quinta-feira, 26 de março de 2015

LEIA O CAMPEÃO DAS PROVÍNCIAS...




Leia aqui o CAMPEÃO DAS PROVÍNCIAS desta semana.

Na página "OLHARES... POR COIMBRA E PELO PAÍS", na rubrica "NÓS POR CÁ..."  leia  o texto "A BAIXA RECUSA MORRER" e "CAFÉ SANTA CRUZ, A NOSSA JÓIA RELUZENTE".




A BAIXA RECUSA MORRER

Durante os três meses deste ano, e até ao final deste corrente março, na Baixa, entre as lojas comerciais que já encerraram e as que vão seguir o mesmo exemplo perfaz cinco estabelecimentos –para análise, duas de roupas; uma perfumaria; uma de artigos decorativos e outra de fotografia.
Entre as que já estão abertas ao público, desde o início do ano, e as que até ao dia 31 vão dar à luz serão 11 –também para estudo, duas de estética e manicura; uma de arte e restauros; uma de produtos alimentares endógenos; três lojas de roupas; um restaurante; uma taberna; uma de artigos alimentares gourmet e um bar. Em abril dará à luz uma galeria de arte e artigos antigos.
Por aqui, pela grande diferença entre as empresas que claudicam e as que nascem, com número positivo elevado para estas últimas, dá para ver que a zona histórica, apesar da grande crise económica, continua em atividade frenética e, num processo de regeneração contínuo, parece um gigante a estrebuchar que, mesmo sendo polvilhado por venenos, se nega a morrer.
Como já escrevi aqui e sujeito à discussão, tento mostrar que tem de haver uma explicação para os deuses terem ensandecido e colocarem os princípios económicos em causa. Começamos pela constatação: por um lado, a procura de bens duradouros e perecíveis continua rarefeita. Por outro, a oferta é cada vez mais desmedida e naturalmente leva ao embaratecimento e provoca a estagnação, conducente à deflação, da economia nacional.
Sendo assim, estamos, portanto, em contraciclo económico. Pela lógica, mandaria o bom senso que não se continuasse a bater na oferta de produtos, sobretudo em áreas já esgotadas, e na abertura de mais negócios iguais aos existentes e já em número excedentário.
Ora o que se comprova? Que continuam a abrir estabelecimentos, mais do mesmo e maioritariamente feito por pessoas sem experiência, que, para além de entupir a oferta e afetar a diversidade, provocam a sua própria desgraça e o empobrecimento de quem está implantado –pode até parecer que sou a favor de “numeros clausus”, limitar o acesso. Nada disso. Acho que todos têm o direito de escolherem livremente o ingresso num qualquer curso ou profissão desde que preencham os requisitos mínimos. Se assim não fosse a concorrência –e a evolução humana- estaria ferida de morte. Quero dizer, por conseguinte, que alguma coisa terá de se fazer para alertar estes novos investidores, tantos destes recorrendo a empréstimos familiares. O que se fez até agora é sempre através da recomendação de amigos, porém, como tenho apreendido, quem vem de novo chega cego e não ouve ninguém. Para eles, com todo o respeito que merecem e lhes assiste, a nossa mais profunda reverência e admiração pela sua coragem.
Antes de especular sobre o que se poderá fazer, embora já tivesse escrito sobre este assunto na semana passada, vamos questionar: por que razão, mesmo com resultados negativos, continua o comércio a gerar desmesurados apetites? Pela necessidade de trabalhar honradamente e para ganhar a vida, já que os outros sectores económicos, primário e secundário, não respondem aos anseios de quem precisa de meios para sobreviver.
Sobre soluções milagrosas, pelo menos na atual conjuntura, é evidente que não as há. Contudo, se o acesso ao trabalho é um direito legítimo e constitucional, e se os que o procuram merecem o reconhecimento social porque se negam a viver à sombra dos subsídios do Estado, temos todos, os que estão e os que vem de novo, obrigação de pugnar por condições mínimas de continuidade para estes novos negócios. Por que a razão neste cair um agora, levanta-se outro amanhã reside essencialmente no esbulho de impostos em que as famílias e as empresas estão sujeitas.
E a Câmara Municipal de Coimbra, o poder local, não pode fazer mais? Tem de ser capaz de fazer melhor. Apesar de ter um Gabinete de Apoio ao Investidor e as regras plasmadas serem objetivas, para além da promoção e da dinamização que se adivinha, o trabalho de sapa, oculto em gabinete, não se vê. É preciso pôr as mãos na massa, vir para a rua, e, sem ter que ser a solução, mostrar que está no mesmo lado do problema, apoiando, desonerando posturas, e dar a cara. É preciso não esquecer que, pelo seu esforço heróico, são estes investidores a força centrifugadora que está a contribuir para revitalizar a Baixa.


