segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

VIVER... NA BAIXA

(Foto da Web)

"Os macacos são muito gregários, a ponto de coçarem mutuamente os piolhos.
Viver na Baixa é como experienciar viver numa ilha, num gueto, num sítio perdido... e em decadência, ambiental e pessoal. Um pequeno pesadelo. Claro que ainda não andamos a coçar os piolhos uns dos outros, mas vivemos acotovelados de tal maneira, que, se nos apetecer, temos muita facilidade em macaquear a vida uns dos outros.
O que se pode conseguir de mil e uma maneiras... como as receitas de bacalhau anunciadas e feitas imagem de sonho ou delírio. Podemos fazê-lo pelo falar, pelas atitudes, pelos costumes ditos tradicionais e... pela estupidez.
Uma das tantas maneiras com que conseguimos macaquear os outros, com alguma vantagem adiante das outras. Recebendo em troca quem exercita este "ponto negro humano", a mesma quantidade e qualidade daquela que oferece. É uma lei básica dos movimentos estelares, celestiais e universais: quem semeia ventos, colhe tempestades.
Isto para dizer que há pouco ou nenhum respeito por quem vive na Baixa de Coimbra. Já bastam os entulhos aglomerados em formas físicas ordenadas, a que se chamam habitações para, ainda por cima, aglomerar uma espécie de população de baixos recursos a vários níveis. São os que teimam em ficar, mesmo involuntariamente... e se sujeitam a condições  de habitabilidade muito manhosas.
Nem há, nem nunca houve, o cuidado de preservar a necessidade de silêncio que todo, e sem excepção, o ser humano precisa. Parece assunto sem monta ao qual todos fecham os olhos, mas seguem vivendo as suas vidas acompanhando simultaneamente a degradação do ambiente envolvente.
Toda esta amálgama produz um meio-ambiente com efeitos negativos sobre as pessoas que pela Baixa se resignam a suportar esses efeitos... como se de uma coisa natural se tratasse. Mas, conforme o tempo passa - o tal que tudo resolve -, as pessoas assumem o aspecto de fantasmas que por aqui deambulam, sem esperança, nem motivação.
Nada, nesta Baixa, foi pensado para proporcionar às pessoas uma réstia de bem-estar. Quando até os macacos escolhem a melhor árvore para se acotovelarem a caçar piolhos em regime de mutualidade. Mutualidade, associativismo e cooperativismo, são os caminhos talvez a seguir em oposição ao individualismo, prepotência e arrogância... aqui na Baixa expressa na quantidade de "ares condicionados" que proliferam como cogumelos nas paredes de todo o tugúrio. Dirão: é o progresso e quem está mal mude-se!
Evidentemente que quem está mal muda-se, mas também quem provoca o mal-estar dos outros se deve mudar e para bem longe...
A Baixa de Coimbra é incompatível com comércio e habitação. Ou pela fragilidade das construções em que muita gente habita, obviamente, ou pela ausência de protecção contra ruídos nas mesmas habitações em que por vezes se é quase que como "obrigado" a viver. Afinal, a vida de uma pessoa não é itinerante, e em algum sítio tem de morar. Mas, não sujeitar-se... e reclamar contra o ruído que é produzido num ambiente já ele próprio muito degradado, que não necessita de banda sonora.
Que, no fundo, se resume a tocata desafinada de "ares condicionados", motores de refrigeração, vozearia, gritaria... e falta de respeito pelo OUTRO.
Muito obrigado. Se puderem gritar um pouco menos e começarem a pensar em painéis solares... por exemplo.
Afinal, quem muda o mundo são os doidos... e pode parecer uma doidice exigir mais quietude e silêncio. Quando sou eu o interessado, mudo-me!
Obrigado pelo conselho... Até parece que em meu redor nada precisa de ser mudado!!"

JOSÉ XAVIER NUNES


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