sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

EMPRENHAR PELO TÍTULO


 Hoje, em título de “caixa alta”, o Diário de Coimbra anuncia: “Contentores de roupa são negócio nada solidário”. Em subtítulo pode ler-se: “estão espalhados pela cidade e a maioria das pessoas pensa que a roupa ali depositada é para dar a quem precisa. Afinal, a roupa é para fazer dinheiro. Lucra a empresa e a Câmara Municipal.”
Vamos por partes, e chamando à colação o pensamento plasmado no periódico pela jornalista Ana Margalho. Falando por mim, por que raio haveria eu de pensar que as roupas depositadas nos contentores eram destinadas a quem mais precisa? Por que não haveria eu de pensar que esta recolha nos contentores serve de plataforma para evitar que bens de pouco valor económico mas de alta utilidade não devam ser aproveitados mesmo que, no limite, dê lucro a alguém? Sobretudo a quem investe nos instrumentos que servem para alcançar os fins de recuperação e evitar que o destino de bens que a muito boa gente fará jeito seja o lixo. Não é legítimo que todos ganhem? Ou será mais admissível que se destruam bens em nome de que a solidariedade é um fim em si mesmo e não um meio para evitar a ruína e a conspurcação ambiental? Já agora, interrogo, qual a diferença entre um vidrão, que recebe garrafas de vidro, e um contentor de roupas, que armazena fibras têxteis? O princípio de recobramento e reutilização não é o mesmo?
Há cerca de três anos fui a uma reunião do executivo camarário chamar a atenção para o facto de se estarem a enviar para o entulho bens de elevado valor utilitário e que poderiam fazer jeito aos mais pobres. Antes de ir à reunião da edilidade fiz uma experiência interessante. Depositei junto aos contentores diversos bens usados e em pouco mais de 10 minutos desapareceu tudo. 
A minha opinião vale o que vale, por isso mesmo não posso estar mais em desacordo com esta peça jornalística, que, aliás, conhecendo a escrita e procedimento da jornalista citada, me parece pouco objectiva. Certamente estava em dia não. Ou seja, é como se a crónica fosse escrita em texto de opinião onde o apriorismo, na subjectividade, impera. Se são precisos exemplos aponto o facto de se fazer referência ao pensamento comum. Como se este, na sua imaterialidade, em ilação, pudesse servir de tese fundamentada para declaração real. O grave, a meu ver, é que vivemos numa sociedade que não se questiona, não pensa, emprenha pelos ouvidos e pelo que vê. Já hoje aqui na Baixa algumas pessoas me interrogaram assim: “já viu o que está acontecer com a Câmara Municipal, ao aproveitarem-se das roupas doadas para ganharem dinheiro?”. A alguns respondi que não é bem assim, mas a verdade é que a (má) mensagem passou. Contrariando o que é aventado no jornal, nem sequer à edilidade pode ser imputada a responsabilidade de colocar uma mensagem no contentor a explicar o fim das roupas usadas. A ser assim, nesse caso, todos os depósitos de excedentes teriam de apresentar rótulos idênticos.
Gosto muito do Diário de Coimbra, mas, creio e salvo melhor opinião, este jornal hoje praticou um mau jornalismo. Executar políticas de recuperação de artigos em desuso, mesmo que dê lucro a quem o faz –e ainda bem, já que para além da riqueza gerada são mais empregos criados-, deve ser a substância mesmo que na forma possa parecer algo controverso. É preciso pesar os dois males, maior e menor, e optar pelo de menores custos para a colectividade. Penso que aqui não há dúvidas de que, mesmo sendo sujeito à discussão e escrutínio, se optou pelo melhor. É preciso colocar uns óculos graduados para ver que assim é?


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1 comentário:

disse...

Acho que se esta a generalizar uma opiniao, injusta e nada saudavel!
Nao resido em Coimbra mas sei que existem outros contentores de Roupa verdes, e outros bejes, esses sim com o simbolo da cruz vermelha! e nesses é que fico sem saber o fim da roupa!
Creio que a Jornalista que visou o negocio de roupa, se esqueceu de publicar que existem duas empresas de recolha de roupa no mesmo municipio, o mesmo é uma barbaridade, chegando a tocar o ridiculo, existindo por vezes dois contentores de roupa diferentes juntos, num aglomerado de contentores que ninguem imagina !