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A Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra (APBC) enviou um documento reivindicativo para o Director Geral das Contribuições e Impostos.
Este documento exarado pela APBC, a nível político, tem, pelo menos, quatro leituras. A primeira, mostra que a direcção da APBC está muito preocupada com o que se está a passar e se irá assistir nos próximos meses no comércio da Baixa. Como tudo indica, o encerramento de lojas irá ser uma razia. Tudo está a contribuir para que seja assim: rendimento das famílias a diminuir, com apelo à poupança e contra o consumo, e dentro de pouco a aprovação de novas medidas no arrendamento. Uma das premissas que ainda ia mantendo muitas lojas abertas eram as diminutas rendas pagas. Se, por um lado, é uma justiça que se deve aos senhorios, por outro, esta alteração contratual irá ser catastrófica. Sobretudo porque, entendendo as décadas em que os proprietários foram espoliados de um rendimento que lhes foi furtado por uma lei iníqua, ninguém espere destes contemplação. O que se apela é que, apesar do que escrevo, pondere o bom senso, caso contrário, iremos assistir a verdadeiros dramas com desfechos inimagináveis.
A segunda leitura é que, pelo cabeçalho do documento enviado ao Director Geral das Contribuições e Impostos, a APBC admite que, tendo por objecto promover a Baixa da cidade, este trabalho de exigir condições para o comércio de rua poder sobreviver não lhe cabe por inteiro. Perante a urgência, apenas desempenha este papel social de defesa da classe por incapacidade e inoperância da estrutura representativa, no caso a ACIC, Associação Comercial e Industrial de Coimbra.
A terceira leitura política desta tomada de posição da APBC é que a ACIC, se perante a morte anunciada de uma classe profissional que deveria defender e não o faz nem toma qualquer iniciativa, está em câmara ardente. Desta reputada associação, com quase 150 anos de existência, nada se pode esperar a não ser, a médio prazo, o seu desmantelamento. Bem se sabe que há várias vozes que se vão levantando contra esta apatia e previsível desaparecimento próximo, porém, filhoses de água –como quem diz, sem dinheiro-, que se saiba, ninguém é capaz. De um milagre, igualmente, ninguém aguarde porque há muitos pedidos em lista de espera. Se, conforme se especula, o activo não cobre o passivo pouco haverá a fazer, e mais ainda quando, pelo descrédito e impossibilidade de os sócios pagarem quotas, estes têm vindo a desertar massivamente. Mas há uma questão que se deve colocar: se hipoteticamente se conseguir salvar a ACIC, tendo em conta a dificuldade do Estado em financiar estas estruturas empresariais, só é possível manter a sua eficácia se se agruparem. Ou seja, juntar a da Figueira da Foz, a da Mealhada e a de Cantanhede e, destas três fazer uma forte organização empresarial. Não faz sentido, numa perímetro tão exíguo, haver três associações de classe em que todas defendem o mesmo. As consequências deste espartilhamento estão aí há vista de todos, nem vale a pena descrevê-las. Todos sabemos e sentimos o seu efeito, que tornou o distrito mais enfraquecido e a todos mais vulneráveis.
Quarta leitura, no seguimento deste posicionamento da APBC, é visível que nos moldes de actuação em que esta agência se apresenta começa a estar cerceada pelo seu estatuto. Ou seja, foi pensada para ser uma entidade dinamizadora do comércio local –curiosamente nasceu no seio da ACIC como UAC, Unidade de acompanhamento, isto é, uma semi-estrutura independente que visava tornar mais profícuo e incisivo o trabalho da primeira no impulsionamento comercial-, agora, por força das circunstâncias terá de ter aditamentos às suas normas estatutárias e começar a desempenhar um trabalho de âmbito mais alargado. Isto é, não só na dinamização, mas também na defesa e desenvolvimento dos comerciantes seus associados.
Há também um “quid pro quo” (tomar uma coisa por outra) que urge resolver, mas noutra altura chamarei o assunto à colação.
É também de elementar justiça enaltecer o bom trabalho de Armindo Gaspar que, recebendo este presente envenenado em 2004, trabalhando gratuitamente e em prejuízo da sua actividade comercial, soube manter o barco à tona da água, quando o seu naufrágio há muito foi anunciado. É certo também que este “navio” ganhou velocidade de cruzeiro com esta última direcção que, tendo pessoas muito válidas e criativas, têm sabido levar a embarcação a bom porto. É justo também sublinhar a entrega das duas funcionárias, a Ana e a Carina, que se multiplicam até ao infinito para que as coisas dêem certo.
Para melhorar o que é preciso? Que os associados dêem as mãos e entendam que só participando numa união de esforços é possível defender e empregar o princípio: um por todos e todos por um.
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