
gente habita, obviamente, ou pela ausência de protecção contra ruídos nas
mesmas habitações em que por vezes se é quase que como "obrigado" a viver.
Afinal, a vida de uma pessoa não é itinerante, e em algum sítio tem de morar. Mas,
não sujeitar-se... e reclamar contra o ruído que é produzido num ambiente já
ele próprio muito degradado, que não necessita de banda sonora.
Que, no fundo, se resume a tocata
desafinada de "ares condicionados", motores de refrigeração, vozearia,
gritaria... e falta de respeito pelo OUTRO.
Muito obrigado. Se puderem gritar
um pouco menos e começarem a pensar em painéis solares... por exemplo.
Afinal, quem muda o mundo são os
doidos... e pode parecer uma doidice exigir mais quietude e silêncio. Quando
sou eu o interessado, mudo-me!
Obrigado pelo conselho... Até
parece que em meu redor nada precisa de ser mudado!!"
JOSÉ XAVIER NUNES
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