Minha cara Medinforma, espero que
esteja bem de saúde que eu por cá, na graça de Nosso Senhor Jesus Cristo, vou
andando, assim assim, graças a Deus. Se não levares a mal, vou tratar-te por
tu, é mais fácil, e coloca-nos mais terra-a-terra. Esclareço também que, como
não assinas a missiva, suponho que o teu nome é mesmo Medinforma e, por isso
mesmo, vou chamar-te pelo diminutivo “Med” –é certo que não sei se serás homem
ou mulher, pela pronúncia deves ser mulher, e parto desse princípio, mas, para
o caso, também não interessa nada.
Começo por te congratular pela carta
que me escreveste, Med. Tão querida! Logo a abrir agradeces-me o facto de ter
sido assinante da Revista C ao longo de dois anos. Ora, ora, por quem és, Med.
Eu é que agradeço.
A seguir, no parágrafo seguinte,
contas que “ como é, certamente, do seu conhecimento, a sociedade em geral e,
muito particularmente, a imprensa, atravessa um período muito tenso em que
somado às dificuldades (…) soma-se, agora, o medo e o receio nos investimentos
por parte dos investidores em imprensa”. Ai sim, Med? Não sabia que estava a
acontecer esta calamidade na imprensa.
Juro-te, pela alminha de alguém que me foi muito querido enquanto andou
por cá, que não sabia. Ai, Med?! Nossa Senhora da Conceição, padroeira de todos
os infelizes lusos nos valha! Estás a ser tão dramática! Até estou a fazer o
sinal da cruz.
A seguir contas-me que “Assim, e
após uma profunda análise dos pressupostos económicos para 2013, decidiu a
Beirastexto, SA –não conheço, mas suponho que seja a tua mãe- (…) pela
suspensão da publicação do título da Revista C (…), fruto de uma estratégia de
concentração dos seus activos em áreas de mercado financeiramente mais sólidas”. Obrigada, Med, por estares a confidenciar-me
estas coisas. Estou muito contente que, por uma questão de “estratégia de
concentração dos seus activos em áreas de mercado financeiramente mãos sólidas”,
interrompesses a publicação da revista. Entendo perfeitamente, Med. Aliás, nem
precisavas de me comunicar que me estavas a lixar os 50 euros da assinatura.
Ora, ora! Isso é para nós? Já quando passaste a tua publicação de semanal para
bimensal eu até aplaudi. Palavra! Disse cá com os meus botões, ainda bem que contratualizaram
uma coisa comigo e agora, unilateralmente, alteraram os pressupostos. Deve ser
para poupar papel e eu, como contribuinte líquido, sinto-me muito honrado em
poder participar. Fiquei com muita alegria. Eu seja ceguinho, Med!
Com esse teu ar humilde,
continuas: “Esta suspensão dos títulos de imprensa entrou em vigor já em
janeiro de 2013, motivo pelo qual não tem recebido quaisquer exemplares da
Revista C”. Ai, Med, fogo, com essa tua languidez de leite-creme até me fazes
derreter todo! Obrigada! Obrigada, minha amiga! Calculo a dificuldade com que
deves ter escrito esta confissão. Imagino, querida. Mas não precisavas. Podias
ter evitado tudo isto, e transcrevias uma mensagem curta assim no género: “gosto
de você; amo você! Por isso mesmo te forniquei os 50 euros –assim na linha brasileira, adocicada e melosa, não sei se estás a ver a coisa!?!
Oh, Med, gostei tanto da tua
cartita que não resisto a transcrevê-la parágrafo a parágrafo –desculpa chamar-lhe
cartita, não leves a mal, isto é um tratado de malandrice. Deveria ser elevado
aos píncaros da genialidade, da esperteza saloia. Espectacular! Estou sem palavras!
Continuas tu, “Gostaríamos de
apontar um prazo para a retoma da publicação da revista mas, em verdade, não o
podemos fazer”. Desculpa lá, Med, deixaste-me confuso com esta frase, mas deixa
para lá! Às vezes falta-me massa cinzenta para alcançar certos palavreados.
Continuas, “Apenas garantimos que
a sua assinatura se encontra activa” –ai sim, Med? Andas a ler muito La
Palisse, já vi!-, “e que quando houver lugar à retoma da publicação da Revista
C, tomaremos a liberdade de enviar os números em falta até à renovação da mesma”.
Ora, lá estás tu outra vez a derreter-te toda, rapariga! Deixa lá isso, porra! Fica
lá com as revistas todas! Sei lá, sempre podem fazer jeito para limpar o… vidro
traseiro do automóvel, carago! O que é que eu não faço por ti?!
Adoro a tua prosa, Med. Juro!
Nunca na minha vida fui tão subtilmente enganado e continuo a sorrir. Tens
mesmo lábia, mulher! Dizes tu, “Conte connosco para uma resolução breve desta
questão. Contamos consigo para num futuro, que desejamos próximo, nos continue
a preferir”. É claro, Med. Conta sempre comigo. No que eu puder ajudar, já
sabes. Faz-me é um favor: não me batas mais à porta. Pode ser? Podes até ficar
com os 50 euritos e com as minhas meiguices. Não há problema. Eu quero lá saber?! Nem fico nada
chateado. Até porque sei que é por uma boa causa. Tu precisas da minha ajuda,
não é Med? Estás em dificuldades. Se calhar, vais chamar-me estúpido mas,
desculpa lá, contratos contigo não quero mais. Se calhar não me vais entender.
Mas é assim: até sou meio parvo, mas não gosto de passar por otário duas vezes.
É mania, bem sei. Que mal faz um homem ser passado na perna por uma mulher?
Quem nunca foi que coloque o dedo no ar.
Despeço-me com muito amor e
carinho. Beijinhos aos meninos e um afagar de pelo ao Pompom. Continua sempre
em frente, Med. Estás no bom caminho.
Do teu admirador:
Luís Fernandes
Sem comentários:
Enviar um comentário