Hoje, terça-feira, dia solarengo, e Dia de
Carnaval, em que o Governo não tornou feriado nem deu tolerância de ponto à
função pública mas que muitas autarquias –incluindo a de Coimbra- deram, só
cerca de dez por cento das lojas de comércio tradicional, na Baixa, estiveram
abertas.
Com esta introdução já posso escrever
sobre onde quero chegar:
Primeiro, fará algum sentido o executivo
ministerial não dar tolerância de ponto quando, a seguir, pelas competências de
independência do poder local, é ultrapassado e desvalorizado por muitas câmaras
municipais? Será que este Governo é masoquista? Gosta de ser chicoteado? Ou
será autista (sem ofensa para os familiares dos próprios) e prefere caminhar
predestinadamente sem olhar ao que se passa em redor?
Segundo, estando toda a função pública a
trabalhar, como a Loja do Cidadão por exemplo, e não tendo Coimbra tradição
carnavalesca, em que fundamento assentou a decisão de encerrar os serviços
camarários? Até se entendia, se tivesse grandes festividades em curso, como é o
caso de outras cidades como Mealhada, Torres Vedras e outras. Ora, como escrevi
atrás, a cidade dos estudantes não tem. Como entender esta decisão num tempo de
crise, em que se deveria apelar ao trabalho dando o exemplo e mostrar entrega pessoal
e colectiva para sairmos deste estado letárgico que nos tem mandado para o
charco? Nesta decisão do presidente da Câmara Municipal de Coimbra, só se podem
extrair estas razões: política partidária no pior, utilizada como afronta e
arma de arremesso ao Governo, falta de bom senso na governação local e
necessidade de agradar a todo o custo ao pessoal da autarquia.
Terceiro, estando o comércio de rua no estado miserável
em que se adivinha –porque está mesmo! Sei que está! Não é invenção minha! Se
bem que, às vezes, comece a pensar que é! Que só eu mesmo tenho dificuldades!-
como entender que só uma ínfima parte deste universo comercial estivesse
aberto? Argumentar que a urbe fica vazia neste dia e não haverá negócio só em
parte pode aceitar-se. Todos os dias são imprevisíveis, por isso mesmo o Dia de
Carnaval não é diferente dos demais. Acho que os comerciantes ainda não
entenderam que devem ser menos egoístas e darem um pouco de si à cidade. Abrir
o estabelecimento não pode assentar apenas no deve e haver –bem sei que
é o essencial, o húmus, mas para além desta essência tem de restar alguma
prestabilidade em nome da sociabilidade e do respeito colectivo. Fazemos parte
de um todo. Não estamos isolados. Somos fios que se entrelaçam e formam uma
teia. Nem que fosse para mostrar às entidades públicas que, mesmo coxos e
debilitados, estamos cá para o que temos e vier. Perante este comportamento
maioritário, como é que se argumenta contra o pensamento geral de que o
comércio está muito bem e a ganhar muito dinheiro? Não tenho dúvida de que
estamos em face de uma adversidade muito maior do que a crise financeira: o desalento
endémico, o baixar os braços, o enfiar o chapéu de vencidos da vida.
Não seria melhor, o Governo, as
autarquias, os comerciantes, todos desafivelarem a máscara e mostrarem a cara
tal como ela é? Sem jogos faciais, sem contorcionismos, sem falsidade? É que
assim, se continuamos a fingir com a mesma careta, o Dia de Carnaval não faz
qualquer sentido.
Sem comentários:
Enviar um comentário