LEIA AQUI O DESPERTAR DESTA SEMANA
Para além do texto "REFLEXÃO: UM DIA DE NAMORADOS", deixo também as crónicas "UMA PALMADA DE LESTE COM CLASSE"; "O CORTÊS JÁ TEM UM "ORGON"; "FURTARAM O "ORGON" AO CORTÊS; "ABRIU O CAFÉ DA LOJA; e "FALECEU OSVALDO FERNANDES"
REFLEXÃO: UM DIA DE NAMORADOS
O dia 14 de Fevereiro é considerado o Dia dos
Namorados. Quem for casado ou conviva em união de facto, pelo menos nesta data,
ofereça uma rosa ao seu amor. Se puder, leve-a a jantar fora ou, no mínimo, ao
cinema –e por que não “As 50 sombras de
Grey”? Ainda não vi este filme que estreou recentemente. Sobretudo nos
casamentos longos, temos tendência, todos, homem ou mulher, a esquecer as
gentilezas, os pormenores, que transformam uma relação diferente a dois.
Acomodamo-nos. Achamos que a/o comparte está conquistado e já não é necessário
fazer nada para o manter. Erro crasso para tantos de nós! O amor é como um
jardim, se não for continuamente regado, fenece e morre.
Para quem não tem namorada, ou companheira,
por ser viúvo, divorciado, solteiro, sozinho, pode ser um dia muito triste e a
defesa para muitos, creio, é o álcool. Para estes solitários é um dia de
enterrar a cabeça no travesseiro, no etílico, nas sobras de um passado,
empoeirado e cheio de sombras, que não volta, para esquecer um tempo que teima
em vir ao de cimo e sobrepor-se a todas as recordações. Para estes muita
coragem e ganhem esperança de que há sempre alguém à espera. Não se escondam
atrás do reposteiro ou dos efeitos alucinogénios para aguentar o mundo que
parece ter aterrado em cima dos seus ombros. Vão à luta. Para muitos destes,
sobretudo pessoas com alguma idade, o facto de serem info-excluídos, não
saberem lidar com computadores, pode ser uma enorme barreira. Apesar de haver
muitas instituições de apoio à terceira idade, penso, ainda não se dá o devido
valor a este facto e o quanto a sua ignorância pode contribuir para a solidão e
infelicidade de tantos.
Há pouco tempo um meu amigo, já com alguma
idade, pedindo-me ajuda, alertou-me para duas premissas que contribuíam
enormemente para a sua angústia e isolamento e que eu nunca tinha pensado. A
primeira é a precisão de saber comunicar na Internet e a segunda é a
necessidade de saber dançar. O meu amigo, de cerca de sete décadas mas com aspeto
de ter menos idade, mostrou-me a sua impotência para arranjar uma companheira
para os dias que teimam em ser curtos e noites que, por não conseguir dormir,
são demasiadamente compridas.
Nem nos passa pela cabeça os dramas que
acontecem entreparedes de silêncio e retiro na terceira idade. São tragédias
que, por sermos mais novos e ainda nos mexermos bem, nos passam ao lado. Há uma
imensidão invisível à espera de um simples sorriso de alguém. No Dia de
Namorados, que já foi, pensemos nisto.
UMA PALMADA DE LESTE COM CLASSE
Na quarta-feira da semana passada, logo ao
abrir dos estabelecimentos, visitaram algumas ourivesarias e uma loja de
velharias e antiguidades. Eram dois homens e uma mulher com idades entre os
cinquenta e os sessenta anos. Bem vestidos, com fatos de bom corte, e a
arranhar o português de modo a conseguirem ser entendidos, pareciam turistas em
trânsito. Só com muita sorte, pela pronúncia, se poderia adivinhar que eram
bandidos.
Passava pouco das 10h00 quando entraram na ourivesaria
Ágata. Enquanto um homem entretinha António Cruz, para lhe mostrar uma salva de
prata, a mulher dava a “palmada” a
uma pulseira e um colar, ambos de ouro maciço e no valor arredondado de 2000
euros. A vigarista saiu com o acompanhante e o segundo homem, “entretainer”, continuou a falar com o
proprietário do nobre estabelecimento. Certamente quando o casal já se tinha
afastado o suficiente para não ser apanhado, o segundo burlão, com cortesia e
elegância, despediu-se do lojista com a recomendação de que voltaria mais
tarde. Andavam a ver peças para um amigo. Foi então que o reputado comerciante
da Baixa se apercebeu do furto. Ainda correu as ruas em redor mas dos ladrões
nem sombras.
António Cruz tinha um ar
combalido, como se, de repente, lhe acrescentassem mais uma vintena de anos. “Bolas! Estou a vender cerca de 10 por cento
do que comercializava há uns anos atrás e, sem que se conte, uma pessoa leva
uma “chapelada” destas!”, enfatiza. Sinto-me
agredido, com um mal-estar impossível de descrever”.
As lojas, na maioria, detém apenas uma pessoa.
