Para o casal Ferrer, constituído pelo António
e pela Maria José, ele coronel na reserva, de 54 anos, ela procuradora do
Ministério Público, de 53, o último domingo, primeiro de Março, foi um dos dias
mais importantes e felizes das suas vidas. Após um processo de fecundação com
acompanhamento médico de inseminação artificial, ao bater das 16 badaladas na
Maternidade Bissaya Barreto, de parto natural, nasceram o Rafael Afonso e o
Manuel Afonso.
Como se fosse uma compensação, este feito só
possível graças ao desenvolvimento da ciência médica, parece um milagre divino.
É que precisamente há um ano atrás, o seu único filho, com 21 anos de idade, sem
nada a indicar, pôs termo à vida. Doze meses depois, como se Deus tentasse
retribuir um desacerto da Natureza, ou o contrário, colocou nos seus braços não
um mas dois belos rapazes. O facto da idade ligeiramente avançada da mãe não criou
qualquer impedimento nem cuidados de maior na gravidez. Os quase cinco quilos
no seu ventre, na última semana, não constituíram qualquer problema ou
transtornos para Maria José Trindade e os catraios, lindos, lindos, estão ali, sob
vigilância apertada do seu olhar materno, para testemunharem um hino à
esperança e à força de viver.
Comecei por perguntar à Maria José se encarava
este acontecimento como um prodígio. “É
uma prenda divina, sim. Só pode ser! Estou muito enriquecida. Sou cristã, não
praticante. Acredito em Deus. Esta experiência aproximou-me mais Dele. Fez-me
perceber que somos ínfimas partículas no Universo. Somos seres imperfeitos. Às vezes
não merecíamos a dádiva recebida –e os seus olhos claros inundam-se de
pranto. Não sei onde falhei para
acontecer a tragédia a que fui sujeita em Fevereiro do ano passado. Mas o que
sei é que, com a vinda destes dois anjos, fui muito beneficiada. Peço a Deus
que me perdoe os meus erros e fracassos.”
António Ferrer, que conheço há vários anos e
habitualmente é uma pessoa calma e ponderada, pelo brilho dos seus olhos não
consegue disfarçar a ansiedade e alegria mal contida. Repito a interrogação: o que significa a vinda de duas estrelas cintilantes
na família? “É uma bênção. É uma
renovação. Já vivi uma e agora estou a viver outra. Não é mensurável esta oferenda recebida. É uma segunda oportunidade. Agora
a minha vida faz outro sentido. Depois da desgraça que se abateu no nosso lar,
passei uma fase muito desnorteada. Tentava encobrir, mas muito mal. Durante o
último ano, o choro sentido foi o meu companheiro de solidão. Em solilóquio,
perguntando a mim mesmo, interrogava o porquê de tal adversidade. O que fizera
eu de mal para merecer uma tal bofetada. Esta natalidade, este Natal dois meses
depois de Dezembro, é o melhor que a vida me deu –e novamente as lágrimas
balançam entre o cai e não cai. Prossegue, “até
o facto de serem dois é algo de maravilhoso. Apesar de ter noção de que já
seremos idosos quando eles entrarem na vida adulta, sei que, enquanto gémeos,
vão amparar-se ao longo das suas existências. Embora pragmático, este milagre
tocou-me profundamente. Meus adorados Filhos!”
1 comentário:
Aleluia...finalmente uma boa notícia
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