Nos idos anos de 1970, apesar de cinquentenária,
Lucília Dias Fernandes era uma estampa de mulher. Na Rua Corpo de Deus, número
3A, era conhecida por “Cilinha”, a “plissadeira” –a arte de plissar é uma
técnica de fazer dobras, franzir, preguear o tecido fino de uma saia para, como
um leque que se abre, a tornar mais rodada de uma forma ondulante. Ainda hoje se
pratica, porém, deixou de ser um trabalho manual e passou a produto fabril.
A “Cilinha”, numa época em que tudo era recuperado e nada se perdia, apanhava
as malhas caídas nas meias de vidro de senhora. Mas, verdadeiramente, o seu
forte era o plissamento das saias e aventais brancos –no tempo em que este
adorno feminino era imprescindível no uso de uniforme das criadas, agora, numa versão diferente, denominadas de empregadas
domésticas.
Segundo uma vizinha que a conheceu bem e pediu
o anonimato, “era uma mulher muito
vistosa para qualquer olhar masculino Era muito bonita. Ela trabalhou sempre muito
até poder e manteve-se sempre na sua casa humilde onde passou a vida. O seu
único filho, o Paulo, está com a família no Canadá mas, para além da “Cilinha” ter
ido lá muitas ocasiões, ele vinha visitá-la periodicamente. Sei que ele tentou,
nos últimos anos, que ela fosse para um lar e fosse mais acompanhada mas a
familiar recusou sempre –ela era muito personalizada, "mandona" e muito senhora
do seu nariz. O Paulo, perante a teimosia da mãe, nunca pode fazer grande coisa.
Fez o que pode. Até que há cerca de uma semana ele veio e encontrou-a num estado
deplorável. Foi então que ela foi internada e lá morreu esta semana.”
Ao Paulo Dias Coelho, esposa e filhos e
restante família, em nome da Baixa, se posso escrever assim, as nossas sentidas
condolências.
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