sexta-feira, 27 de março de 2015

LEIA O DESPERTAR...



LEIA AQUI O DESPERTAR DESTA SEMANA 

Para além  do texto "A FORÇA SÉNIOR COMO MOTOR TURÍSTICO", deixo também as crónicas "DONA ROSA É UMA ALEGRIA DAR-LHE OS PARABÉNS"; "FALECEU A ÚLTIMA PLISSADEIRA"; "ENCERRA UM DOS ÚLTIMOS RETRATISTAS; e "O ARTESANATO VAI REGRESSAR AO QUEBRA COSTAS"



A FORÇA SÉNIOR COMO MOTOR TURÍSTICO

Na semana passada, quinta e sexta-feira, quatro dezenas de séniores, entre os sessenta e os oitenta anos, alunos da Universidade Sénior de Évora, estiveram na cidade a convite da Aposenior, Universidade da Terceira idade, de Coimbra, e no âmbito do Roteiro Monástico. Salienta-se que estas duas instituições fazem parte da RUTIS, Rede de Universidades Séniores, com 254 entidades e com um universo de 36 mil associados estudantes.
Diogo Teixeira dias, anfitrião em representação da Aposenior, foi o cicerone que, para além de levar os turistas aos vários estabelecimentos comerciais associados do Roteiro Monástico, mostrou aos visitantes toda a monumentalidade e recantos pitorescos da urbe mondeguina. Enfatiza Diogo, “com este projeto tentamos captar o turismo sénior para a cidade e contribuir para a sua economia. Vão permanecer dois dias por cá. É uma promoção para tentar fixar os turistas em Coimbra. Levamo-los a vários pontos importantes e, naturalmente, com vários passeios pela Baixa comercial, entrando nas lojas associadas e usufruindo de descontos, e mostramos o seu bulício e a sua vivência quotidiana.”
Com um suculento almoço servido no Restaurante O Cantinho dos Reis, os convivas mostravam satisfação. Joana Benjamim, de 79 anos de idade, vinda de Évora, estava contente pela viagem a Coimbra. “Estes passeios são muito importantes para os mais idosos como eu. Faz-me sair da rotina do dia-a-a-dia. Na cidade do Templo de Diana frequento aulas de informática. O saber não ocupa lugar, nem tem idade”, conclui. Ao lado, Rui Gusmão, técnico superior no Ministério da Educação já aposentado, e Filomena Coelho, professora reformada de matemática, marido e mulher, vindos de Viana do Alentejo, estão muito satisfeitos com a vinda à cidade dos estudantes. “Esta visita é muito importante e o roteiro está muito bem organizado. Embora já cá tivéssemos vindo e algumas vezes visitássemos as partes mais importantes, desta vez ficámos com uma visão mais pormenorizada e a conhecer melhor a sua história. É uma boa iniciativa e, pela forma como nos recebeu, estamos muito agradecidos à Aposenior. Por ano fazemos duas ou três viagens temáticas como esta.”

AS MULHERES EM MAIORIA

Nas quatro dezenas de turistas, dois terços eram mulheres. Como é que se explica? Que os homens morrem mais cedo e, portanto, são menos já sabemos, mas será esta a explicação? Responde Maria de Jesus Florindo, a jovem e bonita presidente da Universidade Sénior de Évora: “As mulheres são mais participativas. Temos cerca de 240 alunos e oitenta por cento são mulheres. Desde 2006 que cooperamos com programas europeus de intercâmbio entre vários países. Uma das vantagens é a mobilidade. Os nossos alunos pagam 22 euros por mês e podem inscrever-se em três disciplinas. Os passeios são à parte. Estamos a comemorar o nosso décimo aniversário dentro de pouco tempo.”
Ainda acerca das mulheres estarem a bater os homens aos pontos, refere Antonieta Guerreiro, “Dou apoio voluntário aos doentes oncológicos no Hospital de Évora e, no grupo, somos 40 mulheres e um homem. Nós temos uma maior sensibilidade para as causas sociais”, rematou.
José Tacão, outro excursionista, meteu-se na conversa e atirou: “dou aulas de Shikung –ginástica e terapia- na Universidade Sénior de Évora. 99 por cento dos meus alunos são mulheres.”
Estão de parabéns a Universidade Sénior de Évora e a Aposenior de Coimbra. Pelos seus esforços, no desempenho social em prol dos mais velhos, Coimbra deve estar agradecida. Lembro que estão a decorrer as inscrições para aulas de teatro, informática e sessões para “treino da memória” na Aposenior, no Convento de Santa Clara-a-Nova.


DONA ROSA É UM PRAZER DAR-LHE PARABÉNS

O último dia 20 foi de festa na Rua Sargento Mor. E o caso não era para menos, Rosa Azevedo Neto comemorava 95 anos. Se todos os confinantes sabiam que Rosa é um encanto de pessoa, que basta olhar o seu rosto para se gostar, o que não adivinhavam é que a simpática vizinha canta fado como poucas. Pois se não sabiam ficaram a saber. A sua voz bem timbrada, acompanhada à viola, ecoou pelos becos circundantes e os muitos amigos ovacionaram com convicção a aniversariante. Com a lágrima no canto do olho, a criadora de flores de seda para vestidos de cerimónia agradeceu a gentileza de tão boa gente. Seguiu-se o apagar de velas e mais uma vez as palmas atravessaram o espaço sideral da amizade.
Em nome da Baixa, se posso referir assim, muitos parabéns dona Rosa. É um gosto enorme contar consigo.


