Hoje, em título de “caixa alta”,
o Diário de Coimbra anuncia: “Contentores de roupa são negócio nada solidário”.
Em subtítulo pode ler-se: “estão espalhados pela cidade e a maioria das pessoas
pensa que a roupa ali depositada é para dar a quem precisa. Afinal, a roupa é
para fazer dinheiro. Lucra a empresa e a Câmara Municipal.”
Vamos por partes, e chamando à
colação o pensamento plasmado no periódico pela jornalista Ana Margalho. Falando
por mim, por que raio haveria eu de pensar que as roupas depositadas nos
contentores eram destinadas a quem mais precisa? Por que não haveria eu de
pensar que esta recolha nos contentores serve de plataforma para evitar que
bens de pouco valor económico mas de alta utilidade não devam ser aproveitados
mesmo que, no limite, dê lucro a alguém? Sobretudo a quem investe nos
instrumentos que servem para alcançar os fins de recuperação e evitar que o
destino de bens que a muito boa gente fará jeito seja o lixo. Não é legítimo
que todos ganhem? Ou será mais admissível que se destruam bens em nome de que a
solidariedade é um fim em si mesmo e não um meio para evitar a ruína e a conspurcação
ambiental? Já agora, interrogo, qual a diferença entre um vidrão, que recebe
garrafas de vidro, e um contentor de roupas, que armazena fibras têxteis? O
princípio de recobramento e reutilização não é o mesmo?
Há cerca de três anos fui a uma
reunião do executivo camarário chamar a atenção para o facto de se estarem a
enviar para o entulho bens de elevado valor utilitário e que poderiam fazer
jeito aos mais pobres. Antes de ir à reunião da edilidade fiz uma experiência
interessante. Depositei junto aos contentores diversos bens usados e em pouco
mais de 10 minutos desapareceu tudo.
A minha opinião vale o que vale, por isso
mesmo não posso estar mais em desacordo com esta peça jornalística, que, aliás,
conhecendo a escrita e procedimento da jornalista citada, me parece pouco
objectiva. Certamente estava em dia não. Ou seja, é como se a crónica fosse
escrita em texto de opinião onde o apriorismo, na subjectividade, impera. Se
são precisos exemplos aponto o facto de se fazer referência ao pensamento
comum. Como se este, na sua imaterialidade, em ilação, pudesse servir de tese
fundamentada para declaração real. O grave, a meu ver, é que vivemos numa
sociedade que não se questiona, não pensa, emprenha pelos ouvidos e pelo que vê.
Já hoje aqui na Baixa algumas pessoas me interrogaram assim: “já viu o que está
acontecer com a Câmara Municipal, ao aproveitarem-se das roupas doadas para
ganharem dinheiro?”. A alguns respondi que não é bem assim, mas a verdade é que
a (má) mensagem passou. Contrariando o que é aventado no jornal, nem sequer à edilidade
pode ser imputada a responsabilidade de colocar uma mensagem no contentor a
explicar o fim das roupas usadas. A ser assim, nesse caso, todos os depósitos
de excedentes teriam de apresentar rótulos idênticos.
Gosto muito do Diário de Coimbra,
mas, creio e salvo melhor opinião, este jornal hoje praticou um mau jornalismo.
Executar políticas de recuperação de artigos em desuso, mesmo que dê lucro a
quem o faz –e ainda bem, já que para além da riqueza gerada são mais empregos
criados-, deve ser a substância mesmo que na forma possa parecer algo
controverso. É preciso pesar os dois males, maior e menor, e optar pelo de
menores custos para a colectividade. Penso que aqui não há dúvidas de que,
mesmo sendo sujeito à discussão e escrutínio, se optou pelo melhor. É preciso
colocar uns óculos graduados para ver que assim é?
"Baixa: Assalto ao contentor"
"Lixo: Ensinar para (con)viver melhor"
"Baixa: Os novos miseráveis"
"Neste Natal o que queres, Eduardo?"
"Eduardo olhos de mágoa"
"Eduardo olhos de esperança"
"Carta a uma funcionária pública"
"Lixo: Ensinar para (con)viver melhor"
"Baixa: Os novos miseráveis"
"Neste Natal o que queres, Eduardo?"
"Eduardo olhos de mágoa"
"Eduardo olhos de esperança"
"Carta a uma funcionária pública"
1 comentário:
Acho que se esta a generalizar uma opiniao, injusta e nada saudavel!
Nao resido em Coimbra mas sei que existem outros contentores de Roupa verdes, e outros bejes, esses sim com o simbolo da cruz vermelha! e nesses é que fico sem saber o fim da roupa!
Creio que a Jornalista que visou o negocio de roupa, se esqueceu de publicar que existem duas empresas de recolha de roupa no mesmo municipio, o mesmo é uma barbaridade, chegando a tocar o ridiculo, existindo por vezes dois contentores de roupa diferentes juntos, num aglomerado de contentores que ninguem imagina !
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