terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

NESTE CARNAVAL, OS CARETAS DO COSTUME




Hoje, terça-feira, dia solarengo, e Dia de Carnaval, em que o Governo não tornou feriado nem deu tolerância de ponto à função pública mas que muitas autarquias –incluindo a de Coimbra- deram, só cerca de dez por cento das lojas de comércio tradicional, na Baixa, estiveram abertas.
Com esta introdução já posso escrever sobre onde quero chegar:
Primeiro, fará algum sentido o executivo ministerial não dar tolerância de ponto quando, a seguir, pelas competências de independência do poder local, é ultrapassado e desvalorizado por muitas câmaras municipais? Será que este Governo é masoquista? Gosta de ser chicoteado? Ou será autista (sem ofensa para os familiares dos próprios) e prefere caminhar predestinadamente sem olhar ao que se passa em redor?
Segundo, estando toda a função pública a trabalhar, como a Loja do Cidadão por exemplo, e não tendo Coimbra tradição carnavalesca, em que fundamento assentou a decisão de encerrar os serviços camarários? Até se entendia, se tivesse grandes festividades em curso, como é o caso de outras cidades como Mealhada, Torres Vedras e outras. Ora, como escrevi atrás, a cidade dos estudantes não tem. Como entender esta decisão num tempo de crise, em que se deveria apelar ao trabalho dando o exemplo e mostrar entrega pessoal e colectiva para sairmos deste estado letárgico que nos tem mandado para o charco? Nesta decisão do presidente da Câmara Municipal de Coimbra, só se podem extrair estas razões: política partidária no pior, utilizada como afronta e arma de arremesso ao Governo, falta de bom senso na governação local e necessidade de agradar a todo o custo ao pessoal da autarquia.
Terceiro, estando o comércio de rua no estado miserável em que se adivinha –porque está mesmo! Sei que está! Não é invenção minha! Se bem que, às vezes, comece a pensar que é! Que só eu mesmo tenho dificuldades!- como entender que só uma ínfima parte deste universo comercial estivesse aberto? Argumentar que a urbe fica vazia neste dia e não haverá negócio só em parte pode aceitar-se. Todos os dias são imprevisíveis, por isso mesmo o Dia de Carnaval não é diferente dos demais. Acho que os comerciantes ainda não entenderam que devem ser menos egoístas e darem um pouco de si à cidade. Abrir o estabelecimento não pode assentar apenas no deve e haver –bem sei que é o essencial, o húmus, mas para além desta essência tem de restar alguma prestabilidade em nome da sociabilidade e do respeito colectivo. Fazemos parte de um todo. Não estamos isolados. Somos fios que se entrelaçam e formam uma teia. Nem que fosse para mostrar às entidades públicas que, mesmo coxos e debilitados, estamos cá para o que temos e vier. Perante este comportamento maioritário, como é que se argumenta contra o pensamento geral de que o comércio está muito bem e a ganhar muito dinheiro? Não tenho dúvida de que estamos em face de uma adversidade muito maior do que a crise financeira: o desalento endémico, o baixar os braços, o enfiar o chapéu de vencidos da vida.
Não seria melhor, o Governo, as autarquias, os comerciantes, todos desafivelarem a máscara e mostrarem a cara tal como ela é? Sem jogos faciais, sem contorcionismos, sem falsidade? É que assim, se continuamos a fingir com a mesma careta, o Dia de Carnaval não faz qualquer sentido.

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