quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

CARTA ABERTA À VEREADORA CARINA GOMES



Em representação da ABCC, Associação de Beneficência ao Comerciante de Coimbra, em Novembro de 2013, portanto há um ano e dois meses, enquanto presidente da associação formalmente constituída, Armindo Gaspar pediu a primeira audiência à senhora vereadora da Cultura, Carina Gomes. Como esta edil nunca se dignou responder, por mais duas vezes se insistiu na solicitação, o que veio a acontecer esta semana.

MAS PORQUE FOGE A VEREADORA?

O que está em causa e na génese desta reunião é o compromisso que a edilidade conimbricense tem para com os comerciantes de Coimbra. Trata-se de uma promessa transcrita na acta municipal de 14 de Outubro de 2002 em que, em compensação pela aprovação do Fórum Coimbra, a Câmara Municipal prometia ceder um terreno para a construção da “Casa do Comerciante” no Planalto de Santa Clara.
Em 13 de Fevereiro de 2012, juntamente com um grupo de comerciantes, apresentei-me na sessão aberta ao público do executivo municipal para reivindicar parte da promessa não cumprida. Por impossibilidade de construir, agora pedíamos simplesmente um espaço para prosseguirmos a acção social. Perante as iminentes insolvências de vários comerciantes na Baixa de Coimbra começava a fazer sentido tentar fazer renascer este projecto esquecido. Nessa altura, o então presidente camarário Barbosa de Melo, com a frase “agora sim, o comércio atravessa uma crise muito grande”, prometeu que iria cumprir a deliberação exarada em acta. Passaram uns meses e em Junho, agora como representante da Comissão Instaladora e perante membros da mesma, voltei ao executivo para lembrar do compromisso anteriormente assumido. Mais uma vez Barbosa de Melo reiterou que o assunto estava em andamento e tinha encarregado o  director do Gabinete de Inovação e Desenvolvimento Económico, Veiga Simão, de chamar a si a sua execução. Álvaro Seco, em representação dos membros da bancada da oposição, do Partido Socialista, reiterou: “os comerciantes, neste projecto, ao contentarem-se com uma sala –que sala? T0, T1?-, têm pouca ambição. Deveriam estar aqui não a pedir mas sim a exigir.”
Logo a seguir, na presença de Veiga Simão, foi-nos oferecida uma sala no Mercado Dom Pedro V para a futura sede da ABCC, que nos seria entregue proximamente, em regime de comodato no prazo de cinco anos. Passado um tempo fomos convocados para uma reunião com o vereador José Belo. Segundo este responsável pelo pelouro, “aquela sala no mercado não tinha dignidade suficiente para um projecto desta importância e por isso mesmo tinha pensado noutro espaço: um anexo em mau estado de conservação, no mesmo Mercado Municipal e junto à Rua Martins de Carvalho”. Naturalmente, e dentro do espírito de boa-fé, aceitámos. Foi acordado que a autarquia faria as obras necessárias e o prédio nos seria entregue passados alguns meses. O tempo foi correndo, passou um ano, e nova proposta: afinal cinco anos em comodato era demais, passava para dois. Negámos e ameaçámos tornar público este dar o dito por não dito. Retornou aos cinco anos. E ficámos à espera da entrega do espaço. Uns meses antes das eleições autárquicas de 2013 foi-nos proposta nova alteração: a edilidade cedia 14.500,00 euros para as obras e a comissão instaladora da ABCC chamava a si o restauro do edifício. Ora, não sendo a construção civil o nosso forte, declinámos o plano e ficámos à espera do resultado eleitoral.

MUDA A COR MAS TUDO NA MESMA… PARA PIOR

Ganhou o PS as eleições e, pelo esforço de Armindo Gaspar, tentámos ser ouvidos pelo novo presidente da edilidade, Manuel Machado. Nunca nos recebeu. Em Novembro deste ano de 2013, através de pedido escrito e por indicação de que seria a responsável, solicitámos uma audiência à vereadora da Cultura, Carina Gomes. Passou um ano e nem um sinal da dirigente pela pasta cultural. Nova solicitação escrita no gabinete de atendimento e nada. Há cerca de um mês, Armindo Gaspar encontrou Machado e falou-lhe deste atraso e foi então acordado que Carina Gomes iria receber dirigentes da ABCC e que posteriormente daria conta. Foi marcado um encontro para o dia 3 de Fevereiro, pelas 11h30.

EUREKA!