Por isto mesmo escrevo esta crónica. É preciso muita atenção aos grupos e à sua
apresentação. Qualquer um de nós está preparado para suspeitar do malvestido e
deixar à vontade o bem aprumado. Como tantas vezes tenho escrito, a vida de um
comerciante de rua é cada vez mais uma espécie de roleta russa. Nunca se sabe
quando, por motivos vários, pode tombar.
O CORTÊS JÁ TEM UM “ORGON”
Passavam poucos minutos das nove quando o
telemóvel tocou. Era o senhor Olímpio Medina, o proprietário do mais
identificativo estabelecimento, com o mesmo nome, de instrumentos musicais da
Baixa. “Alô, Luís? Queria pedir-lhe um favor.
É o seguinte: ontem ligou para aqui um senhor de Miranda do Corvo a dizer que
leu no jornal O Despertar o que você escreveu e tem um órgão para oferecer ao
Luís Cortês mas que só o pode trazer para Coimbra quando vier cá. Acontece que
o Cortês anda desesperado, até já me quer comprar um órgão de qualquer jeito
–sei lá onde vai ele buscar o dinheiro? Precisa de trabalhar e ganhar.
Entende-se! Então liguei ao senhor de Miranda a propor-lhe ir lá buscar o
instrumento mas ele, como não me conhece, pareceu receoso. Então pensei que se
você fosse comigo seria mais fácil. Íamos no meu carro. Pode ir comigo?”
E, como dois catraios em busca de uma solução
que pode ajudar a salvar um amigo, lá fomos
–interessante como, por algo que consideramos bom, largamos tudo sem olhar a tempo
e a despesas. É como se, passando o devido exagero, corrêssemos em busca de um
medicamento que pode salvar uma vida –foi isto mesmo que senti no
entusiasmo manifestado pelo senhor Olímpio.
Chegámos a Miranda do Corvo e ligámos ao benfeitor
que se tinha disponibilizado para oferecer o instrumento ao Luís Cortês. Veio
então o senhor Jorge Santos com um teclado Yamaha
debaixo do braço. Pelas feições, reconheci-o de Coimbra, já lá vão muitas
décadas. Disse-nos que estava aposentado por invalidez e que ao ler o apelo no
jornal ficou muito sensibilizado. Por que o podia fazer, tinha muito gosto em
contribuir para um dia-a-dia melhor do músico de rua, da Baixa de Coimbra.
Mesmo contra a sua vontade -por não gostar de publicidade, disse-, lá consegui
tirar uma foto do momento. Expliquei porque o fazia. Este seu gesto pode levar
outras pessoas a fazer o mesmo para situações análogas. Comportamento gera
comportamento. Apenas por isso e nada mais. Um agradecimento do tamanho do
mundo para este benemérito, Jorge Santos, e um grande abraço para o senhor
Olímpio. Neste dia, durante a tarde, o Cortês já manifestava um sorriso de
felicidade. Não é tão bom quando tudo acaba bem?
FURTARAM O “ORGON” DO CORTÊS
Hoje, quarta-feira, durante a tarde, alegadamente,
um indivíduo pegou no órgão do Cortês, o músico de rua que costuma estar em
frente à Igreja de Santa Cruz, colocou-o debaixo do braço e abalou em direcção
à Praça do Comércio. De salientar que este instrumento musical foi oferecido há
cerca de uma semana por um benemérito de Miranda do Corvo, de nome Jorge
Santos.
Segundo pessoas presentes na Praça 8 de Maio,
indignados com a acção do energúmeno que teria surripiado o “orgon” ao Cortês, não deixaram de contar
que o instrumentista é muito desleixado e não cuida dos bens à sua guarda. “Muitas
vezes deixa o seu ganha-pão abandonado ao sol e à chuva sem levar em conta a
importância para a sua sobrevivência. Depois acontece isto!”, referiram.
Foi apresentada participação do furto na PSP.
Se o leitor tiver alguma informação que possa ajudar, por favor, informe a
polícia.
FALECEU OSVALDO FERNANDES
No último fim-de-semana, Osvaldo Augusto
Fernandes, de 83 anos, partiu do nosso meio. O seu funeral, com missa de corpo
presente no Centro Funerário Nossa Senhora de Lurdes, realizou-se nesta
segunda-feira. Pessoa muito conhecida na Baixa, nasceu no Beco das Canivetas,
morou na Rua das Rãs e, durante muitos anos, até final da década de 1980, foi
fabricante de malas com oficina na Rua Corpo de Deus onde veio a residir até há
cerca de sete anos quando se transferiu para o Lar Graça de São Filipe, em
Bencanta, São Martinho do Bispo. Sei que foi muito bem cuidado nesta casa e,
até ao último minuto de vida, muito bem acompanhado pela sua filha Isabel
Fernandes a quem, naturalmente, deixa um oceano de saudade.
O Senhor Osvaldo era irmão de João Fernandes,
ex-delegado da Fundação Inatel, a quem, do meu cantinho, endereço um grande
abraço de solidariedade nesta hora de angústia e sofrimento.
À Isabel Fernandes, aos filhos desta e netos
do desaparecido, ao meu amigo João Fernandes, em nome da Baixa, que vê partir
mais um dos seus obreiros, um enorme carinho de solidariedade e os sentidos
pêsames.
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