A Associação Humanitária dos Bombeiros
Voluntários de Coimbra (AHBVC) foi criada em 7 de Abril de 1889, na Praça do
Comércio, número 27, no antigo espaço dos Marthas. O primeiro Regulamento
Interno foi criado em 1895 que, entre outras coisas, adoptou como sinal de
alarme de incêndio as badaladas das torres das igrejas da cidade. O primeiro
carro puxado a cavalos foi adquirido em 1900. Em 15 de Novembro de 1953 foi
inaugurado o actual aquartelamento na Avenida Fernão de Magalhães.
Depois de várias primeiras pedras lançadas no
campo de desilusão para a construção de um novo quartel, divididas entre
Taveiro e Estrada de Eiras, já que as presentes instalações se encontram em
avançado estado de degradação, pelo alheamento da cidade e da sua administração,
nunca se passou dos planos em papel à prática.
A REVOLUÇÃO SILENCIOSA DE JOÃO
Em Outubro de 2010 assumiu como presidente da
direcção da AHBVC João Silva. Na autarquia e até 2001, no tempo de Manuel
Machado o outrora presidente e agora novamente homem-forte da edilidade, aquele
ex-vereador do Partido Socialista (PS) colocou os Bombeiros Voluntários na
agenda da cidade. Desde os apelos para o aumento de associados –são agora cerca
de 6200- até ao pedido de contribuição nas lojas comerciais, não deveria ter
restado nenhuma porta ou janela onde João Silva se teria escusado em bater a
convocar para a causa dos Bombeiros. Alegadamente por falta de resposta das
entidades competentes, das empresas, dos industriais, dos comerciantes, os seus
lamentos foram saindo ao longo do exercício em carta aberta e, chegado ao fim
de mandato, retirou-se dos órgãos executivos. Embora na despedida citasse
Torga, de que “quem faz o que pode faz o
que deve”, mais que certo, teria largado com uma sensação enorme de
frustração.
AS ELEIÇÕES E O NOVO RUMO
Em 14 de Dezembro de 2013 Henrique Fernandes, homem
forte do PS e último Governador Civil de Coimbra, até à extinção do cargo, foi
eleito para liderar uma nova lista da AHBVC. Na sua tomada de posse afirmou ser seu desejo acabar com a
dependência dos subsídios, defendendo um modelo de contratualização de serviços
em troca de contrapartidas, a estabelecer entre os bombeiros e a autarquia.
João Silva, o até aí responsável
pela direcção, passou para presidente do Conselho Fiscal.
Por ruídos a circular nestes becos e ruelas e
segundo se consta, desde da entrada em cena deste novo executivo os ventos que
sopram no quartel da Avenida Fernão de Magalhães são tudo menos de paz e serenidade.
A semana passada um elemento da casa, pedindo o anonimato, solicitou-me que
desse conta publicamente do que se está a passar. Naturalmente que, ouvindo as
partes em conflito e chamadas à colação, me cabe fazer eco deste lamento. Por
isso mesmo anuí. Vamos ouvir o queixoso: “O
que se está a passar com esta governação da AHBVC não pode continuar a ser
calado. É dever de cidadania mostrar à cidade o que está acontecer. Não dou a
cara por receio de retaliação. Apenas por isso. Os Bombeiros Voluntários de
Coimbra estão entregues à sua sorte. O presidente da direcção, Henrique
Fernandes, apenas lá vai uma vez por semana para despachar, ou para assinar
cheques, e mais nada –o anterior presidente, João Silva estava sempre presente.
O senhor presidente diz que não precisa de lá estar e trata tudo pelo telefone.
Dos elementos da direcção, os únicos que estão diariamente na sede são os senhores
Alberto Amaral e Carlos Balteiro. Nas reuniões do executivo há muita
dificuldade em arranjar quórum. Na casa vive-se um clima indescritível. Há uma
tensão sempre presente entre o presidente e o pessoal com ameaças de despedimento.
Os bombeiros e funcionários são tratados com arrogância, quase desprezo, e
ameaças permanentes. Ele quer que várias pessoas vão para a reforma. Dá ideia
que quer fechar a porta. Ninguém entende esta forma de gerir. Todo o pessoal
está desmotivado. Os bombeiros parecem estar à deriva. Com o vice-presidente,
Carlos Clemente, passa-se a mesma coisa. É preciso estender-lhe um tapete
vermelho para ele se deslocar às reuniões da direcção. Só vai de vez em quando e
a marcação tem de ser de acordo com ele. Ele sobrepõe-se aos restantes membros.
O mau ambiente é tão grande que os voluntários não aparecem e só lá estão
diariamente meia dúzia de homens. Há cerca de um mês houve um incêndio na rua
Corpo de Deus, creio, e o nosso pessoal não pode comparecer porque não havia
homens. Quem foi acudir ao fogo foi a corporação de Brasfemes.”
UMA QUESTÃO DE CUSTOS
Continua o
meu depoente, “no tempo de João Silva, da
anterior direcção, tudo era tratado na hora e não havia conflitos. Tratava todos
de igual para igual. Se houvesse divergências eram examinadas e, com
assertividade, saía uma conclusão o mais rapidamente possível e de modo a não
prejudicar o normal funcionamento da instituição.
