No último texto que escrevi para o Diário de Coimbra plasmava, num campo de letras, o que se está a passar com muitos comerciantes da Baixa. Depois de uma vida de luta, a trabalharem desde crianças, muitos deles, como onda em castelo de areia, estão a perder tudo. Começou pela casa de habitação, estabelecimento, e a seguir, sem direito a subsídio de desemprego, é a indigência que os espera. Neste momento há demasiados casos em erupção para podermos fechar os olhos e passar ao largo.
E volto à carga, exactamente, porque a Câmara Municipal de Coimbra, por um lado, enquanto entidade máxima local responsável pela Protecção Civil, por outro, e este muito mais obrigacional, está em dívida com os profissionais de comércio. Embora repetindo, vou lembrar que basta consultar a Acta de 14 de Outubro de 2002, no seu Ponto VII – Planeamento VII.1. do Fórum Coimbra –Multi 16 Sociedade Imobiliária S.A. –Informação Prévia, Processo 2927/2001. Aí, com intervenção de plena defesa do então vice-presidente, Pina Prata, ficou escrito que este projecto da Multi 16 SA teria parecer favorável –como teve por maioria- se, em compensação ao comércio tradicional da cidade, fosse construída a “Casa do Comerciante”.
Ora, há um local que pode ser perfeitamente destinado a esta causa altruísta por parte da autarquia de Coimbra a uma classe que muito deu à cidade e que agora, por várias razões, se vê sem uma telha de amparo para acabar os seus dias. Em 28 de Novembro de 2009, na Travessa da Rua Velha, num prédio reconstruído e propriedade da edilidade, foi inaugurada a “Telha Amiga”, um projecto que se destinava a “centro de noite” para idosos carenciados, e consignado, em acordo de gestão, à Casa de Repouso de Coimbra. Este edifício, de traça antiga, com 6 quartos, alguns com casa-de-banho privativa, uma cozinha, um espaço comum de convívio, um escritório e WC’s, tem capacidade para 12 utentes. Acontece que durante estes três anos o máximo de pessoas que a Casa de Repouso de Coimbra conseguiu foi 6 para pernoita. Durante o dia está completamente vazio e sem qualquer utilização. Nos últimos meses morreram 2 ocupantes. Ou seja, neste momento, um prédio, cujo restauro custou à Câmara Municipal mais de 400 mil euros, com aquelas valências, para além de subaproveitado, está apenas com 4 pessoas.
Há pouco tempo falei com uma senhora usuária. Dizia-me: “este projecto como foi pensado está mal. Normalmente os velhinhos não querem largar a sua casa, por muito pobre que seja. Não aderem à ideia. Não há procura. É uma pena estar mal-aproveitado. Sei que a Casa de Repouso de Coimbra quer ampliar o contrato para servir também de “centro de dia” –vim a saber hoje, em conversa de café, que, infelizmente, esta senhora faleceu recentemente. Ficam os sentidos pêsames e a sua mensagem.
Tal como escrevi anteriormente, se a autarquia quiser remediar dois problemas, nesta telha ambivalente, poderá ter a solução. Um é dar uma sede à APBC, Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra, outro é dar cumprimento à promessa feita aos comerciantes.
Sem comentários:
Enviar um comentário