Olhando os olhos daquele pequeno
corpo de pouco mais de metro e meio, apesar de agora estarem profundamente
tristes, dá para ver que por uma estrela se apagar não significa que outras não
comecem a brilhar. Susana Lopes tem 36 anos de idade. Há muitas décadas que os
seus pais detêm um negócio de artesanato em Arrotéia, na Redinha, Pombal. Desde
criança lhe incutiram que é preciso procurar novos mares quando a pesca rareia.
Foi assim que em Agosto de 2008, juntamente com seu marido, abriu a loja de
artesanato “típico ’Art”, na Praça do Comércio. Com uma renda mensal de 900
euros nessa altura até conseguia levar o barco a bom porto. Os problemas
começaram quando o mar se encapelou e um “tsunami”, de crise arrasadora, varreu
toda a costa europeia e, mais concretamente, o nosso país. A sua jangada de
pedra, a sua loja, começou a meter água, como quem diz, começou a não aguentar
tanto peso de despesas. Com o negócio a cair a pique falou com a proprietária e
esta baixou-lhe a renda para 750 euros. Cortando aqui, encurtando acolá, foi
aguentando até que deu. Tentou tudo para não se deixar vencer pelas
circunstâncias de contra-ciclo. Fez feiras de artesanato, fez parte de outras
mostras, esteve no Dolce Vita durante quinze dias. Lá, neste centro comercial,
contrariamente a esta zona velha, notou que o público tem poder de compra, mas,
como a sua intenção era chamar clientes para o seu estabelecimento na Baixa,
acabou por ver gorado o seu plano e encerrou no fim do ano.
Antes de claudicar, tentou
sensibilizar a senhoria para, mais uma vez, lhe baixar a renda. Esta não anuiu.
Argumentou que tinha outras muito antigas em que lhe pagavam uma ninharia. “Que
culpa tenho eu disso?” -questiona a Susana. “Não quer baixar, paciência! Vou-me
embora. E quanto antes! Vou fazer uma exposição na Redinha, junto à estrada
Nacional 1, e vou à luta. Saio bem desta experiência. Os clientes da Baixa são
de excelente qualidade. Fiz muitas amizades. Deixo cá muitos amigos. Muito
obrigado a quantos nestes anos foram meus fregueses. Do fundo do coração,
bem-haja a todos.
Por parte dos colegas
comerciantes, lamento dizê-lo, não levo saudades, são egoístas de mais para a minha
forma de ser e no que fui educada. Não têm noção de que precisam do vizinho;
são demasiado individualistas. Há muita inveja entre eles. Hoje, que estou de
partida, interrogo-me: se a vida é um fôlego entre o pôr-do-sol e o amanhecer,
por que são assim?"
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