quarta-feira, 25 de março de 2015

O "POPEYE" FOI "ENCARCERADO"



O António Simões da Silva, conhecido por “Tónio Bombeiro” e apelidado de “Popeye” foi internado num lar ali para os lados do Areeiro, segundo dois seus grandes amigos, o Jorge Martins, do Quiosque Espírito Santo, na Praça 8 de Maio, e Olímpio Ribeiro, proprietário da barbearia Santa Isabel, na Rua Direita, e cognominado de “Engenheiro”.
OTónio” é um daqueles figurantes carismáticos que pululam na Baixa. Pessoas como ele são uma espécie de flores silvestres que nascem e vivem numa área habitacional. Pela forma desligada, na diferença, em consequência da sua leve demência imprimem uma marca inconfundível e, talvez sem o notarem, são amados pela colectividade. Contudo, e aqui reside a ambiguidade, enquanto deambulam pelos becos e ruelas das cidades parecem ser ignorados. Quando se ausentam do meio habitacional, ou por velhice, doença ou morte, todos parecem sentir a sua falta e mostram espasmos de dor pelo seu desaparecimento. Já constatei este procedimento social várias vezes aquando do sumiço de outros “cromos” que nos deixaram na última década.
Por conseguinte já se entende a preocupação do Jorge Martins ao pedir-me que escrevesse sobre o “encarceramento” do “Tónio Bombeiro”. “Tens de escrever sobre isto. A administração do lar onde está internado o “Popeye” tem de ser sensibilizada para o deixar vir à Baixa de vez em quando. Se assim não acontecer, ele vai morrer rapidamente. Sempre aqui viveu. Aqui é o seu mundo.”
Olímpio Ribeiro, o “engenheiro, vai mais longe, “Até entendo a decisão tomada pelo primo –pessoa responsável pela sua administração, creio. Ele fez bem em retirá-lo para uma instituição onde cuidem dele. Ele sozinho não estava bem e, além disso, às vezes, bebia de mais. Mas o “Tónio” faz falta à malta! É uma figura típica e carismática. Ele fazia recados para toda a gente desta rua. O “Tónio” é super-sério. Espero bem que o deixem vir de vez em quando à Baixa. Ainda só foi há dias e já sentimos a sua falta.”


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