terça-feira, 22 de janeiro de 2013

QUANTO VALE UM SORRISO DE FELICIDADE?



 Poderia começar exactamente pelo título: quanto vale o sorriso de felicidade do Luís Cortês, depois de já ter adquirido um órgão, dos mais baratos, e assim poder trabalhar novamente junto à Loja do Cidadão? Naturalmente que tem um preço: uma hora a tocar na Rua Visconde da Luz, que rendeu 90,00 euros, e que assim tornou possível aquele rosto iluminado -lembro que no Sábado o temporal arremessou a sua "enxada" de labor ao chão e escaqueirou-a completamente. Por isso mesmo, hoje, realizámos esta prestação em forma de peditório.
Foi penoso? Para mim, não! Faço isto com grande naturalidade. Não me custa pedir para os outros –para mim é que é mais complicado. É interessante analisar esta jornada sob vários aspectos. Um deles, e primeiro, é o facto de todos os componentes da denominada “Orquestra de Músicos de Rua de Coimbra”, mesmo com sacrifício, porque todos são necessitados, abdicarem de um tempo que seria traduzido em umas moedas em proveito próprio para ajudarem um colega em grandes dificuldades. É ou não bonito? Continuando, depois, quando se trata de ajudar outro, há sempre alguém disponível para o fazer. Repare-se nisto: o Paolo Vasil costuma guardar o acordeão numa loja da Rua Ferreira Borges. Hoje, não se sabe a razão, o estabelecimento não abriu. Preocupado, o Vasil veio ter comigo logo de manhã e no seu “pretoguês arromenado” manifestou a sua apreensão: “sinhor” Luís, não ter instrumento “p’a” tocar. “Sinhora” “n’brir” loja”. Como conheço bem o senhor Olímpio, da casa de música Olímpio Medina, um pouco inibido, assim no género do Egas Moniz com baraço, lá fui eu para fazer-lhe uma proposta (in)decente): pedir um acordeão emprestado. E o bom do senhor Olímpio, que já me conhece e sabe que sou uma grande carraça, lá mandou buscar ao armazém um instrumento usado e emprestou-o ao Paolo para que ele pudesse tocar. A seguir temos as coincidências a funcionar. Estava prometida chuva forte para a tarde. Pois vejam a sorte, o acaso, ou outra coisa qualquer, acabamos de tocar às 14h40. Passados cinco minutos ferrou-se o céu de cinzento e começou a chover a potes e a trovejar, que nem Santa Bárbara nos valeu. É claro que poderemos sempre pensar que foi São Pedro a querer agradar. Sei lá, talvez carregado de culpa de nos últimos dias nos ter castigado de forma injusta. Fosse por isso, ou não, a verdade é que o santo portou-se bem e foi também graças às suas boas graças que se conseguiu em uma hora juntar 90,00 euros –evita de estar com ideias, a pensar que vale mais deixar o seu trabalho e ir para a rua pedir. Não, não faça isso. Deu para ver que as pessoas estão cansadas de dar dinheiro. Todo o mundo pede. Mesmo assim, dentro da conjuntura, conseguiu-se esta verba graças também à Celeste Correia que –para além de ter pedido troca lá no seu serviço para poder colaborar-, largando o que gosta tanto de fazer que é cantar, saltou para o meio da rua e, como se fosse para ela, instigava os transeuntes a comparticiparem. Foi bonito de ver e sentir esta cooperação. Muito obrigado a todos. Não queremos parecer armados em salvadores do mundo. Nada disso. Mas, como alguém disse um dia, se tornarmos alguém próximo de nós feliz estamos a tornar o mundo melhor. Hoje, todos juntos, fizemos isso. Bem-haja a todos.

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