No próximo dia 24 de Março o “Cantinho da Anita”, o mais bonito e emblemático estabelecimento de artesanato da Baixa, fará 29 anos de existência. Antes de
bater palmas, de parabéns, vale mais ler o que está escrito a seguir: a “Casa Anita” vai encerrar. Para além de,
logicamente, já não comemorar as três décadas, no final deste mês de Março fechará as portas para sempre. Se necessário para escoar a existência pode ainda manter-se mais uns meses aberto.
Maria Hermínia Matos, a criadora, o mentor, deste ícone
turístico e tão representativo da cidade, tal qual um postal ilustrado, embora
se pressinta um nó na garganta, é uma mulher conformada com este triste desfecho.
“Não me resta outra solução. Há vários
meses que, colocando aqui dinheiro da minha reforma, estou a pagar para
trabalhar. Naturalmente que não posso manter esta situação. Tenho uma
funcionária, a Maria Fernanda, com cerca de 25 anos de casa, e que considero
como filha. Ainda lhe ofereci o negócio mas ela não quer -e se quer que lhe diga
até fico contente por ela não aceitar. O negócio que se faz actualmente não dá
para arriscar. E olhe que não é pela renda. Pago um importância pequena, cerca
de 150,00 Euros –aproveito para agradecer ao meu senhorio a sensibilidade que
manteve comigo ao longo dos anos e em não me aumentar. É uma imaginação que acaba
aqui. Não há hipótese de continuar! É um sonho que se desfaz –e os seus
olhos humedecem e a voz sai embargada. Tanto
lutei para abrir esta casa! Tudo fiz para a manter. Estive com a loja aberta ao
Sábado, à hora de almoço e sempre que necessário mas os clientes não vieram.
Abandonaram-nos, pura e simplesmente! Passaram a vir cá apenas para arranjos e
para pequenos trabalhos que ninguém mais fazia. As prendas de Natal e de outras
épocas do ano passaram a ser feitas nas grandes superfícies. É muito triste! Sinto
um grande desconforto. Nem tenho palavras!”
Já escrevi algumas vezes sobre os (viciados) percursos
turísticos. Já há muito tempo que os turistas são despejados no Largo da
Portagem, percorrem o traçado na Rua Ferreira Borges, até ao Arco de Almedina,
e sobem para a Alta. Resultado desta intencional ou falta de estratégia, em que
as vias estreitas e até a larga Rua da Sofia praticamente não têm visitantes em
trânsito, é o encerramento de vários estabelecimentos comerciais. Alguém se vai
importar com isto? A defunta Empresa Municipal de Turismo nunca quis saber.
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