A crónica que escrevi sobre a vereadora da Cultura,
da edilidade, Carina Gomes, mostra bem o respeito que os eleitos têm pelos munícipes.
Coimbra, na mensagem que passa para o exterior, é uma cidade desenvolvida e
moderna, mas, para quem cá vive e observa, é uma urbe tacanha, minorca, subdesenvolvida, onde
há décadas se pratica um convénio aceite tacitamente entre o senhor e o servidor. O primeiro, o fidalgo,
colocando-se em bicos de pés e falando grosso, utiliza o poder que lhe foi
conferido pelo destino e distribui pequenos favores e prebendas aos mais chegados. Servindo-se
de um certo paternalismo, buscando palmadinhas nas costas, usa e abusa do
seu domínio. O segundo, o servo, numa
vassalagem indigna mas tacitamente prestada por saber que lhe cairão no regaço
umas lentilhas, com muita hipocrisia à mistura aceita venerar o poderoso. É
assim há décadas no país, é assim há mais de um século em Coimbra.
Serviu-me esta introdução por me lembrar de
uma pequena história passada há uns anos. Um vereador da edilidade convidou-me
para almoçar num determinado restaurante onde almoçava todos os dias. À saída
fomos acompanhados pelo hoteleiro. O edil disse-me: “espere um pouco. Vou ter de levar uns frutos, o dono do restaurante
insiste”. Mergulhou numa arrecadação e saiu com um saco plástico com fruta.
Ora, está de ver, este eleito nunca deveria ter aceitado tal prenda. Mas recebeu
porquê? Porque, no seu entendimento, aquele gesto era uma prova de carinho, dependente de uma
demonstração de submissão do outro perante o seu imaginário poder. Nem por momentos logrou
que estava a ser subornado pelo empresário “chico-esperto” em troca de coisa nenhuma.
Qualquer autarca, sendo sério e bom político no contacto pessoal, pela
obrigação de conhecer bem toda a restauração da sua cidade, para além de não aceitar seja o que for, deveria ter o
cuidado de visitar todos os estabelecimentos, sem discriminar nenhum. Tudo
começa nos pormenores.
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1 comentário:
O problema, de facto, não é o tamanho do sitio mas, a pequenez das pessoas
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