sexta-feira, 6 de março de 2015

LEIA O DESPERTAR...

LEIA AQUI O DESPERTAR DESTA SEMANA 

Para além  do texto "REFLEXÃO: CAÇA AO INVESTIDOR LOUCO", deixo também as crónicas "UM MILAGRE DA VIDA"; "ROSTOS NOSSOS (DES)CONHECIDOS: O HOMEM DO CAIS"; "O VITOR JÁ REGRESSOU DO "BRA'SIW"; "VAMOS À MATINÉ?".


REFLEXÃO: CAÇA AO INVESTIDOR LOUCO

Há cerca de uma semana que a Autoridade Tributária está a levar no país -e naturalmente também na Baixa- uma operação de fiscalização aos inventários declarados pelas empresas com movimentos de caixa acima de 100 mil euros.
Não se pode contestar a legitimidade da ação. O que se questiona e custa a entender é o tempo e o modo em que são desencadeadas estas operações. Numa altura em que as pequenas e pequeníssimas empresas, sob a alçada de um feroz confisco fiscal desde há quatro anos, se debatem de uma forma heroica pela sobrevivência e onde as falências têm sido aos milhares, fará coerência este combate cerrado em jeito de purga? Fará sentido querer fazer-se tudo a correr o que não foi feito em quatro décadas? Faz porque, contrariamente ao que parece, não se trata de alcançar um objetivo económico de prevenção futura mas sim de um processo estritamente político. A escassos seis meses das eleições legislativas está de ver que vale tudo, mesmo até malhar em mortos. A ética e a moral, que devem majorar os princípios de uma Nação e contribuem para cidadãos cumpridores, desapareceram. Os símbolos, representativos de uma sociedade decadente, como valores emergentes de poder, são a lei, criada como instrumento repressivo, e o pau, como meio intimidatório. Um Estado assim, com governantes a agirem desta maneira, só pode redundar em algo trágico e o fim de um sistema desequilibrado e discriminatório onde o pequeno está sempre tramado e o grande passa sempre pelas entrelinhas. O que interessa é mostrar aos eleitores que todos os investidores, aqueles que ousaram arriscar dando emprego, são passíveis de burlar o Estado. E é simples por que a mensagem passa facilmente. Está de ver que pouco importa ao Primeiro-Ministro, Ministra e Secretário de Estado das Finanças que várias empresas, já a funcionar na linha vermelha, vão para o charco e com elas milhares de empregos.
Será este modo de governar aceitável? Sobretudo, vindo de um Governo preocupado com a economia social de um país que se arrasta há uma década e à espera de uma retoma que tarda? Talvez Maquiavel explique!


UM MILAGRE DA VIDA

Para o casal Ferrer, constituído pelo António e pela Maria José, ele coronel na reserva, de 54 anos, ela procuradora do Ministério Público, de 53, o último domingo, primeiro de Março, foi um dos dias mais importantes e felizes das suas vidas. Após um processo de fecundação com acompanhamento médico de inseminação artificial, ao bater das 16 badaladas na Maternidade Bissaya Barreto, de parto natural, nasceram o Rafael Afonso e o Manuel Afonso.
Como se fosse uma compensação, este feito só possível graças ao desenvolvimento da ciência médica, parece um milagre divino. É que precisamente há um ano atrás, o seu único filho, com 21 anos de idade, sem nada a indicar, pôs termo à vida. Doze meses depois, como se Deus tentasse retribuir um desacerto da Natureza, ou o contrário, colocou nos seus braços não um mas dois belos rapazes. O facto da idade ligeiramente avançada da mãe não criou qualquer impedimento nem cuidados de maior na gravidez. Os quase cinco quilos no seu ventre, na última semana, não constituíram qualquer problema ou transtornos para Maria José Trindade e os catraios, lindos, lindos, estão ali, sob vigilância apertada do seu olhar materno, para testemunharem um hino à esperança e à força de viver.
Comecei por perguntar à Maria José se encarava este acontecimento como um prodígio. “É uma prenda divina, sim. Só pode ser! Estou muito enriquecida. Sou cristã, não praticante. Acredito em Deus. Esta experiência aproximou-me mais Dele. Fez-me perceber que somos ínfimas partículas no Universo. Somos seres imperfeitos. Às vezes não merecíamos a dádiva recebida –e os seus olhos claros inundam-se de pranto. Não sei onde falhei para acontecer a tragédia a que fui sujeita em fevereiro do ano passado. Mas o que sei é que, com a vinda destes dois anjos, fui muito beneficiada. Peço a Deus que me perdoe os meus erros e fracassos.”
António Ferrer, que conheço há vários anos e habitualmente é uma pessoa calma e ponderada, pelo brilho dos seus olhos não consegue disfarçar a ansiedade e alegria mal contida. Repito a interrogação: o que significa a vinda de duas estrelas cintilantes na família? “É uma bênção. É uma renovação. Já vivi uma e agora estou a viver outra. Não é mensurável esta oferenda recebida. É uma segunda oportunidade. Agora a minha vida faz outro sentido. Depois da desgraça que se abateu no nosso lar, passei uma fase muito desnorteada. Tentava encobrir, mas muito mal. Durante o último ano, o choro sentido foi o meu companheiro de solidão. Em solilóquio, perguntando a mim mesmo, interrogava o porquê de tal adversidade. O que fizera eu de mal para merecer uma tal bofetada. Esta natalidade, este Natal dois meses depois de dezembro, é o melhor que a vida me deu –e novamente as lágrimas balançam entre o cai e não cai. Prossegue, “até o facto de serem dois é algo de maravilhoso. Apesar de ter noção de que já seremos idosos quando eles entrarem na vida adulta, sei que, enquanto gémeos, vão amparar-se ao longo das suas existências. Embora pragmático, este milagre tocou-me profundamente. Meus adorados Filhos!”



