Poderia começar exactamente pelo
título: quanto vale o sorriso de felicidade do Luís Cortês, depois de já ter
adquirido um órgão, dos mais baratos, e assim poder trabalhar novamente junto à
Loja do Cidadão? Naturalmente que tem um preço: uma hora a tocar na Rua
Visconde da Luz, que rendeu 90,00 euros, e que assim tornou possível aquele
rosto iluminado -lembro que no Sábado o temporal arremessou a sua "enxada" de labor ao chão e escaqueirou-a completamente. Por isso mesmo, hoje, realizámos esta prestação em forma de peditório.
Foi penoso? Para mim, não! Faço
isto com grande naturalidade. Não me custa pedir para os outros –para mim é que
é mais complicado. É interessante analisar esta jornada sob vários aspectos. Um
deles, e primeiro, é o facto de todos os componentes da denominada “Orquestra
de Músicos de Rua de Coimbra”, mesmo com sacrifício, porque todos são
necessitados, abdicarem de um tempo que seria traduzido em umas moedas em
proveito próprio para ajudarem um colega em grandes dificuldades. É ou não
bonito? Continuando, depois, quando se trata de ajudar outro, há sempre alguém
disponível para o fazer. Repare-se nisto: o Paolo Vasil costuma guardar o
acordeão numa loja da Rua Ferreira Borges. Hoje, não se sabe a razão, o
estabelecimento não abriu. Preocupado, o Vasil veio ter comigo logo de manhã e
no seu “pretoguês arromenado” manifestou a sua apreensão: “sinhor” Luís, não
ter instrumento “p’a” tocar. “Sinhora” “n’brir” loja”. Como conheço bem o senhor
Olímpio, da casa de música Olímpio Medina, um pouco inibido, assim no género do
Egas Moniz com baraço, lá fui eu para fazer-lhe uma proposta (in)decente):
pedir um acordeão emprestado. E o bom do senhor Olímpio, que já me conhece e
sabe que sou uma grande carraça, lá mandou buscar ao armazém um instrumento
usado e emprestou-o ao Paolo para que ele pudesse tocar. A seguir temos as
coincidências a funcionar. Estava prometida chuva forte para a tarde. Pois
vejam a sorte, o acaso, ou outra coisa qualquer, acabamos de tocar às 14h40. Passados
cinco minutos ferrou-se o céu de cinzento e começou a chover a potes e a trovejar,
que nem Santa Bárbara nos valeu. É claro que poderemos sempre pensar que foi
São Pedro a querer agradar. Sei lá, talvez carregado de culpa de nos últimos
dias nos ter castigado de forma injusta. Fosse por isso, ou não, a verdade é
que o santo portou-se bem e foi também graças às suas boas graças que se
conseguiu em uma hora juntar 90,00 euros –evita de estar com ideias, a pensar
que vale mais deixar o seu trabalho e ir para a rua pedir. Não, não faça isso.
Deu para ver que as pessoas estão cansadas de dar dinheiro. Todo o mundo pede.
Mesmo assim, dentro da conjuntura, conseguiu-se esta verba graças também à Celeste
Correia que –para além de ter pedido troca lá no seu serviço para poder
colaborar-, largando o que gosta tanto de fazer que é cantar, saltou para o
meio da rua e, como se fosse para ela, instigava os transeuntes a
comparticiparem. Foi bonito de ver e sentir esta cooperação. Muito obrigado a todos.
Não queremos parecer armados em salvadores do mundo. Nada disso. Mas, como
alguém disse um dia, se tornarmos alguém próximo de nós feliz estamos a tornar
o mundo melhor. Hoje, todos juntos, fizemos isso. Bem-haja a todos.
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