Amanhã quinta-feira, sexta e sábado,
entre as 9h30 e as 11h30, a Baixa comercial será inundada de música cantada ao
vivo alusiva à tradição das Janeiras pela denominada “Orquestra de Músicos de
Rua de Coimbra”. Cerca de oito músicos amadores, com letra e música originais,
irão cantar e apelar a todos os frequentadores desta zona de antanho uma
pequena contribuição que os ajude a enfrentar este Novo Ano. Se a crise já
custa a todos, sobretudo os que têm uma vida organizada, imagine-se estas
pessoas pobres com dificuldades cujo sustento e rendimento auferidos provém
apenas da prestação exercida na via pública.
Este evento, que de certo modo
serve para mostrar este conjunto musical ao comércio, vem no seguimento de uma
primeira apresentação que se realizou no Dia de Natal, no Pavilhão de Portugal
e sob a égide e apadrinhamento generoso da presidente da direcção da Orquestra
Clássica do Centro, Emília Martins.
Mas afinal o que é isto, de “Orquestra
de Músicos de Rua de Coimbra”? Em especulação, pareceu-me ouvi-lo interrogar.
Bom, trata-se de uma ideia original –parece-me- de juntar vários músicos que
actuavam na rua isoladamente. Como o mentor deste projecto, que por acaso sou eu,
é também um músico “falhado”, no sentido de que sempre adorou música, e, em
tempo preciso não teve hipótese de poder explanar esta sua vocação, é auto-didacta,
lembrou-se de juntar o útil ao agradável. Isto é, se eu ao longo das últimas
décadas, compondo e musicando largas dezenas de composições, fui gravando
imensos temas que, para além da família, ninguém conhece, por que não
juntarmo-nos todos e mostrarmos o que fazemos? Se eu toco viola e tenho as
músicas –que podem até nem valer um costelo, mas são originais e nunca ninguém
ouviu- se me juntar a outros executantes, instrumentistas e cantores, poderemos
fazer algo de positivo e que a todos dê prazer. Ou seja, numa convergência de
intenções comuns, eu retiro da gaveta as minhas criações, prescindindo de
direitos autorais, e com a ajuda destes músicos, todos juntos, poderemos fazer
um trabalho profícuo. Não é mais do que isto. Há aqui um interesse que atravessa
todos. Não há cá aquele sentimento de “caridadezinha” tão normal e que
aparece sempre por alturas do Natal. Nada disso. Se houver alguma ilação a retirar,
no máximo, é que juntos somos uma “orquestra” e separadamente, individualmente,
não passamos de partículas anónimas na cidade. Ninguém dará por nós. E isso
interessa? Volta você, leitor, a perguntar. Claro que interessa. Quem gosta de
música, que toca um instrumento e compõe, tal como outro qualquer criador, precisa
de mostrar o que faz. O público que aprecia o seu talento, enquanto examinador,
passa a ser a sua reserva de oxigénio que mantém o coração a pulsar.
Naturalmente que este sentimento é transversal a toda a arte; na pintura, na
escultura, na encenação, etc. Sem esta dualidade crítica do público –algumas vezes
injustas e nefastas e que podem condenar ao efémero um talento auspicioso- a
arte dificilmente terá futuro enquanto obra do artista. Sem apreciadores mais
tarde ou mais cedo o criador desistirá de continuar a trabalhar para o “boneco”.
Continua você com a mesma
curiosidade e questiona-me outra vez: “isso quer dizer que você ainda sonha em
ser artista?”. Não senhor. Embora em aforismo filosófico se diga o contrário, “que
estamos sempre a tempo”, no calendário ilusório do fado que está destinado a
cada um, tudo tem um tempo preciso para acontecer. A minha época passou. Se é
certo que para as letras e pintura, por exemplo, a revelação pode sempre ocorrer ao longo da vida, na música não há a mínima hipótese, pelo menos como
executante. Quanto muito, a suceder, só se for na escrita e nada mais.
Como sempre, alonguei-me nas
explicações. No entanto, em suma, em nome de todos os músicos de rua que vão
aparecer amanhã nas artérias do Centro Histórico, se puder, para além de "olhar
com olhos de ver e ouvir", contribua com uma moeda. Obrigado.
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