ROSTOS NOSSOS (DES)CONHECIDOS: O HOMEM DO CAIS

Pelo título, poderemos ser levados a pensar que o personagem de quem vou falar terá a sua barca serrana ancorada no cais da Estação Nova e, por momentos, entrou nas ruas da calçada. Claro que o leitor já viu que não é nada disso. Este homem, de nome Giuseppe, mais conhecido por “Pino” e que há cerca de 15 anos vende a Revista Cais entre as Ruas Ferreira Borges e Visconde da Luz, é uma pessoa muito querida por todos nós. Pela sua educação, pela assertividade, é uma espécie de candeeiro de luz cuja luminosidade ilumina as nossas vidas diariamente. Podemos até nem dar por ele mas, se nos faltar um só dia nas artérias principais da urbe, notamos imediatamente a sua falta.
Pouquíssimos de nós, mesmo em dia de chuva como hoje, não “tropeçaram” no Giuseppe. Certamente, tal como eu, nunca lhe demos muita atenção. É mais um viandante que, no seu anonimato, vagueia pelas ruas da cidade, como se, com o seu olhar de súplica, procurasse nos nossos olhos um porto de abrigo. Em sentido metafórico, esta pessoa é mesmo o homem do cais. Aquelas ruas são o seu porto. Nós, transeuntes que passamos por ele, quase sempre sem o olhar de frente, olhos-nos-olhos, seremos o seu oceano de esperança. Mas este vendedor de sonhos não realizados tem uma história para contar. Afinal, todos temos uma narrativa. Não é assim? E se, em estereótipo, vagamente somos levados a pensar que este sujeito será azedo pela natureza da vida que, em princípio, teria sido pouco generosa com ele, ao trocarmos impressões, ficamos surpresos. O “Pino”, aparentemente vagabundo de nós, espalha amor de frase em frase como agricultor semeia trigo ao vento por cima da terra lavrada.
Giuseppe é Italiano. Esteve numa instituição devido a problemas que afetam os humanos, segundo as suas palavras. Gostava que não fosse assim, mas foi. “Valerá a pena renegar a verdade?”. Interroga-me com pronúncia musicada de transalpino e os olhos doces a encimar o rosto coberto por barba hirsuta. “Temos que nos aceitar como somos. De que vale andarmos em guerra uns com os outros? A vida é amor e o amor alimenta-se da própria vida”.
Veio para Coimbra há muitos anos. O tempo corre depressa. Embora o veja por aqui diariamente, não imaginava ser há mais de uma década. Já largou a sua terra-madre, que um dia o viu nascer, há tantas primaveras que mal lembra. Hoje habita um andar arrendado na cidade. Vive com a mulher e um filho. “Minha “mulherr” “estarr” “muita” doente, física e psiquicamente”, enfatiza. Quando lhe pergunto se a venda da revista Cais dá para viver, diz-me: “Non! Esta crise veio “piorarr” tudo. Apenas dá para pagar “quarto” (renda da casa).
E acerca dos transeuntes, o que pensa deles? São bons, ignoram-no, ou maus para ele? Interrogo. “Muito bons! Eu também não faço mal a ninguém. A vida “serr” muito pequena. Porquê fazer mal? Vida é amor”, conclui.


O VITOR JÁ REGRESSOU DO “BRA’SIW”

Em Dezembro, último, contava aqui que o Vitor Costa, o mais famoso ardina de todos os tempos que passou pela Baixa, tinha trocado O Despertar, um jornal velhinho mas sempre em pé -comemorou no passado dia 2 de Março 98 anos- por uma brasileira boa, boa, mesmo muito boa pessoa. Então, como se imagina naturalmente triste, não foi de modas e abalou para o Brasil em busca do seu novo amor. Lá se manteve durante três meses –o mínimo que o passaporte de turista admite, creio- e agora, mais que certo, a carpir mágoas de saudade da sua baiana, regressou ao nosso meio. O mais provável é que daqui a tempos abale outra vez. Embora muito mais magro, amarelecido –o que se compreende, já que entre vários motivos, como geográficos, a atravessar o Atlântico, pantagruélicos, a comer fruta fresquinha que não estava habituado, multiculturais, com tanto material ambulante, semidespido e sempre a bombar, são razões mais que naturais para que o Vitor mirrasse. Mas o que interessa mesmo é que o nosso carismático jornaleiro para a semana, embora com nova pronúncia sul-americana, já estará nas ruas a apregoar: “Leia O “Despertá”! Fala da minha ida e vinda do “Bra’siw”! Leia O “Despertá”!”


VAMOS À MATINÉ?

No próximo Domingo, dia 8 e Dia da Mulher, a nova direção do Rancho das Tricanas de Coimbra, que tomou posse há poucas semanas, pelas 16h00, vai realizar uma grande matinée no vetusto salão da Rua do Moreno, próximo do Terreiro da Erva, e animada pelo agrupamento musical “Casting”. Quanta saudade mora e exalam aquelas paredes carcomidas pelo tempo e trazem à memória, dos mais velhos como eu, os bons bocados que ali foram passados? Vigiados pela Tricana de Coimbra -pintada provavelmente por António Vitorino-, e sob o olhar austero e marcial das muitas mães perfiladas que, sentadas nas cadeiras ao longo do recinto, acautelavam os apertões das suas protegidas, rodopiámos naquele recinto sagrado abraçados a uma bela garota e ao som de vários conjuntos como, por exemplo, “Os Sombras”, “Os Walkers”. Vamos lá no próximo domingo reviver essa época?








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