terça-feira, 3 de março de 2015

EDITORIAL: CAÇA AO INVESTIDOR LOUCO



Há cerca de uma semana que a Autoridade Tributária está a levar no país -e naturalmente também na Baixa- uma operação de fiscalização aos inventários declarados pelas empresas com movimentos de caixa anuais acima de 100 mil euros.
Não se pode contestar a legitimidade da acção. O que se questiona e custa a entender é o tempo e o modo em que são desencadeadas estas operações. Numa altura em que as pequenas e pequeníssimas empresas, sob a alçada de um feroz confisco fiscal desde há quatro anos, se debatem de uma forma heroica pela sobrevivência e onde as falências têm sido aos milhares, fará coerência este combate cerrado em jeito de purga? Fará sentido querer fazer-se tudo a correr o que não foi feito em quatro décadas? Faz porque, contrariamente ao que parece, não se trata de alcançar um objectivo económico de prevenção futura mas sim de um processo estritamente político. A escassos seis meses das eleições legislativas está de ver que vale tudo, mesmo até malhar em mortos. A ética e a moral, que devem majorar os princípios de uma Nação e contribuem para cidadãos cumpridores, desapareceram. Os símbolos, representativos de uma sociedade decadente, como valores emergentes de poder, são a lei, criada como instrumento repressivo, e o pau, como meio intimidatório. Um Estado assim, com governantes a agirem desta maneira, só pode redundar em algo trágico e o fim de um sistema desequilibrado e discriminatório onde o pequeno está sempre tramado e o grande passa sempre pelas entrelinhas. O que interessa é mostrar aos eleitores que todos os investidores, aqueles que ousaram arriscar dando emprego, são passíveis de burlar o Estado. E é simples por que a mensagem passa facilmente. Está de ver que pouco importa ao Primeiro-ministro, Ministra e Secretário de Estado das Finanças que várias empresas, já a funcionar na linha vermelha, vão para o charco e com elas milhares de empregos.
Será este modo de governar aceitável? Sobretudo, vindo de um Governo preocupado com a economia social de um país que se arrasta há uma década e à espera de uma retoma que tarda? Talvez Maquiavel explique!


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