Segundo o Diário de Coimbra (DC) de
hoje, em título de primeira página, “Toxicodependentes perderam gabinete de
apoio na Baixa”. Em subtítulo “por falta de financiamento, Cáritas de Coimbra
encerrou serviço no Terreiro da Erva que mensalmente apoiava 430 utentes e onde
trabalhavam nove técnicos.”
Aquilo que se temia aconteceu. O
encerramento deste posto de atendimento para a Baixa é de uma gravidade
incomensurável. Já em Agosto, do ano passado, Luís Costa, Presidente do
Conselho de Administração da Cáritas Diocesana de Coimbra, no DC, afirmava o
seguinte: “facilmente poderemos imaginar como seriam as ruas, os cantos da
Baixa de Coimbra se coexistissem com 277.613 unidades de seringas usadas”.
Acrescentava ainda: “que aquele é o local que faz sentido, porque é ali que estão
os consumidores de estupefacientes”. E deixava uma pergunta aos comerciantes: “se
a estrutura não existisse ali, seria melhor (para a Baixa)?”.
Nessa altura, em apoio ao
presidente da Cáritas local, escrevi um texto para o DC, com o título “A erva e
o pó do terreiro”, chamando a atenção para o pensamento recorrente de uma
grande maioria de comerciantes que teimavam, e continuam, em culpar aquela
estrutura de ajuda às vítimas do tempo hodierno. Como se a Cáritas fosse a
causadora de haver tantos toxicodependentes.
Agora, de aqui para a frente,
quando assistirmos a pessoas caídas e abandonadas em tudo quanto é canto e
seringas provavelmente infectadas pelo chão talvez cada um passe a dar mais
valor ao trabalho desenvolvido por aquela instituição. É também muito provável
que o crime, nomeadamente assaltos, aumente em flecha. É muito possível que
muito em breve os críticos, mudando de posição, comecem a verter lágrimas de
crocodilo de saudade pelo gabinete de atendimento. Queriam assim? Pois assim
têm. Mas nesta insensibilidade toda –que vindo de uma classe extremamente egoísta
até nem admira- como é que fica a Câmara Municipal? Qual é a sua posição no meio
disto tudo? Não terá nada a dizer? Em face da gravidade que se adivinha, este
problema da falta de financiamento não deveria ter sido elegível e ter sido já discutido
no executivo?
Neste princípio de novo ano encerraram
nesta zona antiga alguns estabelecimentos, que a seu tempo falarei deles. Nesta
altura, nesta zona cada vez mais decrépita e desertificada, acontecer uma coisa
destas pode ser uma verdadeira tragédia para quem aqui mora e trabalha. Ou
seja, a Baixa está cada vez mais entregue à sua sorte.
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2 comentários:
Felizmente, foi apenas um encerramento temporário:
«Cáritas de Coimbra reabre gabinete de apoio a toxicodependentes
A Cáritas Diocesana de Coimbra reabriu hoje o gabinete de apoio a toxicodependentes (GAT) da Baixa de Coimbra, encerrado na sexta-feira, tendo a instituição conseguido uma "solução transitória" de financiamento.
(...)» DN
Pena nem todos os técnicos terem ficado. Se cada vez existem mais utentes a necessitarem dos cuidados e apoio deste tipo de Gabinetes, as novas medidas parecem paradoxais...
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