Era meio-dia deste Sábado quando o meu amigo,
acompanhado do neto, me entrou pela porta e atirou de supetão: “então vim eu com o meu neto para comprar
arrufadas e lhe mostrar como, até há cerca de meio-século, era feita a sua
venda aqui na Baixa através do pregão e com os tabuleiros de madeira à cabeça
das mulheres e afinal não há nada? Isto é publicidade enganosa!”
De facto, passado um quarto de hora depois do
meio-dia já não havia animação na Praça 8 de Maio e conforme o anunciado nos
jornais, nomeadamente n’O Despertar: “Os
doces e apetecíveis aromas prometem voltar a seduzir quem passar amanhã
(Sábado) pela Praça 8 de Maio, antigo Largo do Sansão. Tal como manda a
tradição, no sábado da Aleluia, o Grupo Etnográfico da Região de Coimbra (GERC)
realiza mais uma Festa da Arrufada, trazendo para a rua centenas de atrativos,
fofos e apetitosos bolos. Entre as 9h00 e as 13h00, a praça vai encher-se de
vendedeiras que vão colocar os seus tabuleiros em linha e vão apregoar o seu
produto. Tal como acontecia no passado, o grupo pretende recriar todo o
ambiente festivo associado a esta tradição, onde o burburinho do público quase
que abafava os pregões das vendedeiras atarefadas.”
Falei com um operador da zona. Com a minha
anuência de não o identificar -perante o tão meu conhecido “não diga que fui eu
que disse”-, aceitou falar e declarou o seguinte: Estiveram aí umas cinco bancas, mais ou menos até às 11h00, com
pessoas a vender arrufadas. Mas, pareceu-me, traziam poucas –iam adquiri-las a
uma carrinha que estava aí estacionada. Este doce tradicional não chegou para
as encomendas. Não ouvi nenhum pregão. Até gostava de ter ouvido. Seria uma
óptima ideia se fosse mais explorada”. Sei que andou uma vendedeira –pelo menos
uma foi vista-, e o seu pregão ecoou pelos beirais.
Prossegue o meu depoente, “esta Praça 8 de Maio está feita numa
bandalheira. Olhe ali o espelho de água –está com imensos papéis a boiar. Há
gente a atirar os detritos lá para dentro de propósito. Para além disso, por
exemplo, a tuna que actuou às 11h00 –Tuna do Instituto Superior De
Contabilidade e Administração- coincidiu
com a missa na igreja. É uma falta de respeito. Embora não saiba o motivo, creio
que o pároco até veio cá fora para colocar alguma ordem. Esta manhã, aqui no
antigo Largo de Sansão, o que até poderia ser uma iniciativa muito engraçada
foi uma coisa muito triste. Muito pobrezinha!”
ALGUMAS “ILHAS” ESTIVERAM ANIMADAS DURANTE A TARDE
Neste quarto
Sábado do mês, por isso mesmo, realizou-se, na Praça do Comércio, a Feira de
Velharias. Para além deste certame, nas Escadas do Quebra-Costas havia também
uma interessante feira de artesanato urbano. Foi uma organização de alguns
lojistas e da ADDAC, Associação para o Desenvolvimento e Defesa da Alta de Coimbra, e, futuramente, vai praticar-se sempre no primeiro Sábado de cada mês –esta
produção de hoje foi uma excepção para não coincidir com a Páscoa. Durante a
tarde, cerca das 15h00, qualquer um destes eventos estava bem concorrido com
público e era notório um ambiente de festa.
No Dia Mundial da Juventude, com espectáculo promovido
em parceria entre o Café Santa Cruz e a Câmara Municipal de Coimbra, os gaiteiros
“Roncos e Curiscos” exibiam a sua
música junto ao vetusto café e juntavam alguma assistência na Praça 8 de Maio e
ruas largas. Nas artérias estreitas, com bastantes lojas abertas nesta tarde
solarenga, não se passava nada. Nem a festa cá chegou, nem o público veio atrás
dos foguetes. Mais uma vez venho bater no ferro frio. Nos dias festivos é preciso ligar estas ilhas. No caso de hoje, Praça 8 de Maio,
Praça do Comércio e Escadas do Quebra-Costas. E como é que se fazia a ponte?
Bastava descentralizar a Feira de Velharias da antiga Praça Velha e, fazendo um
círculo, estendê-la pelas ruas estreitas e largas –como se faz em Aveiro. Por
seu lado a feira de artesanato do Quebra-Costas descia até à Rua Ferreira
Borges. Qual é a consequência deste isolamento? É que cada um, no seu canto,
tenta safar-se. Se estivessem todos ligados, para além de desenvolver toda a
Baixa e convidar mais lojas comerciais a estarem abertas ao Sábado de tarde, o
público de um seria o mesmo do outro. Assim não. Parece que estamos todos de
costas voltadas.
No caso das Escadas de Quebra-Costas o que se
espera para “derrubar” a psicológica fronteira existente no Arco de Almedina
e considerar esta zona –até ao cimo e junto ao Largo da Sé Velha e até ao
antigo Governo Civil- como fazendo parte integrante da Baixa? Até parece que
estamos na Idade Média e a cidade continua dividida. Ridículo, digo eu!
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