LEIA AQUI O DESPERTAR DESTA SEMANA
Para além do texto "A FORÇA SÉNIOR COMO MOTOR TURÍSTICO", deixo também as crónicas "DONA ROSA É UMA ALEGRIA DAR-LHE OS PARABÉNS"; "FALECEU A ÚLTIMA PLISSADEIRA"; "ENCERRA UM DOS ÚLTIMOS RETRATISTAS; e "O ARTESANATO VAI REGRESSAR AO QUEBRA COSTAS"
A FORÇA SÉNIOR COMO MOTOR TURÍSTICO
Na semana passada, quinta e sexta-feira,
quatro dezenas de séniores, entre os sessenta e os oitenta anos, alunos da
Universidade Sénior de Évora, estiveram na cidade a convite da Aposenior,
Universidade da Terceira idade, de Coimbra, e no âmbito do Roteiro Monástico.
Salienta-se que estas duas instituições fazem parte da RUTIS, Rede de
Universidades Séniores, com 254 entidades e com um universo de 36 mil
associados estudantes.
Diogo Teixeira dias, anfitrião em
representação da Aposenior, foi o cicerone que, para além de levar os turistas
aos vários estabelecimentos comerciais associados do Roteiro Monástico, mostrou
aos visitantes toda a monumentalidade e recantos pitorescos da urbe mondeguina.
Enfatiza Diogo, “com este projeto
tentamos captar o turismo sénior para a cidade e contribuir para a sua economia.
Vão permanecer dois dias por cá. É uma promoção para tentar fixar os turistas
em Coimbra. Levamo-los a vários pontos importantes e, naturalmente, com vários
passeios pela Baixa comercial, entrando nas lojas associadas e usufruindo de
descontos, e mostramos o seu bulício e a sua vivência quotidiana.”
Com um suculento almoço servido no Restaurante
O Cantinho dos Reis, os convivas mostravam satisfação. Joana Benjamim, de 79
anos de idade, vinda de Évora, estava contente pela viagem a Coimbra. “Estes passeios são muito importantes para os
mais idosos como eu. Faz-me sair da rotina do dia-a-a-dia. Na cidade do Templo
de Diana frequento aulas de informática. O saber não ocupa lugar, nem tem idade”,
conclui. Ao lado, Rui Gusmão, técnico superior no Ministério da Educação já
aposentado, e Filomena Coelho, professora reformada de matemática, marido e
mulher, vindos de Viana do Alentejo, estão muito satisfeitos com a vinda à cidade
dos estudantes. “Esta visita é muito
importante e o roteiro está muito bem organizado. Embora já cá tivéssemos vindo
e algumas vezes visitássemos as partes mais importantes, desta vez ficámos com
uma visão mais pormenorizada e a conhecer melhor a sua história. É uma boa
iniciativa e, pela forma como nos recebeu, estamos muito agradecidos à
Aposenior. Por ano fazemos duas ou três viagens temáticas como esta.”
AS MULHERES EM MAIORIA
Nas quatro dezenas de turistas, dois terços
eram mulheres. Como é que se explica? Que os homens morrem mais cedo e,
portanto, são menos já sabemos, mas será esta a explicação? Responde Maria de
Jesus Florindo, a jovem e bonita presidente da Universidade Sénior de Évora: “As mulheres são mais participativas. Temos
cerca de 240 alunos e oitenta por cento são mulheres. Desde 2006 que cooperamos
com programas europeus de intercâmbio entre vários países. Uma das vantagens é
a mobilidade. Os nossos alunos pagam 22 euros por mês e podem inscrever-se em
três disciplinas. Os passeios são à parte. Estamos a comemorar o nosso décimo
aniversário dentro de pouco tempo.”
Ainda acerca das mulheres estarem
a bater os homens aos pontos, refere Antonieta Guerreiro, “Dou apoio voluntário aos doentes oncológicos no Hospital de Évora e, no
grupo, somos 40 mulheres e um homem. Nós temos uma maior sensibilidade para as
causas sociais”, rematou.
José Tacão, outro excursionista,
meteu-se na conversa e atirou: “dou aulas
de Shikung –ginástica e terapia- na
Universidade Sénior de Évora. 99 por cento dos meus alunos são mulheres.”
Estão de parabéns a Universidade Sénior de
Évora e a Aposenior de Coimbra. Pelos seus esforços, no desempenho social em
prol dos mais velhos, Coimbra deve estar agradecida. Lembro que estão a
decorrer as inscrições para aulas de teatro, informática e sessões para “treino
da memória” na Aposenior, no Convento de Santa Clara-a-Nova.
DONA ROSA É UM PRAZER DAR-LHE PARABÉNS
O último dia 20 foi de festa na Rua Sargento
Mor. E o caso não era para menos, Rosa Azevedo Neto comemorava 95 anos. Se
todos os confinantes sabiam que Rosa é um encanto de pessoa, que basta olhar o
seu rosto para se gostar, o que não adivinhavam é que a simpática vizinha canta
fado como poucas. Pois se não sabiam ficaram a saber. A sua voz bem timbrada,
acompanhada à viola, ecoou pelos becos circundantes e os muitos amigos
ovacionaram com convicção a aniversariante. Com a lágrima no canto do olho, a
criadora de flores de seda para vestidos de cerimónia agradeceu a gentileza de
tão boa gente. Seguiu-se o apagar de velas e mais uma vez as palmas
atravessaram o espaço sideral da amizade.
Em nome da Baixa, se posso referir assim,
muitos parabéns dona Rosa. É um gosto enorme contar consigo.
