quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

O CENTRO HISTÓRICO INTERESSA ALGUÉM?



 Ontem, à noite, no Ateneu de Coimbra, realizou-se a 4ª edição do ciclo de tertúlias “À Conversa com o Centro Histórico”. Com início anunciado para as 21h00, talvez à espera de mais participantes, começou cerca de meia-hora depois. Estava também anunciada a presença do vereador da Câmara Municipal de Coimbra (CMC) Paulo Leitão que, por razões desconhecidas, não compareceu. Os oradores presentes na mesa foram Serra Constantino, da Protecção Civil, Avelino Dantas, dos Bombeiros Sapadores de Coimbra, e Sidónio Simões, moderador, técnico superior da autarquia de Coimbra, e Director para o Centro Histórico.
Com cerca de oito pessoas na assistência, e num total de 15 contando com os funcionários do Ateneu e da CMC, começou então a tertúlia sobre o lema “Plano Especial de Emergência do Centro Urbano Antigo”. Tomou a palavra o responsável pela Protecção Civil, Serra Constantino.
Começou por apresentar o que é a Protecção Civil. A seguir os Planos de Emergência.
Ficámos a saber que a freguesia de Santa Cruz é, em comparação com as restantes, onde tem havido mais ocorrências –embora, saliente-se, seja a que tem maior número de eleitores.
Ficámos também a saber que na Baixa o risco sísmico é elevado e na Alta é muito baixo.
A seguir falou o comandante dos Bombeiros Sapadores. Começou por contar a história da instituição que comanda. Ficámos a saber, entre outras coisas, que a Corporação Municipal de Bombeiros foi fundada em 13 de Março de 1781. Aprendemos também que em 1859 foi aprovado o aumento do quadro de pessoal para 60 bombeiros.
Disse também à diminuta assistência que o corpo de Sapadores Bombeiros, actualmente, é composto por 110 pessoas.
Enfatizou ainda que a companhia que comanda já tem 20 bombeiros com formação para estruturas “colapsadas” –casos de prédios que por vários motivos “colapsam” e vêm a ruir.
Por último, falou Sidónio Simões, que, dada a longa exposição dos antecedentes, foi sucinto na explanação.

E COMO É QUE FOI?

 A apresentação do tema “Plano Especial de Emergência do Centro Urbano Antigo”, a meu ver, só por si, já é bastante pouco interessante para o cidadão comum, quanto mais se, como aconteceu, os oradores, no caso Serra Constantino e Avelino Dantas, fizerem do assunto uma aula de sapiência. Foi uma exposição fastidiosa de mais de uma hora. De tal modo foi enfadonha que, antes de terminar, já o Moio, um reconhecido e velho comerciante das Escadas do Quebra-Costas, me batia nas costas e interrogava: “olha lá, ó Luís, isto é um curso para bombeiro? Ó pá, se é, já não tenho idade!”. A verdade é que antes de Avelino Dantas concluir a sua dissertação, Moio, acompanhado de outro vizinho, o António “Alfaiate”, levantou-se e, visando a saída, exclamou: “já levo o curso de bombeiro sapador. Já não preciso de mais nada!”. –é certo, devo sublinhar, que é normal, em anteriores tertúlias, o Moio sair antes do tempo e a falar sozinho.

O QUE FAZER COM TANTO DESINTERESSE?

 Embora o tema desta vez fosse um pouco aborrecido –dentro de uma necessária humildade, sabe-se que se aprende sempre-, como disse, esta foi a quarta sessão de um assunto que aparentemente preocupa todos. Ou seja, quando se escreve acerca do Centro Histórico todos saltam em sua defesa. Todos, a começar por mim, todos “botam faladura”, mas quando há oportunidade de falar frontalmente com os intervenientes, como agora, ninguém aparece. Na primeira sessão –que foi às 18h00, na sede da Junta de Freguesia de Almedina- esteve lotada com comerciantes da Baixa e moradores da Alta. Na segunda –que foi na Associação Arte à Parte, na Rua Fernandes Tomás, às 21h00-, já esteve menos concorrida e só com moradores da Alta. A terceira –que foi na Casa da Escrita, na Rua João Jacinto e durante a tarde-, não estive presente, mas sei que poucos moradores aderiram ao convite.
Então, estando esta iniciativa em queda crescente, urge interrogar: valerá a pena continuar? Repare-se que ontem andaram duas funcionárias da autarquia a contactarem pessoalmente os lojistas da Baixa. Isto para mostrar que não é por desconhecimento. É antes um laxismo, um desinteresse, um desrespeito, uma falta de consideração, por quem quer fazer alguma coisa e, por esta apatia de provocação, é obrigado a desistir.
Por exemplo, os vários presidentes das juntas de freguesia, nomeadamente, São Bartolomeu, Almedina e Santa Cruz, não deveriam ter estado presentes? O exemplo para o cidadão comum não deveria passar por eles?
Os próprios jornais locais pouco falam destes acontecimentos. Limitam-se a, no próprio dia, a anunciar o facto, mas nenhum jornalista se desloca para cobrir o assunto. Naturalmente que o leitor não sabe o que se passou lá –saliento que neste evento esteve lá o “Cajó” a tirar fotografias para o Diário as Beiras.
É uma tristeza estarmos em presença de um bom expediente, em que os intervenientes –como será o caso de Sidónio Simões- se colocam à disposição de todos, dando a cara, para responderem sobre o que sabem e sobre o que preocupa o cidadão, e, por comodismo, pelo deixa-andar e correr ao deus dará, verificamos que nada mais resta do que acabar ingloriamente. Claro que, passados tempos, vai-se dizer, ou escrever, que os políticos, ou administrativos, não descem à terra para ouvirem ou olharem o cidadão olhos-nos-olhos. Cada vez me convenço mais que este povo que “lavra no rio do coisa nenhuma”, pela sementeira que faz, colhe o que merece. Fala apenas para não estar calado. O que dizem não tem qualquer substância com a realidade. Tristeza!!

