segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

ADEUS, CANTINHO DA ANITA





No próximo dia 24 de Março o “Cantinho da Anita”, o mais bonito e emblemático estabelecimento de artesanato da Baixa, fará 29 anos de existência. Antes de bater palmas, de parabéns, vale mais ler o que está escrito a seguir: a “Casa Anita” vai encerrar. Para além de, logicamente, já não comemorar as três décadas, no final deste mês de Março fechará as portas para sempre. Se necessário para escoar a existência pode ainda manter-se mais uns meses aberto.
Maria Hermínia Matos, a criadora, o mentor, deste ícone turístico e tão representativo da cidade, tal qual um postal ilustrado, embora se pressinta um nó na garganta, é uma mulher conformada com este triste desfecho. “Não me resta outra solução. Há vários meses que, colocando aqui dinheiro da minha reforma, estou a pagar para trabalhar. Naturalmente que não posso manter esta situação. Tenho uma funcionária, a Maria Fernanda, com cerca de 25 anos de casa, e que considero como filha. Ainda lhe ofereci o negócio mas ela não quer -e se quer que lhe diga até fico contente por ela não aceitar. O negócio que se faz actualmente não dá para arriscar. E olhe que não é pela renda. Pago um importância pequena, cerca de 150,00 Euros –aproveito para agradecer ao meu senhorio a sensibilidade que manteve comigo ao longo dos anos e em não me aumentar. É uma imaginação que acaba aqui. Não há hipótese de continuar! É um sonho que se desfaz –e os seus olhos humedecem e a voz sai embargada. Tanto lutei para abrir esta casa! Tudo fiz para a manter. Estive com a loja aberta ao Sábado, à hora de almoço e sempre que necessário mas os clientes não vieram. Abandonaram-nos, pura e simplesmente! Passaram a vir cá apenas para arranjos e para pequenos trabalhos que ninguém mais fazia. As prendas de Natal e de outras épocas do ano passaram a ser feitas nas grandes superfícies. É muito triste! Sinto um grande desconforto. Nem tenho palavras!”
Já escrevi algumas vezes sobre os (viciados) percursos turísticos. Já há muito tempo que os turistas são despejados no Largo da Portagem, percorrem o traçado na Rua Ferreira Borges, até ao Arco de Almedina, e sobem para a Alta. Resultado desta intencional ou falta de estratégia, em que as vias estreitas e até a larga Rua da Sofia praticamente não têm visitantes em trânsito, é o encerramento de vários estabelecimentos comerciais. Alguém se vai importar com isto? A defunta Empresa Municipal de Turismo nunca quis saber.

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