sábado, 7 de março de 2015

O MENDES, "FURA-MUNDOS"



Encontrei-o ontem, à hora do almoço, junto à Câmara Municipal. De cabelo prateado, bem penteado, e barba hirsuta bem cuidada, óculos de sol vanguardistas –um pouco efeminados mas não interessa nada-, três terços enrolados no pescoço –porque numa altura destas quantos mais rosários melhor-, um cheirinho a lavadinho, eis o senhor Mendes, mais conhecido e baptizado por mim como o “Fura-mundos”. Notei que está magrote, o Mendes!
Quando me avista corre –como quem diz, anda devagarinho e amparando-se na bengala- na minha direcção e repete: “ó mano! Estás bom, mano?!”. E eu fico sempre a balouçar na metódica dúvida: se somos irmãos quem lançou a semente? Teria sido o pai dele ou o meu? Penso que o meu não seria, porque, enquanto andou por cá, viajou pouco e nem sequer era caixeiro-viajante. As voltas que o meu pai deu foram de circum-vida. A tentar safar-se de um tempo de miséria. Às tantas seria o progenitor do “Fura-mundos” que, viajando lá para os meus lados da Bairrada, teria feito das suas. Em conversa há uns anos, o Mendes afirmou-se de sangue azul, de origem monárquica. Vendo bem, olhando-me de alto-a-baixo, pelas minhas manias e de tanto gostar da cor do céu, e das estrelas, se calhar, sei lá, às tantas, quem sabe?
As nossas conversas terminam sempre como começam: “estás bom, mano? Empresta aí uma moeda para eu beber um café! Obrigado, mano!


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