Hoje, de manhã, quando o Armindo Gaspar abriu a porta do seu estabelecimento, a perfumaria Pétala, tinha um envelope sem remetente com 500 euros. Lembro que este comerciante, de domingo para segunda-feira, viu a sua loja vandalizada e assaltada de perfumes no valor de cerca de 30 mil euros.
Como se sabe, um grupo de colegas comerciantes lançou uma campanha solidária para ajudar este homem, que nos últimos anos andou sempre a ajudar outros, e que, devido a vários factores em catadupa, já estava numa situação financeira aflitiva. O roubo foi o pingo que fez transbordar o copo.
Este gesto anónimo de deixar o contributo debaixo da porta da loja vem mostrar o que já escrevi anteriormente: há pessoas muito boas e com um enorme coração.
Faço parte deste grupo de sensibilização para a causa do Armindo. Nestas manhãs subsequentes ao assalto andei sempre na rua. Aprendi imenso. Levei uma enorme lição. Fiquei a conhecer pessoas generosas que, curiosamente, nem tinha grande apreço por elas. Assim como o contrário também aconteceu. Comerciantes que eu tinha em grande conta, abastados, perante a desgraça do colega, revelaram-se de facto como são. Ou seja, seres frios, egocêntricos, calculistas, isolados no seu pequeno mundo feito de nada, que não olham sequer para o chão que pisam todos os dias.
Tem sido fantástica esta experiência.
Quem viu, como eu vi, na segunda-feira antes das 8h00, num chão forrado com vidros partidos, um homem sentado no frio da pedra a chorar desbragadamente –e que me fez chorar também-, destroçado e com a alma feita em frangalhos, e hoje, passados quatro dias, atenta neste sorriso que mostram as fotos, bolas, acho que valeu a pena! Tenho a certeza que nas horas de grande aflição quem nos vale são os amigos. Todos estamos de parabéns. Fizemos uma boa acção. Que todos os que contribuíram –e os outros que denegaram- fiquem com uma certeza: só quem partilha cresce; só quem dá receberá.
Sinceramente, estou muito contente por ver o Armindo já com uma nova força para encarar o futuro. Este meu amigo, ao dar a cara pelos colegas –sim, porque ele ao mostrar a sua situação financeira, continua a trabalhar para muitos que estão quase no mesmo estado-, tenho a certeza de que vai mexer com o futuro de salvaguarda dos comerciantes. Toda a acção gera reacção, e a coragem do Armindo, perante o país, garanto, não vai cair em saco roto. Os comerciantes não podem continuar a derrapar para a indigência, sem subsídio de desemprego, paulatinamente como está acontecer e perante a passividade do poder central. Um grande, grande, abraço para o Armindo Gaspar!
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