CURIOSIDADES

Avelino Dantas, Comandante dos Sapadores:

“Os acidentes não têm dia nem hora marcados”

“Os bombeiros chegam sempre atrasados a um qualquer acidente” –porque a sua chegada é sempre posterior ao facto.

“Deus não apaga os incêndios e os bombeiros não fazem milagres”

“O Verão é sempre pacífico em Coimbra –excepto o do ano de 2005. Problemas grandes acontecem no Outono e no Inverno, quando, devido a causas naturais, caem árvores, caleiras e outros mais”

“Em 2010 tivemos cerca de 6300 ocorrências. Uma média de 18 por dia. 20 por cento destas ocorrências são aberturas de portas… o pessoal esquece-se amiúde das chaves”

“Há zonas da Baixa e da Alta que a maioria dos nossos carros não entram”

“Em 2010 tivemos, na cidade, 208 incêndios”

“As quedas de árvores, na sua remoção, já são assumidas por uma fantástica equipa da Protecção Civil. Até há pouco este serviço era feito pelos bombeiros”

“A população pode estar descansada. A Companhia de sapadores está bem preparada para cumprir a sua missão”

Sidónio Simões:

“Caminhamos para uma falta de valores. Cada vez mais se mostra uma profunda falta de respeito para com os vizinhos”

“Não é compreensível que os bombeiros vão para um incêndio na cidade e não possam aceder porque há vários impedimentos nas ruas”

“Cada vez mais o funcionário público, perante o fantasma de poder ser responsabilizado e consequentemente vir a ser despedido, terá tendência em ser menos flexível e sensível aos imensos problemas do cidadão”

“Coimbra não tem, nem nunca teve, uma grande indústria. Tem uma indústria do conhecimento. Águeda, por exemplo, tem muito mais indústria pesada”

“Coimbra tem 50 mil veículos a entrar diariamente na cidade, todos os dias”

“Esperamos ansiosamente a nova legislação para os Centros Históricos. Sem legislação adequada, como é que se pode recuperar um património destes?”

“Tem havido uma completa loucura nas exigências com o edificado velho. Por exemplo, até há pouco, exigia-se que todos os estabelecimentos comerciais na zona histórica tivessem três metros de pé direito. O resultado foi, para cumprir a lei, que se fizeram escavações e se vulnerabilizassem as fundações. Uma das causas da ruína de um dos prédios da Rua dos Gatos foi exactamente esse. Foi escavado e contribuiu para a sua queda”

“É preciso fiscalizar a validade das mangueiras de gás. Há casos em que verificamos que a sua temporalidade já expirou há 10, 15 anos”

“Não se pode deixar o carregador do telemóvel permanentemente ligado na tomada. Esta é uma das muitas causas de incêndio”

“é preciso que as pessoas que cá vivem e trabalham se pronunciem sobre os planos que decorrem na autarquia. Amanhã é o último dia para um –relativo a um assunto do Centro Histórico- e as únicas pronúncias que recebemos foram de pessoas de fora. Da cidade nem um único se interessou pelo assunto. Nós precisamos deste “feedback”.





2 comentários:

Jorge Baptista disse...

Descrição exacta dos factos. Quanto à falta de interesse dos residentes (e não só), bastaria escolher uma hora e um local mais acessível, e claro uma divulgação mais eficaz.

Anónimo disse...

Concordo com o Jorge Baptista. E acrescento: já não há paciencia para a conversa do Sidónio Simões. Há 10 anos que diz o mesmo. Fala muito e faz pouco. As obras que vão acontecendo no centro histórico ou são de particulares ou são de outros departamentos da câmara, ele só faz tertúlias e pedipeipers. Em tempos havia lá uma equipa empenhada, agora é teetulias. Eu lá ía sair de casa com este frio. Já não tenho idade. Eparece que não sou o único a pensar assim