sexta-feira, 1 de abril de 2011

BARBOSA DE MELO: "VEM AÍ A CASA DO COMERCIANTE"




 Encontrei-os à hora do almoço, ali junto à Casa da Sorte, na Rua Ferreira Borges: João Orvalho e João Paulo Barbosa de Melo. Respectivamente, o vereador responsável pelo pelouro das finanças, recursos humanos e educação e o presidente da Câmara Municipal de Coimbra.
Embora aqui no blogue seja tu lá tu cá, ali, tive de me revestir de cerimónia, assim, bem no jeito de qualquer “coimbrinha” não sei se estão a ver. Assim cheio de salamaleques. Sei lá, uma pessoa nunca sabe e o melhor é prevenir.
-Boa tarde, senhor vereador…Doutor Orvalho. Como está? –e estendi-lhe a mão efusivamente com uma grande vénia.
-Boa tarde…como está? Desculpe…mas não estou a conhecê-lo?!...-retorque Orvalho.
-Sou o Luís Fernandes, sou comerciante aqui na Baixa, e, para além disso, tenho um blogue, o Questões Nacionais…não sei se conhece…
-Questões nacionais?...Questõ…nunca ouvi falar!
-Boa tarde, senhor presidente Barbosa de Melo. Como está? –e fiz outra grande vénia, quase a beijar o chão. Eu seja ceguinho se não me julguei o Dalai Lama.
-Bem, obrigado. E o senhor?
-Vou andando, senhor presidente. Sou comerciante… as coisas estão péssimas, como senhor deve saber –ataquei logo ali, forte e feio no choradinho, como qualquer bom português que se preza.
-Ai é comerciante?!...Pois é! Entendo, as coisas estão más, eu sei. Costumo falar ali com o presidente da APBC…o Armindo…
-Armindo Gaspar…senhor presidente…
-Isso…isso…
-Aproveito para lhe dar os parabéns pela entrevista que o senhor deu ao Diário de Coimbra, e é publicada hoje, senhor presidente. Sim, Senhor! Assim é que se fala! Quando li aquele título na primeira página, “Coimbra tem sido madrasta para os empresários”, até chorei, senhor Doutor! Apesar de ser agnóstico, há muito tempo, já desde 2001, que eu ando a pedir a Deus um presidente de câmara como o senhor. Olhe que até fiquei a pensar que pode ser mesmo milagre. É certo que, no princípio, também acreditei que o Encarnação também era a encarnação do mandato divino, mas vi logo que ali havia coisa. Mas consigo é diferente. Basta olhar para a sua imagem. Tem bom aspecto –tratei ali mesmo de passar um pouco de graxa e logo seguida de lustro. Vi logo que os meus encómios estavam a funcionar. Deu-me um sorriso de orelha a orelha maior que a entrada da igreja de Santa Cruz. Nestas coisas, já tenho muita experiência, não há nada como começar por passar a escova.
-Obrigado…obrigado… – nem sei se seria do Sol quente primaveril, mas até pensei que se iria derreter.
-Não tem que me agradecer, senhor presidente. Gostei muito. Pela alminha de quem já partiu e me era muito querido. Aquilo é que é uma entrevista! Voltei a sublinhar com ênfase. Olhe que até gravei na mente as suas frases, senhor presidente…
-Ai então gostou!? Ainda bem! –e novamente um sorriso, agora do tamanho da catedral da Sé Velha.
-Se gostei…senhor presidente!!... Até gravei algumas frases da sua entrevista -voltei a repetir em palavras espaçadas. Quando o senhor diz que vai reunir com os empresários de Coimbra para saber os seus problemas.
E até quando o senhor garante que quer ter a máquina da Câmara a funcionar muito melhor e que tem de se transformar em “smart” numa cidade cada vez mais “smart”. Delirei com esta frase, senhor presidente. Assim é que se fala!!
-Mui..mui..to obrigado senhor…como disse que se chamava?
-Luís Fernandes…senhor presidente.
Obrigado…muito obrigado…senhor Francisco Fernandes…
-Luís Fernandes…
-Isso…isso…
-E aquela do senhor ir suprimir os motoristas particulares também gostei muito, senhor Doutor. Fantástico… senhor presidente…
-Ora…ora! Não estou a fazer mais do que a minha obrigação…o senhor sabe como é…
-Já agora, senhor Doutor, aproveitando o momento, sei de fonte fidedigna, lá de dentro da autarquia, que o senhor está a pensar em pegar no antigo projecto do ex-vice-presidente Pina Prata de criar na Baixa a Casa do Comerciante…é verdade?
-Como?! Como é que o senhor sabe?, –e olhou fixamente quase em tom acusatório para João Orvalho-, se só eu e outra pessoa sabe disso?...Homessa!...Essa é boa! –e bateu com a mão aberta na fronte.
-O senhor desculpe, mas tinha de lhe colocar esta questão…espero que não leve a mal…
-Não, a mal não levo, mas isso era um segredo só meu e daqui do meu amigo Orvalho. Estou apenas surpreendido…mais nada. O senhor é bruxo?
-Não, senhor presidente. Não sou mesmo. Nem que dia é amanhã eu consigo adivinhar.
-Ah…bom! Já estou mais descansado!
Quantos leitores diários tem o seu blogue?
-Poucos, senhor Doutor. Pouco mais de meia dúzia. Quatro lá de casa, a minha sogra e mais um anónimo…ou dois…
-Ainda bem. Nesse caso, como ninguém lê esse seu jornal de caserna, posso até desvendar o segredo. É verdade sim! Estou mesmo a pensar em ceder um espaço na Baixa, num dos muitos prédios em que a Câmara é proprietária, para fazer lá a “Casa do Comerciante”. O que é que o senhor acha disso?
-Acho que seria uma grande ideia, senhor presidente.
-Acha mesmo? Será que, embora faltem mais de dois anos para as autárquicas, não me irão acusar de estar já em pré-campanha?
-Eu acho que não, senhor Doutor. O que conta é a substância do projecto. E, quanto a mim, é genial! Seria uma forma de a autarquia homenagear a cidade comercial que é e, ao mesmo tempo, também, todos os comerciantes presentes e alguns até já velhinhos. Seria uma casa onde todos se encontrariam.
-Ainda bem…toma aí conta das declarações do senhor Francisco Fernandes, João…
-Luís Fernandes…senhor presidente…
-Pois…pois!
-Obrigado aos dois, pela disponibilidade. Gostei mesmo muito de falar convosco…
-Obrigado nós…Francisco…

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