segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

O FUTURISTA HOMEM DAS CASTANHAS


 Há cerca de dois meses que passámos a vê-lo junto ao Banco de Portugal, no Largo da Portagem, a assar castanhas num futurista veículo de uma nova vaga e diferente de todos os que presenciámos até agora.
Quando demos por acabadas muitas profissões em vias de desaparecimento, numa lição para todo este progresso desenfreado, eis que, como Fénix renascida das cinzas, aí estão elas a reconquistar o seu território perdido. As crises têm estas coisas boas, obrigam-nos a olhar para o passado e a procurar instrumentos empurrados para as calendas do tempo.
O nosso novo vizinho chama-se Miguel Louro. É da Figueira da Foz e todos os dias percorre a distância entre o mar e este porto de abrigo que é a cidade de Coimbra. Era Radiologista Industrial, uma espécie de apóstolo contra o pecado nas soldaduras de tubos na indústria. Como nasceu e cresceu a ouvir a família, lá em casa, a falar de pipocas, gelados, tremoços, pistácios e castanhas assadas, sempre teve um carinho especial por este género de venda ambulante. Quando a sua profissão começou a falhar, em solilóquio, disse para si mesmo: “nem é tarde nem é cedo, é a hora, Miguel!”. Desenhou e mandou construir o novo modelo de assar castanhas. Mesmo sem alterações, custou-lhe cerca de 3000 euros. Quando foi com o veículo à Inspecção Sanitária nem queriam acreditar no que estava patente: nunca tinham visto nada assim. “Por cá, no país, não há nada como isto”, enfatiza com orgulho de projectista inovador.


1 comentário:

Anónimo disse...

Muito bom! O país precisa de mais pessoas assim, dinâmicas e empreendedoras. Parabéns Miguel