segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

CARTA-RESPOSTA À MEDINFORMA


 Minha cara Medinforma, espero que esteja bem de saúde que eu por cá, na graça de Nosso Senhor Jesus Cristo, vou andando, assim assim, graças a Deus. Se não levares a mal, vou tratar-te por tu, é mais fácil, e coloca-nos mais terra-a-terra. Esclareço também que, como não assinas a missiva, suponho que o teu nome é mesmo Medinforma e, por isso mesmo, vou chamar-te pelo diminutivo “Med” –é certo que não sei se serás homem ou mulher, pela pronúncia deves ser mulher, e parto desse princípio, mas, para o caso, também não interessa nada.
Começo por te congratular pela carta que me escreveste, Med. Tão querida! Logo a abrir agradeces-me o facto de ter sido assinante da Revista C ao longo de dois anos. Ora, ora, por quem és, Med. Eu é que agradeço.
A seguir, no parágrafo seguinte, contas que “ como é, certamente, do seu conhecimento, a sociedade em geral e, muito particularmente, a imprensa, atravessa um período muito tenso em que somado às dificuldades (…) soma-se, agora, o medo e o receio nos investimentos por parte dos investidores em imprensa”. Ai sim, Med? Não sabia que estava a acontecer esta calamidade na imprensa.  Juro-te, pela alminha de alguém que me foi muito querido enquanto andou por cá, que não sabia. Ai, Med?! Nossa Senhora da Conceição, padroeira de todos os infelizes lusos nos valha! Estás a ser tão dramática! Até estou a fazer o sinal da cruz.
A seguir contas-me que “Assim, e após uma profunda análise dos pressupostos económicos para 2013, decidiu a Beirastexto, SA –não conheço, mas suponho que seja a tua mãe- (…) pela suspensão da publicação do título da Revista C (…), fruto de uma estratégia de concentração dos seus activos em áreas de mercado financeiramente mais sólidas”.  Obrigada, Med, por estares a confidenciar-me estas coisas. Estou muito contente que, por uma questão de “estratégia de concentração dos seus activos em áreas de mercado financeiramente mãos sólidas”, interrompesses a publicação da revista. Entendo perfeitamente, Med. Aliás, nem precisavas de me comunicar que me estavas a lixar os 50 euros da assinatura. Ora, ora! Isso é para nós? Já quando passaste a tua publicação de semanal para bimensal eu até aplaudi. Palavra! Disse cá com os meus botões, ainda bem que contratualizaram uma coisa comigo e agora, unilateralmente, alteraram os pressupostos. Deve ser para poupar papel e eu, como contribuinte líquido, sinto-me muito honrado em poder participar. Fiquei com muita alegria. Eu seja ceguinho, Med!
Com esse teu ar humilde, continuas: “Esta suspensão dos títulos de imprensa entrou em vigor já em janeiro de 2013, motivo pelo qual não tem recebido quaisquer exemplares da Revista C”. Ai, Med, fogo, com essa tua languidez de leite-creme até me fazes derreter todo! Obrigada! Obrigada, minha amiga! Calculo a dificuldade com que deves ter escrito esta confissão. Imagino, querida. Mas não precisavas. Podias ter evitado tudo isto, e transcrevias uma mensagem curta assim no género: “gosto de você; amo você! Por isso mesmo te forniquei os 50 euros –assim na linha brasileira, adocicada e melosa, não sei se estás a ver a coisa!?!
Oh, Med, gostei tanto da tua cartita que não resisto a transcrevê-la parágrafo a parágrafo –desculpa chamar-lhe cartita, não leves a mal, isto é um tratado de malandrice. Deveria ser elevado aos píncaros da genialidade, da esperteza saloia. Espectacular! Estou sem palavras!
Continuas tu, “Gostaríamos de apontar um prazo para a retoma da publicação da revista mas, em verdade, não o podemos fazer”. Desculpa lá, Med, deixaste-me confuso com esta frase, mas deixa para lá! Às vezes falta-me massa cinzenta para alcançar certos palavreados.
Continuas, “Apenas garantimos que a sua assinatura se encontra activa” –ai sim, Med? Andas a ler muito La Palisse, já vi!-, “e que quando houver lugar à retoma da publicação da Revista C, tomaremos a liberdade de enviar os números em falta até à renovação da mesma”. Ora, lá estás tu outra vez a derreter-te toda, rapariga! Deixa lá isso, porra! Fica lá com as revistas todas! Sei lá, sempre podem fazer jeito para limpar o… vidro traseiro do automóvel, carago! O que é que eu não faço por ti?!
Adoro a tua prosa, Med. Juro! Nunca na minha vida fui tão subtilmente enganado e continuo a sorrir. Tens mesmo lábia, mulher! Dizes tu, “Conte connosco para uma resolução breve desta questão. Contamos consigo para num futuro, que desejamos próximo, nos continue a preferir”. É claro, Med. Conta sempre comigo. No que eu puder ajudar, já sabes. Faz-me é um favor: não me batas mais à porta. Pode ser? Podes até ficar com os 50 euritos e com as minhas meiguices. Não há problema. Eu quero lá saber?! Nem fico nada chateado. Até porque sei que é por uma boa causa. Tu precisas da minha ajuda, não é Med? Estás em dificuldades. Se calhar, vais chamar-me estúpido mas, desculpa lá, contratos contigo não quero mais. Se calhar não me vais entender. Mas é assim: até sou meio parvo, mas não gosto de passar por otário duas vezes. É mania, bem sei. Que mal faz um homem ser passado na perna por uma mulher? Quem nunca foi que coloque o dedo no ar.
Despeço-me com muito amor e carinho. Beijinhos aos meninos e um afagar de pelo ao Pompom. Continua sempre em frente, Med. Estás no bom caminho.
Do teu admirador:
Luís Fernandes

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