CAFÉ SANTA CRUZ, A NOSSA JÓIA RELUZENTE

As vinte e duas badaladas na torre da Igreja de Santa Cruz imaginavam-se. Já há muito que o seu badalejar desapareceu da rotina de uma cidade antiga que também vive dos ruídos e deixou de contribuir para um acompanhamento sonoro de nostalgia.
A sala do velho café, que já foi muita coisa desde armazém até capela, com o mesmo nome da igreja ao lado onde repousam os primeiros Reis de Portugal, estava parcialmente cheia e o público presente, constituído por turistas nacionais e estrangeiros, esperava para ver o que iria acontecer. Ao fundo, onde há mais de um século teria sido a zona do altar, uma mesa com microfones prontos e um projetor espetava na parede a imagem de um mosaico, onde estava escrito “50 cafés históricos de España y Portugal”, respirava-se espectativa.
Vitor Marques, um dos jovens sócios do mítico espaço de recordação e de encantamento da Baixa, abriu a cerimónia. “Estamos aqui para apresentar em Coimbra o livro sobre os cinquenta cafés mais importantes de Portugal e Espanha. Foi uma ideia engraçada. O livro foi apresentado em Santiago de Compostela, em Dezembro. Estive lá no lançamento e convidei os nossos amigos espanhóis para fazer o mesmo em Coimbra, já que o Café Santa Cruz faz parte deste roteiro de cafés com memória. Estivemos hoje na Escola de Hotelaria onde foi realizado um “workshop” sobre o café de saco e depois, durante a tarde, mostrei-lhes espaços emblemáticos da cidade como, por exemplo, na Alta, o Museu Machado de Castro, a Biblioteca Joanina e a Universidade. Na Baixa, visitámos também a Torre de Almedina, a Rua da Sofia e outras desta zona. Tivemos o apoio da Câmara Municipal de Coimbra, da Universidade de Coimbra, do Museu Machado de Castro e Escola de Hotelaria. Estou muito agradecido a todas estas entidades pelo apoio manifestado.
Ao lado do anfitrião e mandatário do vetusto estabelecimento hoteleiro estava sentado o autor do livro, Fernando Franjo, que tomou a palavra. Começou por referir o gosto que sentia por estar em Coimbra e, sobretudo, na magnífica catedral de cafetaria e de uma riqueza patrimonial incomensurável e a seguir tratou de mostrar como produzir um café de saco de qualidade ímpar. “O café de saco é como a máquina do tempo. Hoje, sem lhe tomar o gosto, vivemos tudo muito rápido na vida e deixamos passar as coisas boas. Os cafés históricos são marcas de um tempo de bonomia, de conversa e de acalmia interior”, referiu. Depois das devidas explicações como fazer um bom café, passo-a-passo, –a lembrar o tempo da nossa avó- foi dado a provar  o Arábica Robusta e sendo servido a todos os presentes.
Mais uma vez Vitor Marques tomou a palavra e chamou à colação George Steiner –poeta e filósofo da cultura ocidental. Citando o escritor europeu e lendo passagens da sua literatura a defender que a “Europa é feita de cafetaria, dos cafés” que marcaram gerações. É preciso preservar estes lugares para o futuro, como o Café Santa Cruz, enquanto recintos de uma riqueza patrimonial ímpar. “É um património que é de todos, e todos devem participar”. Anunciou ainda Marques que tinha sido apresentado um projeto à Fundação EDP e à Revista Visão sob o mote “Que ideias podemos ter para melhorar o nosso Bairro?” e com a Rota dos Cafés a ideia foi aprovada. Por isso mesmo, “consultem comunidade.edp.pt e votem na nossa iniciativa”, apelou ao público presente.

O QUE TRATA O LIVRO?

Com excelentes fotografias em papel especial é contada a história de cada um dos 50 cafés escolhidos pelo autor. De Espanha, através de imagens, são mostrados 39 estabelecimentos e de Portugal 11. De Lisboa são cinco, respetivamente, Café A Brasileira, Café Nicola, Café Martinho da Arcada, Confeitaria A Nacional e Pastéis de Belém. Do Porto são três os eleitos: Café Magestic, Café Guarany e Café Ancora d’Ouro. De Braga mereceram fazer parte do livro dois: Café A Brasileira e Café Vianna. Coimbra apenas tem um espaço representado: o Café Santa Cruz. Como apontamento de somenos lamenta-se o facto de todo o livro, incluindo os referentes portugueses, estar escrito na língua de Cervantes.

E DO OUTRO LADO DA FRONTEIRA É IGUAL?

Na fase de perguntas à mesa por parte da assistência, alguém interrogou Fernando Franjo, espanhol e autor da brochura, para saber se em Espanha, tal como em Portugal, os poderes públicos se mantinham alheados desta enorme riqueza patrimonial e turística, mormente, tendo um instrumento de preservação como a classificação de imóveis e bens culturais de relevante Interesse Municipal? Respondeu Franjo que lá, tal como cá, o poder local não tem sensibilidade para a importância histórica destes espaços.

E ONDE ESTAVAM OS APOIANTES?

Quem faz o favor de me ler já deveria ter visto que tento ser os olhos do leitor, uma espécie de consciência crítica. Sem cair num negativismo endémico e viciado, com honestidade e na minha subjetividade, tento exaltar o que entendo por bom para todos e criticar o que entendo menos positivo para a coletividade. Apreendo que nesta cerimónia de apresentação e declaração de um lugar que faz parte de nós e nos honra a sua continuidade, pelo menos, deveria ter marcado presença um vereador da Câmara Municipal de Coimbra. Pelo mais, cada um dos apoiantes do projeto, nomeadamente da Universidade, da Escola de Hotelaria e do Museu Machado de Castro, poderia muito bem ter mandado um representante para assistir ao lançamento. Ou não? Bom, convenhamos, às tantas poderiam não terem sido convidados para o efeito. É verdade mas, pelo conhecimento prévio e tendo em conta que se tratava de um ato político, estas entidades, enquanto pólos dinamizadores da cidade, e do seu turismo, deveriam aparecer para mostrar que estão atentas –e quiçá preocupadas- e, no mínimo, para demonstrar aos munícipes e empresários que querem mais o cara-a-cara, na envolvência direta, e menos o despachar de secretaria.
Se calhar, com o veneno que, para alguns, me caracteriza, não faz sentido esta minha reportação. Ou fará?






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