O clima de mal-estar começou pela recusa de pagamento de subsídio de
almoço. E, por isso mesmo, o pessoal não comparece –esta é uma das principais
razões. Para além das instalações, o material está completamente obsoleto. Há
dias foi uma ambulância para Lisboa e ficou lá avariada. Há uma obsessão pelos
custos e em querer controlar tudo. Antes de se contratualizar seja o que for
são precisos três orçamentos –bem sei que a lei exige mas há casos que são de
tal modo urgentes que não pode ser assim. Veja o caso da ambulância, vai-se a três
oficinas pedir um orçamento ao motor? Como é que se faz? Pede-se a cada uma que
desmonte o motor e paga-se a avaliação? A ser assim, lá para o próximo verão
devemos ter a viatura pronta! Esta inexistente flexibilidade está a emperrar o
sistema. Entende-se mas não é exequível pelo exagerado rigor. Bem sei que a
nossa situação financeira não é brilhante. E se está tudo controlado para os
próximos seis meses é graças à edilidade, que financiou um subsídio de 50 mil
euros. De certo modo até admito a rigidez –até porque, do ponto de vista de gastos,
não tenho nada a apontar-lhe- o que não compreendo é a falta de presença e a
incapacidade de delegar –no tempo de João Silva o pessoal estava sempre
disponível. Agora não. Recusam-se. Só aparecem mesmo se for um sinistro muito
grave. Já não vão de livre e espontânea vontade. Passou de uma casa popular e
de serviço público para um quartel militar. O presidente Fernandes só fala com
ameaças e aos berros, como se as pessoas fossem estúpidas. Na parada, chegou a
utilizar uma expressão de “estar habituado a pegar o boi pelos cornos”. Caiu
muito mal esta metáfora. Muito mal mesmo! Era preciso haver mais relacionamento
humano, mais diálogo com as pessoas. Em face das suas intimações de
despedimento alguns funcionários já choraram a bom chorar. Acho que tem um
feitio muito difícil, irascível, e não foi feito para o lugar que ocupa.”
A CARTA ANÓNIMA E NOVAS ELEIÇÕES
“O
ambiente é de tal modo mau, de cortar à faca, que há cerca de seis meses o
presidente recebeu uma carta anónima com ameaça de morte. Na carta era apontado
o mau relacionamento entre ele e os bombeiros. Salvo erro, chegou a aventar-se
a hipótese de remeter a missiva para a polícia, mas creio que não houve
andamento.
Entre algumas pessoas ligadas a esta equipa já foi ponderada a
possibilidade de haver novas eleições para tentar acalmar os ânimos. Uma coisa
digo: a bem dos Bombeiros Voluntários, alguma atitude deverá ser tomada nos
próximos tempos.”
O QUE DIZ CLEMENTE
Perante as acusações de comparecer às reuniões
da direcção apenas por marcação prévia e de sujeitar os restantes membros à sua
vontade, fui ouvir Carlos Clemente. O vice-presidente da AHBVC diz o seguinte: “Não é verdade! Sempre que sou chamado vou
lá. E mais, é raro o dia em que não ligue para a associação a saber o que se
passa. Tenho feito sacrifícios para estar presente. O que acontece é que eu não
posso ir a reuniões às 17h30 e 18h30. Tenho obrigações institucionais que me
impedem de estar presente nesse horário. Já pedi ao presidente da direcção que
fosse paginado um horário pós-laboral e acessível para toda a gente. Mais não
posso fazer!”
O QUE DIZ HENRIQUE
Para uma legítima defesa, contactei Henrique
Fernandes e li as acusações de que era alvo. Arguiu o seguinte: “Eu não entro nesse tipo de conversas. O
primeiro elemento é a AHBVC, que tem a manutenção do corpo de bombeiros. O
segundo elemento é o próprio corpo de bombeiros, que tem uma cadeia hierárquica
e à sua frente está o comandante. O corpo de bombeiros é tutelado. A Protecção
Civil não aponta nada. A Associação Humanitária representa cerca de 6000
sócios. O corpo de bombeiros andará por volta da centena e estão em boa
disponibilidade. Embora, sabe-se, os seus meios não são iguais aos Sapadores.
Quer dizer, portanto, que gerimos conforme as possibilidades. A gestão dos
operacionais é feita pelo comando –que tem autonomia. A presença da direcção não
afecta em nada a operacionalidade dos bombeiros. Por isso digo que eu ir uma vez
por semana chega perfeitamente. A associação reúne duas vezes por mês. Cada membro
tem a sua responsabilidade, em atribuições e competências. Alguém imagina que
estas acusações serão fundadas, mas não são. Não fico nada preocupado. Vou deixar
publicar e depois decido. A nossa casa é deficitária, por causa do transporte
de doentes não-urgentes. Temos seis funcionários afectos a este transporte, que
dá prejuízo. O que esta direcção está a fazer é tentar que a associação seja
sustentável.
Essa questão dos subsídios de almoço também não é verdade. Quando tomei
posse verifiquei que havia funcionários a receber dois subsídios de refeição,
acumuláveis. O que era ilegal. Isso foi suspenso. Mas para que não ficassem
prejudicados, passou para subsídio eventual/ajudas de custo. Quanto à reforma
de funcionários, alguns mantiveram a vontade de se aposentar aproveitando as
regalias que a lei permite. É da sua disponibilidade e da sua vontade.
Posso afirmar que a situação financeira da AHBVC está garantida. A
cidade pode estar descansada com o bom serviço que os Bombeiros voluntários
prestam.”
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"Contra o ostracismo, marchar, marchar"
"Discurso de João Silva..."
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"A página dos bombeiros"
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"Os bombeiros não dormem em serviço"
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"Convite para o aniversário"
"Heróis do choro, nobre povo, nação valente"
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