Cerca do meio-dia da data aprazada, na casa da Cultura, recebeu-nos a vereadora da Cultura. Em torno da mesa e rodeada por um técnico e um assessor, ao lamento de Armindo Gaspar de só nos receber um ano e dois meses depois respondeu a edil: “Eu chamo-me Carina Gomes e não Carina Alves. A carta que o senhor enviou não era para mim!” –fim de citação!! Perguntei à senhora se, por acaso, havia mais do que uma vereadora da Cultura na Câmara Municipal de Coimbra. Com um permanente sorriso irónico, respondeu que o apelido estava errado e ponto final. O erro foi de Armindo e não dela.
Tinha de levar o que merecia: perguntei se tínhamos cara de parvos. Estava desembainhada a espada de guerra. Durante largos e muitos minutos não me olhou e só falava para Armindo Gaspar. Como rainha no seu castelo, ostentava no rosto uma notória superioridade e um presumível sarcasmo. De tal modo que chegou a dizer a Armindo: “não esteja tão nervoso. Não há razão para tal!”.
Porque estava à vontade –estou sempre, já levo alguma experiência com estas pessoas que raramente me deixam saudade- fui metendo umas graças e a tensão entre mim e a mesa aliviou-se, embora por pouco tempo. Mostrando a anfitriã completo desconhecimento do que estava a ser discutido, a conversa ia fluindo e até já havia sorrisos. Até que um técnico presente lançou a bomba de que a contrapartida municipal, exarada em acta de 2002, por um lado, poderia ser devida pelo Fórum Coimbra, por outro, até poderia ter prescrito. “As contrapartidas podem ter um prazo de validade”, arguiu, do alto do seu grande saber tecnocrata. Ou seja, estava metido o pau na roda para lançar a dúvida e a confusão. Para mim nem deveria ser nada de novo. Já conheço este procedimento. Há funcionários que para ficarem bem na foto conseguem ser piores que o chefe político. O problema é aguentar este género de contra-argumentação, cujo objecto é simplesmente ganhar tempo e gerar dificuldades. Interroguei se estava ali no papel de economista ou advogado. Caiu o Carmo e a Trindade. “O senhor está a ofender-me”, replicou o sujeito com veemência. Com as minhas desculpas de que não tinha tal intento, prosseguiu o homem com a sua explanação dizendo que “há uma grande procura de espaços na Baixa, o problema são as rendas. Há comerciantes a ganharem muito dinheiro!”. Pronto, estava tudo estragado outra vez! Repliquei que o comércio na Baixa está catastrófico. Bastava lembrar que, nos dois anos antecedentes, três comerciantes da direcção da ABCC faliram. Quem está a ganhar dinheiro? Pode apontar o nome de um comerciante? O senhor não sabe nada do que se passa no comércio! Atirei assim a frio. Olha o que eu fui dizer! Saltou logo toda a mesa em sua defesa. A vereadora tomou o comando da ofensiva e replicou que há muitas verdades e que a minha não era a única. Atirando um argumento que só quem não sabe o que se passa o invoca, arremessou: “Olhe os horários do comércio! Ao Sábado, de tarde, está tudo encerrado. As ruas estão cheias de gente. Eu vejo!”, enfatizou com solenidade. Estava mesmo a pedi-las, pensei para mim. Ai sim? Eu estou aberto ao Sábado todo o dia e não tenho ninguém, por que não há pessoas, a Baixa fica completamente desertificada. A senhora, ao ver o que ninguém vê, está a precisar de óculos! Outra chatice! “O senhor está a ofender-me!”, argumentou a dona da Cultura. Ai estou?, defendi-me. Vocês, políticos, estão habituados ao beija-mão e a que todos concordem com o que dizem. Quando alguém discorda, queixam-se de ofensa. Se a senhora não tem estômago para ouvir o que um cidadão tem para lhe dizer, mude de profissão. Esta não lhe assiste nem nos serve! Avoquei.
Saltou em sua defesa o assessor: “o senhor não deixa falar ninguém. O comércio está muito mau mas não está catastrófico! Não é a mesma coisa! O senhor está a ofender a senhora vereadora!”. Ai estou? Interroguei. Não sabia!
Estava tudo desconversado. Despedi-me com um aperto de mão e com a frase: apesar de tudo gostei de falar convosco. É verdade! Esta conversa veio mostrar-me o que já imaginava: com estas pessoas não vamos longe! Pela parte que me toca, creio que não me apanharão mais em qualquer frente-a-frente. O desencanto é demasiado para voltar a falar consigo, senhora vereadora, Carina Gomes… (não Alves).



1 comentário:

Jorge Neves disse...

Realmente existem pessoas que começam a fazer sentir falta dos tempos de Barbosa de Melo.
Eu já enviei para o mail da CMC há 8 dias um email a solicitar uma reunião na qualidade de Representante dos Pais e Encarregados de Educação do Conselho Geral do Agrupamento de Escolas Coimbra Centro e nem se dignaram acusar a recepção do mesmo.