FALECEU A ÚLTIMA PLISSADEIRA

Nos idos anos de 1970, apesar de cinquentenária, Lucília Dias Fernandes era uma estampa de mulher. Na Rua Corpo de Deus, número 3A, era conhecida por “Cilinha”, a “plissadeira” –a arte de plissar é uma técnica de fazer dobras, franzir, preguear o tecido fino de uma saia para, como um leque que se abre, a tornar mais rodada de uma forma ondulante. Ainda hoje se pratica, porém, deixou de ser um trabalho manual e passou a produto fabril.
A “Cilinha”, numa época em que tudo era recuperado e nada se perdia, apanhava as malhas caídas nas meias de vidro de senhora. Mas, verdadeiramente, o seu forte era o plissamento de saias e aventais brancos –no tempo em que este adorno feminino era imprescindível no uso de uniforme das criadas, agora, numa versão diferente, denominadas de empregadas domésticas.
Segundo uma vizinha que a conheceu bem e pediu o anonimato, “era uma mulher muito vistosa para qualquer olhar masculino. Era muito bonita. Ela trabalhou sempre muito até poder e manteve-se sempre na sua casa humilde onde passou a vida. O seu único filho, o Paulo, está com a família no Canadá mas, para além da “Cilinha” ter ido lá muitas ocasiões, ele vinha visitá-la periodicamente. Sei que ele tentou, nos últimos anos, que ela fosse para um lar e fosse mais acompanhada mas a familiar recusou sempre –ela era muito personalizada, “mandona” e muito senhora do seu nariz. O Paulo, perante a teimosia da mãe, nunca pode fazer grande coisa. Fez o que pode. Até que há cerca de uma semana ele veio e encontrou-a num estado deplorável. Foi então que ela foi internada e lá morreu esta semana.”
Ao Paulo Dias Coelho, esposa e filhos e restante família, em nome da Baixa, se posso escrever assim, as nossas sentidas condolências.


ENCERRA UM DOS ÚLTIMOS RETRATISTAS

Estabelecido há cerca de três dezenas de anos na Rua Martins de Carvalho, um dos mais conceituados fotógrafos da cidade, Rui de Almeida vai encerrar o seu estúdio no fim do mês, na antiga Rua das Figueirinhas.
Nasceu em 1937 e cedo, quase de cueiros, começou a amar a arte de retratar. Com 13 anos foi trabalhar para a Focus, na Rua Ferreira Borges -esta, felizmente, ainda em laboração. Com 16 anos, em 1953, transferiu-se para a Casa Ilda, do grande mestre, Varela Pécurto, no Largo da Portagem. No princípio da década de 1970 foi abrir a secção de fotografia na Bruma, na Rua Adelino Veiga – foi lá que o conheci pela primeira vez. A título de curiosidade, foi neste estabelecimento que, em 1976, comprei o meu primeiro frigorífico e televisão, a preto e branco, a prestações.
No seu laboratório da Rua Martins de Carvalho, em 30 anos fez de tudo na fotografia. Foi colaborador de vários jornais desportivos e de notícias, retratou casamentos, batizados, festas académicas e ganhou vários prémios em salões de arte fotográfica.
Apesar dos seus 78 anos, Rui Almeida sente-se cheio de força e vai continuar a trabalhar na fotografia. Esta arte fará sempre parte da sua vida e acompanhá-lo-á até ao resto dos seus dias. É a sua segunda alma. Sente algum desconforto por ser obrigado a claudicar mas a morte desta arte, como se conheceu ao longo de mais de um século, era inevitável. “A informática deu cabo da fotografia”, enfatiza com a voz embargada pela dor de quem se sente empurrado para a desistência.
Como se em solidariedade com este reputado fotógrafo, a Rua Martins de Carvalho parece nublada, sem alento e sem brilho, e cada vez mais abandonada. A Baixa, neste cai este agora, cai outro amanhã, vai ficando cada vez mais empobrecida. Quanto aos fotógrafos nesta zona tradicional de antanho já se contam por menos dos dedos de uma mão. Para eles, que corajosamente continuam a resistir, e para o senhor Rui Almeida uma enorme salva de palmas.


O ARTESANATO VAI REGRESSAR AO QUEBRA-COSTAS

Amanhã, dia 28, o artesanato urbano vai regressar às Escadas Quebra-Costas. Salienta-se que esta data será de exceção já que no futuro este certame será sempre realizado no primeiro sábado de cada mês.
Entre as 10 e as 19h00, naquele corredor histórico, que liga a Baixa à Alta e percorrido diariamente por centenas de turistas nacionais e estrangeiros, vamos poder apreciar artesanato urbano, gastronomia e vestuário. É uma organização de três lojistas, Miguel Lima, do Bar Quebra-Costas, Graça Carvalho, do Ólifante Shop, e Andreia Morato, do Portugal In Alta, e da ADAC, Associação para o Desenvolvimento e Defesa da Alta de Coimbra.
Segundo Andreia, “ao recriarmos novamente este evento –já que, embora em moldes diferentes, existiu até há cerca de dois anos- o propósito é, por um lado, dinamizar esta zona e, por outro, gerar uma oportunidade para que novos artistas tenham possibilidade de expor as suas criações. O que vai ser comercializado nesta feira terá de ter qualidade artística e sobretudo ser original. Não pretendemos fazer concorrência a ninguém e muito menos copiar iniciativas já existentes. Aproveito para convidar os leitores. Apareçam que vão gostar!”




















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