sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

EDITORIAL: COIMBRA, CIDADE PEQUENINA




A crónica que escrevi sobre a vereadora da Cultura, da edilidade, Carina Gomes, mostra bem o respeito que os eleitos têm pelos munícipes. Coimbra, na mensagem que passa para o exterior, é uma cidade desenvolvida e moderna, mas, para quem cá vive e observa, é uma urbe tacanha, minorca, subdesenvolvida, onde há décadas se pratica um convénio aceite tacitamente entre o senhor e o servidor. O primeiro, o fidalgo, colocando-se em bicos de pés e falando grosso, utiliza o poder que lhe foi conferido pelo destino e distribui pequenos favores e prebendas aos mais chegados. Servindo-se de um certo paternalismo, buscando palmadinhas nas costas, usa e abusa do seu domínio. O segundo, o servo, numa vassalagem indigna mas tacitamente prestada por saber que lhe cairão no regaço umas lentilhas, com muita hipocrisia à mistura aceita venerar o poderoso. É assim há décadas no país, é assim há mais de um século em Coimbra.
Serviu-me esta introdução por me lembrar de uma pequena história passada há uns anos. Um vereador da edilidade convidou-me para almoçar num determinado restaurante onde almoçava todos os dias. À saída fomos acompanhados pelo hoteleiro. O edil disse-me: “espere um pouco. Vou ter de levar uns frutos, o dono do restaurante insiste”. Mergulhou numa arrecadação e saiu com um saco plástico com fruta. Ora, está de ver, este eleito nunca deveria ter aceitado tal prenda. Mas recebeu porquê? Porque, no seu entendimento, aquele gesto era uma prova de carinho, dependente de uma demonstração de submissão do outro perante o seu imaginário poder. Nem por momentos logrou que estava a ser subornado pelo empresário “chico-esperto” em troca de coisa nenhuma. Qualquer autarca, sendo sério e bom político no contacto pessoal, pela obrigação de conhecer bem toda a restauração da sua cidade, para além de não aceitar seja o que for, deveria ter o cuidado de visitar todos os estabelecimentos, sem discriminar nenhum. Tudo começa nos pormenores.


TEXTOS RELACIONADOS



1 comentário:

Tétisq disse...

O problema, de facto, não é o tamanho do sitio mas, a pequenez das pessoas