Quem faz o favor de ler o que
escrevo, certamente já se apercebeu que nos últimos tempos ando muito sério. Se
você, meu leitor querido, anda preocupado comigo, pode crer: até eu. Confesso
que, em catarse, dou por mim a falar sozinho e a interrogar: então, Toino, meu
rapaz, o que é que se passa contigo, homem de Deus, que andas tão acabrunhado?
Ficam a saber que esta parte de mim nunca dá resposta. Sei lá, às tantas terá a
ver com a crise que até nos rebenta com a boa disposição. Juro pela minha mãezinha,
que Deus tem e a guarde muitos anos sem mim, que não tenho nada contra o
Governo. Quer dizer, para ser mais claro, nunca falei com esta entidade, jamais
lhe mandei um piropo, nem ninguém mo apresentou. Por outras palavras, não
percebo porque não me larga a braguilha. Isto é assédio, carago! Sendo justo, como
sói dizer-se, é a mim e aos outros. Uma pessoa vai na rua descansada e vira-se
para um casal de velhotes simpáticos e ouve: “este Governo assim, este Governo
assado!". Vai ao café para beber uma bica descansado e na mesa do lado esquerdo
está uma família completa a fazer um plenário e a desancar no executivo; no
lado direito está um gajo só, a falar sozinho contra “esses filhos de uma mãe
que me dão cabo da vida!”.
Falando com sinceridade, tenho
saudades de outros tempos quando a malta discutia futebol, ou, sei lá, passava
uma boazona e os olhares masculinos, divididos entre as suas mamas e as belas pernas,
como canibais, todos convergiam no corpo da rapariga e a queriam comer com os
olhos. Agora não, qualquer mulher por melhor que seja até pode apresentar-se
nua à assistência que já ninguém reage. Eu cá não sei, mas isto para qualquer “bela
dona” deve ser uma tragédia. Nem quero pensar o que é, de um momento para o
outro, sentir cair a procura da cobiça a pique. Vamos lá ver, cá com os meus botões,
é a natureza no seu supremo desígnio, com a sua mãozinha invisível, a
equilibrar as coisas. Porque isto no último século foi um regabofe. Não sei se
me faço entender, mas foi aquelas ondas feministas dos anos de 1960; foi toda aquela
legislação esparsa para a equivalência de género. E um homem, que não é de pau,
habituado a ser o maior da cantareira lá em casa –bastava um piscar de olho e,
incluindo o gato, o cão e o pássaro na gaiola, ficavam todos em silêncio-,
progressivamente sente-se um fidalgote falido e sem título. Nos últimos tempos,
mesmo que grite a plenos pulmões, lá em casa e arredores ninguém liga. E
portanto, perante este ostracismo, é óbvio que o “macho” entre em guerra
generalizada com a prole. Mas isto não era de prever? É lógico! Não é por acaso
que sempre se comparou a mulher a uma flor. Basta lembrar que a “beladona”
(planta) é altamente tóxica para o homem. Pensam que estou a inventar? Isso é
que era bom! Sou muito sério, porra! Olhe aqui esta transcrição: “A Beladona é
bastante vendida em Portugal, apesar do bolbo da planta ser altamente tóxico
para o Homem e para os animais. O seu princípio activo é a Licorina Acetil
Caramina Ambelina, e a ingestão de qualquer parte do bolbo provoca distúrbios
gastro-intestinais. Se ingerido em doses altas, provoca mesmo a paragem
cardíaca. Da flor emana um perfume tão intenso que é também frequente provocar
dores de cabeça às pessoas mais sensíveis”. É ou não é? Já se desconfiava que a
ingestão em doses altas do bolbo (por analogia, leia-se vulva que deve ser a mesma
coisa) poderia provocar a morte de um qualquer pobre homem. Está aqui a prova
de que o perfume intenso da “beladona” provoca dores de cabeça. Em suma, esta
quebra na procura de interesse pela beleza feminina até vem a calhar.
Sem ser intencional, foi por
danos colaterais, o Governo até contribuiu para uma desejável desigualdade
perdida. E, valha-lhe isso, não foi pelo lado sancionatório fiscal, o que é uma
admiração. Imagine-se, por exemplo, que, neste obsessivo catar de receita, a
Coligação, liderada pelo Ministro das Finanças, Vitor Gaspar, acordava de manhã
num dia destes e, frustrado pela inclinação constante do gráfico, exclamava: “vamos
criar um imposto especial sobre a prática sexual!”. Presuntivamente, calculando
as “berlaitadas” para cada escalão etário –que até é muito fácil pelas
estatísticas que volta e meia aparecem na imprensa- estávamos todos tramados. Ou
talvez não, porque, como escrevi em cima, as coisas já não são o que eram, se é
que alguma vez o foram. Agora já nem com aquecimento lá se vai. Anda tudo frio como
um glaciar. Ou pensando melhor, quem estavam mesmo lixadas eram as mulheres,
porque os homens há muito que só vêem a crise à frente. Vivem com ela no
dia-a-dia; deitam-se e sonham com a desgraçada em pesadelo. Não quero ser
má-língua, mas tenho cá para mim que, por este andar e de aqui para a frente,
qualquer mulher que queira engravidar tem de ir ter com o Governo. Não é querer
ser especulativo, mas a ministra Assunção Cristas o que é que fez para ter mais
uma criança? Isso mesmo: foi para o Governo. Ou seja, em silogismo, poderemos tirar
várias ilações, mas vou focar apenas uma, é que afinal o Governo é mesmo
democrata: tanto fornica o português médio como até as suas ministras. Isto é
elementar. É ou não é? Pois é, mas a oposição fala disto? É o falas!
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