FALECEU A ÚLTIMA PLISSADEIRA
Nos idos anos de 1970, apesar de
cinquentenária, Lucília Dias Fernandes era uma estampa de mulher. Na Rua Corpo
de Deus, número 3A, era conhecida por “Cilinha”,
a “plissadeira” –a arte de plissar é
uma técnica de fazer dobras, franzir, preguear o tecido fino de uma saia para,
como um leque que se abre, a tornar mais rodada de uma forma ondulante. Ainda hoje
se pratica, porém, deixou de ser um trabalho manual e passou a produto fabril.
A “Cilinha”, numa época em que tudo era recuperado e nada se perdia, apanhava
as malhas caídas nas meias de vidro de senhora. Mas, verdadeiramente, o seu
forte era o plissamento de saias e aventais brancos –no tempo em que este
adorno feminino era imprescindível no uso de uniforme das criadas, agora, numa versão diferente, denominadas de empregadas
domésticas.
Segundo uma vizinha que a conheceu bem e pediu
o anonimato, “era uma mulher muito
vistosa para qualquer olhar masculino. Era muito bonita. Ela trabalhou sempre
muito até poder e manteve-se sempre na sua casa humilde onde passou a vida. O
seu único filho, o Paulo, está com a família no Canadá mas, para além da
“Cilinha” ter ido lá muitas ocasiões, ele vinha visitá-la periodicamente. Sei
que ele tentou, nos últimos anos, que ela fosse para um lar e fosse mais
acompanhada mas a familiar recusou sempre –ela era muito personalizada, “mandona”
e muito senhora do seu nariz. O Paulo, perante a teimosia da mãe, nunca pode
fazer grande coisa. Fez o que pode. Até que há cerca de uma semana ele veio e
encontrou-a num estado deplorável. Foi então que ela foi internada e lá morreu
esta semana.”
Ao Paulo Dias Coelho, esposa e filhos e
restante família, em nome da Baixa, se posso escrever assim, as nossas sentidas
condolências.
ENCERRA UM DOS ÚLTIMOS RETRATISTAS
Estabelecido há cerca de três dezenas de anos na
Rua Martins de Carvalho, um dos mais conceituados fotógrafos da cidade, Rui de
Almeida vai encerrar o seu estúdio no fim do mês, na antiga Rua das
Figueirinhas.
Nasceu em 1937 e cedo, quase de
cueiros, começou a amar a arte de retratar. Com 13 anos foi trabalhar para a
Focus, na Rua Ferreira Borges -esta, felizmente, ainda em laboração. Com 16
anos, em 1953, transferiu-se para a Casa Ilda, do grande mestre, Varela Pécurto,
no Largo da Portagem. No princípio da década de 1970 foi abrir a secção de
fotografia na Bruma, na Rua Adelino Veiga – foi
lá que o conheci pela primeira vez. A título de curiosidade, foi neste
estabelecimento que, em 1976, comprei o meu primeiro frigorífico e televisão, a
preto e branco, a prestações.
No seu laboratório da Rua Martins
de Carvalho, em 30 anos fez de tudo na fotografia. Foi colaborador de vários
jornais desportivos e de notícias, retratou casamentos, batizados, festas
académicas e ganhou vários prémios em salões de arte fotográfica.
Apesar dos seus 78 anos, Rui
Almeida sente-se cheio de força e vai continuar a trabalhar na fotografia. Esta
arte fará sempre parte da sua vida e acompanhá-lo-á até ao resto dos seus dias.
É a sua segunda alma. Sente algum desconforto por ser obrigado a claudicar mas
a morte desta arte, como se conheceu ao longo de mais de um século, era
inevitável. “A informática deu cabo da
fotografia”, enfatiza com a voz embargada pela dor de quem se sente
empurrado para a desistência.
Como se em solidariedade com este
reputado fotógrafo, a Rua Martins de Carvalho parece nublada, sem alento e sem
brilho, e cada vez mais abandonada. A Baixa, neste cai este agora, cai outro amanhã, vai ficando cada vez mais
empobrecida. Quanto aos fotógrafos nesta zona tradicional de antanho já se
contam por menos dos dedos de uma mão. Para eles, que corajosamente continuam a
resistir, e para o senhor Rui Almeida uma enorme salva de palmas.
O ARTESANATO VAI REGRESSAR AO QUEBRA-COSTAS
Amanhã, dia 28, o artesanato urbano vai
regressar às Escadas Quebra-Costas. Salienta-se que esta data será de exceção
já que no futuro este certame será sempre realizado no primeiro sábado de cada
mês.
Entre as 10 e as 19h00, naquele
corredor histórico, que liga a Baixa à Alta e percorrido diariamente por
centenas de turistas nacionais e estrangeiros, vamos poder apreciar artesanato
urbano, gastronomia e vestuário. É uma organização de três lojistas, Miguel
Lima, do Bar Quebra-Costas, Graça
Carvalho, do Ólifante Shop, e Andreia
Morato, do Portugal In Alta, e da ADAC, Associação para o Desenvolvimento e
Defesa da Alta de Coimbra.
Segundo Andreia, “ao recriarmos novamente este evento –já que, embora em moldes
diferentes, existiu até há cerca de dois anos- o propósito é, por um lado,
dinamizar esta zona e, por outro, gerar uma oportunidade para que novos
artistas tenham possibilidade de expor as suas criações. O que vai ser
comercializado nesta feira terá de ter qualidade artística e sobretudo ser
original. Não pretendemos fazer concorrência a ninguém e muito menos copiar
iniciativas já existentes. Aproveito para convidar os leitores. Apareçam que
vão gostar!”
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