quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

LEIA O DESPERTAR



LEIA AQUI O DESPERTAR DESTA SEMANA 

Para além  do texto "CUNHA ROCHA ESTEVE NA BAIXA (1)", deixo também as crónicas "ATENÇÃO PEQUENOS COMERCIANTES"; "PARABÉNS A VOCÊ; e  "REFLEXÃO:2013".



CUNHA ROCHA ESTEVE NA BAIXA (1)

 Numa rara oportunidade de contactar com o artista e a sua obra, Cunha Rocha, porventura um dos maiores aguarelistas vivos, filho nascido e criado em Coimbra e adotado pela Figueira da Foz, conjuntamente com a esposa, Isabel Mora, em bijuteria original de peças únicas, tiveram uma exposição aberta ao público na Praça do Comércio.

Já lá vão 80 anos quando, pela primeira vez, na Rua Fernandes Tomás Cunha Rocha gritou a plenos pulmões, quem sabe se a adivinhar a ingratidão dos homens, que no futuro haveriam de cruzar o seu caminho, se a marcar o seu território e a querer dizer que ali estava uma pessoa íntegra, solidária e amiga do seu amigo. Foi no número 34, da antiga Rua das Fangas, que tudo começou. Era ali, naquela casa humilde que a sua mãe, Florinda da Silva Pratas, amassava, cozia e depois vendia, aos cafés Nicola, Central, Briosa e outros, as melhores arrufadas de Coimbra de todos os tempos. Tinha um segredo bem guardado que pelos ditames do destino, infelizmente, se perdeu. A receita foi passada a uma descendente, irmã do pintor de quem falamos, mas aquela viria a sucumbir num trágico acidente de automóvel e com ela a fórmula secreta. A doçaria da cidade nunca mais foi a mesma.
Em 1944, com 12 anos, começou a trabalhar com o Vasco Berardo. A sua primeira exposição foi em 1956, na desaparecida galeria d’O Primeiro de Janeiro, na Rua Ferreira Borges. Nesta altura, assinava “Achor Anhuc”, que era o seu nome invertido, para lhe dar um certo ênfase estrangeiro. Depois rubricou as suas obras com “António Rocha” e só mais tarde passou a marcar todos os seus trabalhos com “Cunha Rocha”, nome que ficaria para sempre gravado para a posteridade. Outras exibições se seguiram neste salão popular de arte. Recorda com saudade este velho espaço perdido tão importante na formação e apresentação de tantos artistas plásticos. Nesses seus começos no mundo da paleta, um dia quando estava n’A Brasileira chegou junto dele um grande vulto das letras na cidade e disse-lhe: “ó António, fui ali ver a tua exposição ao Primeiro de Janeiro. Queres um conselho? Muda de profissão. Com esta, de pintor, não vais longe!” –era Adolfo Rocha, mais conhecido como Miguel Torga, quem, sem escolher as palavras, lhe atirava um banho de água fria. Não se lembra muito bem, mas é possível que as frases duras do médico-escritor, como chicote em esperança de alguém que nasce, o tivessem marcado para sempre. Ao longo da sua vida artística sonhou sempre com o momento de um dia poder vir a provar a Torga que aquele epitáfio mortífero e destruidor estava errado.


Em 1966, já consagrado pintor de artes plásticas, em busca de uma vida melhor, partiu para o Canadá. Depois de nove anos neste país norte-americano foi para o Brasil. Aqui, na ex-colónia portuguesa, o seu mérito artístico viria a ser reconhecido com uma medalha de ouro e outra de prata. Regressou a Coimbra em 1978. Como pedra de toque, mais uma vez A Brasileira marcaria o seu destino. Neste café de grandes tertúlias, numa mesa estava ele, o Rui Pato e o Joaquim Machado, da Livraria Almedina. Às tantas a conversa vira para o nosso artista e o que tencionava fazer futuramente. Cunha Rocha diz que procurava um apartamento na cidade. Diz Machado: “olha lá, tenho uma casa desocupada na Figueira da Foz. Porque não vais para lá gratuitamente? Até me fazias jeito, está encerrada há tanto tempo!”. E, em namoro de ocasião, foi para a cidade-praia onde, na areia, enterrou o coração em promessa de amor eterno. No sentimento que a própria razão desconhece há formas e cores que lhe dão corpo. Nesta cidade é tratado como um filho querido. Sente-se acarinhado como no seio de uma grande família.


E Coimbra, o que é para o pintor? Interrogo em provocação. Cunha Rocha, baixando os olhos como menino simples, não replicou. Como li a nostalgia no seu olhar também não precisava de falar. Em sua vez, como se viesse em socorro do seu grande amor, respondeu a esposa Isabel: “o António, mesmo agora que está doente –tem um edema pulmonar que lhe atrofia as vias respiratórias-, nunca foi de andar ao “beija-mão”. Nunca pediu nada a ninguém para ele. Pede é para os outros. É incapaz de dizer não a alguém. Não se interessa pelos bens materiais. Embrulha-se completamente nas causas sociais. Sente o sofrimento alheio na sua própria alma. É como se o seu espírito “chibata”, residente na zona do Sousa Bastos, de pessoa modesta estivesse sempre presente na sua mente. Tem um coração enorme, este meu admirado e querido pintor!”
Não estaria na altura da cidade reconhecer publicamente a entrega deste artista à causa das artes? Por que não rebatizar o Beco das Cruzes, junto à casa onde nasceu o pintor, de Beco Cunha Rocha?
(CONTINUA NA PRÓXIMA EDIÇÃO)

