terça-feira, 3 de março de 2015

UM MILAGRE DA VIDA




Para o casal Ferrer, constituído pelo António e pela Maria José, ele coronel na reserva, de 54 anos, ela procuradora do Ministério Público, de 53, o último domingo, primeiro de Março, foi um dos dias mais importantes e felizes das suas vidas. Após um processo de fecundação com acompanhamento médico de inseminação artificial, ao bater das 16 badaladas na Maternidade Bissaya Barreto, de parto natural, nasceram o Rafael Afonso e o Manuel Afonso.
Como se fosse uma compensação, este feito só possível graças ao desenvolvimento da ciência médica, parece um milagre divino. É que precisamente há um ano atrás, o seu único filho, com 21 anos de idade, sem nada a indicar, pôs termo à vida. Doze meses depois, como se Deus tentasse retribuir um desacerto da Natureza, ou o contrário, colocou nos seus braços não um mas dois belos rapazes. O facto da idade ligeiramente avançada da mãe não criou qualquer impedimento nem cuidados de maior na gravidez. Os quase cinco quilos no seu ventre, na última semana, não constituíram qualquer problema ou transtornos para Maria José Trindade e os catraios, lindos, lindos, estão ali, sob vigilância apertada do seu olhar materno, para testemunharem um hino à esperança e à força de viver.
Comecei por perguntar à Maria José se encarava este acontecimento como um prodígio. “É uma prenda divina, sim. Só pode ser! Estou muito enriquecida. Sou cristã, não praticante. Acredito em Deus. Esta experiência aproximou-me mais Dele. Fez-me perceber que somos ínfimas partículas no Universo. Somos seres imperfeitos. Às vezes não merecíamos a dádiva recebida –e os seus olhos claros inundam-se de pranto. Não sei onde falhei para acontecer a tragédia a que fui sujeita em Fevereiro do ano passado. Mas o que sei é que, com a vinda destes dois anjos, fui muito beneficiada. Peço a Deus que me perdoe os meus erros e fracassos.”
António Ferrer, que conheço há vários anos e habitualmente é uma pessoa calma e ponderada, pelo brilho dos seus olhos não consegue disfarçar a ansiedade e alegria mal contida. Repito a interrogação: o que significa a vinda de duas estrelas cintilantes na família? “É uma bênção. É uma renovação. Já vivi uma e agora estou a viver outra. Não é mensurável esta oferenda recebida. É uma segunda oportunidade. Agora a minha vida faz outro sentido. Depois da desgraça que se abateu no nosso lar, passei uma fase muito desnorteada. Tentava encobrir, mas muito mal. Durante o último ano, o choro sentido foi o meu companheiro de solidão. Em solilóquio, perguntando a mim mesmo, interrogava o porquê de tal adversidade. O que fizera eu de mal para merecer uma tal bofetada. Esta natalidade, este Natal dois meses depois de Dezembro, é o melhor que a vida me deu –e novamente as lágrimas balançam entre o cai e não cai. Prossegue, “até o facto de serem dois é algo de maravilhoso. Apesar de ter noção de que já seremos idosos quando eles entrarem na vida adulta, sei que, enquanto gémeos, vão amparar-se ao longo das suas existências. Embora pragmático, este milagre tocou-me profundamente. Meus adorados Filhos!”

1 comentário:

Cristina Medeiros disse...

Aleluia...finalmente uma boa notícia