O Diário de Coimbra de hoje, em título de primeira página, noticia que “Coimbra vai ter albergue na Baixa para peregrinos do Caminho de Santiago”. Em desenvolvimento, “Coimbra vai reforçar a sua presença na rota do Caminho Português de Santiago, devendo ter instalado, até final do próximo ano, um albergue que acolha peregrinos, na Baixa da cidade, permitindo que pernoitem, convivam e até que confeccionem as suas refeições durante a sua passagem pela cidade.
A ideia de Coimbra vir a fazer parte da Rede de Albergues do Caminho Português de Santiago é do presidente da Câmara Municipal, João Paulo Barbosa de Melo (JPBM), que participou recentemente numa reunião nesse sentido (…).”
Vamos por partes, até se entende que o senhor presidente da edilidade Coimbrã queira contribuir para a causa de todos os santos. Afinal, a propensão para as causas místicas já vem desde os Descobrimentos. Dir-se-ia quase genético. Basta olhar para os imensos mosteiros que emolduram o país com nome de apostolado milagreiro. E, para mais, agora, numa altura de tão evidente crise terrena, nada como cair nas boas graças do etéreo. Não sei é se Santiago, tão virado para os imensos problemas das terras andaluzas, às tantas, não faça ouvidos de mercador e lá se vai o gesto penitencial.
Além disso, quem não vai gostar muito do frete, creio, são as pensões e as hospedarias do Centro Histórico. Não é por nada, mas como conheço alguns destes hoteleiros que são ateus, tenho quase a certeza que vão gritar mais alto que o Presidente da República a acusar o governo de violação de equidade. Está de ver que vão estrebuchar e acusar JPBM de discriminação positiva perante o santo espanhol.
Quem também não vai ficar muito contente, advogo, será o Santo Onofre –que é o padroeiro dos comerciantes. Até me parece estar a vê-lo descalço, de cantil e bornal ao ombro e a perguntar: “até tu, João Paulo, também beneficias o que vem de fora e esqueces quem por cá anda a penar? Primeiro paga as promessas da tua Câmara e só depois te virarás para os caminhantes para terras de Castela”.
É que este desabafo do santo protector dos mercadores nem será por acaso. É natural que o presidente da edilidade conimbricense não saiba –porque só assumiu o leme do barco há menos de um ano-, mas há uma promessa por cumprir para com os comerciantes: realizar a abertura da “Casa do Comerciante”.
Basta consultar a Acta de 14 de Outubro de 2002, no seu Ponto VII – Planeamento VII.1. do Fórum Coimbra –Multi 16 Sociedade Imobiliária S.A. –Informação Prévia, Processo 2927/2001. Aí, com intervenção de plena defesa do então vice-presidente, Pina Prata, ficou escrito que este projecto da Multi 16 SA teria parecer favorável –como teve por maioria- se, em compensação ao comércio tradicional da cidade, fosse construída a “Casa do Comerciante”.
Acontece que Pina Prata entrou em rota de colisão com Carlos Encarnação, o então presidente camarário até Dezembro do ano passado, e esta promessa foi arquivada nas calendas do nunca mais. Como todos sabemos um novo inquilino do paço real, mesmo que não tenha ratificado um acordo de um seu antecessor, está obrigado a cumpri-lo. Ora, vamos lá ver, antes de prometer novas acções santificas, primeiro devem-se pagar as promessas que estão por cumprir cá no burgo. Não é por nada, mas vale mais não provocar a ira temporal de Santo Onofre.
TEXTO RELACIONADO
"Barbosa de Melo: vem aí a casa do comerciante"
TEXTO RELACIONADO
"Barbosa de Melo: vem aí a casa do comerciante"
1 comentário:
Anónimo deixou um novo comentário na sua mensagem "JPBM: O PAGADOR DE PROMESSAS":
Muito bem dito amigo Luís.
Afinal, para que vão servir as pensões e similares nesta cidade?
Têm que fazer obras de requalificação em ano de crise, vão ter que levar com o aumento do gás, da água, da electricidade e vão ter o IVA a subir como nunca se viu. Não têm apoios do Estado. São quase todas geridas por famílias que nelas habitam há décadas. Fazem tudo por tudo para não fechar as portas. Assim, as coisas ficam muito complicadas. Vamos ver:
Pousada da juventude; aluga camas/quartos;
Os Pólos universitários, na altura em que os estudantes estão de férias, alugam quartos; Os novos Ostel’s alugam camas.
Vai abrir um abrigo para peregrinos com várias valências? Para que servem as instalações reconvertidas AL, alojamento local? Os restaurantes não vão gostar!
Uma Baixa que leva mais de 15 anos para ter um Metro ligeiro de Superfície não tem. Estacionamento gratuito, onde o ambiente no centro da cidade e em frete da Câmara, é cada vez mais perigoso e vergonhoso pelos abusos que ali se podem ver.
Há tanta coisa para rever, para que a Baixa de Coimbra seja efectivamente competitiva, esta é a realidade.
Há coisas que não dá para entender!?!
(Este comentário, apesar de inicialmente ter endereço, foi-me pedido que o postasse anonimamente. Assim foi feito)
Enviar um comentário