(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)

ATENÇÃO PEQUENOS COMERCIANTES

 Como se sabe, embora ainda ande muita confusão no ar, a partir do primeiro dia de Janeiro, para todas as transações comerciais –repito, para todas, mesmo de valor irrisório-, é obrigatória a emissão de um documento comprovativo no ato da compra e venda. Necessariamente, no mês seguinte o comerciante terá de enviar para a autoridade tributária o movimento realizado no seu estabelecimento.
Ao que parece, sendo um pequeno operador do “regime simplificado” e com um volume de vendas anual inferior a 100 mil euros, em escolha aleatória, há três meios para estar em conformidade com a lei:

-O primeiro será adquirir um programa certificado para computador –atenção a este pormenor importante da certificação- e, estando ligado à Internet, a comunicação é imediata;

-O segundo é adquirir uma máquina registadora que emita faturas, mas neste caso o comerciante no mês subsequente terá de enviar para as Finanças todo o movimento realizado no mês anterior;

-O terceiro poderá optar pela “Fatura Simplificada” manual. Neste caso terá de, com urgência, mandar fazer numa tipografia vários livros de “Faturas Simplificadas” e sempre que efetue uma venda emite o documento à mão com a descrição do bem. Também neste caso o comerciante se obriga a comunicar no mês seguinte o que movimentou no período mensal antecedente.

Se ainda não optou por qualquer um dos dois sistemas, programa de computador ou máquina registadora, repito, sugiro-lhe que procure uma tipografia e mande fazer um ou dois livros de “faturas simplificadas”. Assim, depois do dia 1 de Janeiro, estará dentro da lei e não terá qualquer problema. Por outro lado, mesmo que opte pela automatização, ter um livro à mão é sempre necessário em caso de avaria, por exemplo. Volto a lembrar que é obrigatório e as anteriores denominadas “Vendas a Dinheiro” já não servem.
Ainda, insistindo, interpretando o espírito da lei, gostava de sublinhar que, para a autoridade fiscal, o que está em causa é a passagem imediata de documento e não a forma da emissão, eletrónica ou manual. Ou seja, quem quiser, uma vez que os equipamentos se encontram esgotados e na pressa os “pintos podem nascer carecas”, até decidir calmamente o que fazer, pode escolher a fatura manual. Não deixe é de o fazer. As coimas são agravadas e podem comprometer o futuro de cada um.


PARABÉNS A VOCÊ

 O pequeno estabelecimento do Luís Duarte está para a Rua das Padeiras como a Igreja de Santa Cruz está para a Praça 8 de Maio. São “instituições” que marcam o sítio em que se inserem. Embora não fosse para falar do negócio, um bocadinho de publicidade nunca fez mal a ninguém, no entanto o que nos traz à colação é o aniversário do Duarte. A semana passada o Luís fez 56 anos. Muitos parabéns! Naturalmente que a efeméride passou desapercebida porque, a partir do meio-século, psicologicamente, a constatação de mais um ano passa a ser um peso na alma, no sentido de que se fica mais velho e próximo do fim, e perde-se a sensação de bem-estar que deveríamos ser tomados pelo facto de estarmos vivos. Apesar desta especulação, o Luís não deixa créditos por mãos alheias e enfatiza que é uma pessoa muito feliz. “Tenho saúde, muitos amigos e uma família maravilhosa, que me dá um apoio extraordinário. Achas que devo pedir mais alguma coisa?”


REFLEXÃO: 2013

 Com a certeza de que o Novo Ano chegou e com ele, naturalmente, muitas nuvens negras, estamos todos de prevenção. Mas, como não há nuvem no céu que sempre dure nem sol na eira que não acabe, tenham a absoluta convicção de que, inevitavelmente, teremos boas abertas para o período que se aproxima embora alternando com temporal. Sempre foi assim ao longo da história do Homem. A Natureza mostra-nos isso mesmo todos os dias, durante todo o ano dividido em quatro estações tão antagónicas ente si. Basta lembrar a diferença entre verão e inverno. Tenhamos esperança no futuro. Não desanimemos. Não baixemos os braços perante a adversidade. Não nos deixemos contagiar pelo nevoeiro envolvente. Lutemos com todas as nossas forças. Pensemos nos nossos pais e avós e na vida difícil que tiveram. Sobreviveram e, a nós filhos  e netos por vezes quase uma dezena, criaram-nos e fizeram mais do que podiam para fazer de nós pessoas de bem. Pela sua memória, lutemos. Esta é a nossa terra. O chão sagrado que viu nascer toda a nossa identidade e sangue lusitano. Batamo-nos por eles e sem pudor. Como mortos antes de morrer, não permitamos que nos enterrem vivos como mostrengos sem valor. Como guerreiros em defesa do seu território, não admitamos que atentem contra a nossa dignidade de alma lusa, demos as mãos aos nossos vizinhos e, todos juntos, defendamos os ideais em que sempre acreditámos. Na hora da tempestade unamo-nos e façamos um círculo contra a desventura do tempo por obra e graça humana. A bonança chegará. Caminhemos em frente, em direção ao horizonte, em busca do Monte de Sião, segundo a Bíblia, a fortificada cidadela de David, a cidade de Deus.





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