quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

DIÁRIO DE UMA EXPERIÊNCIA SOLIDÁRIA (3)



 Sob uma aragem gelada, cerca das 9h30, o Arménio Pratas e eu – o Francisco Veiga não pode comparecer-, iniciámos o terceiro “round” de um combate que achámos por bem travar. Ou seja, andar na rua, correndo a maioria das lojas da Baixa, a rogar ajuda para o nosso colega Armindo Gaspar, que, na noite de domingo para segunda-feira, levou um pontapé na sua vida que o ia mandando para o chiqueiro da miséria.
Mais uma vez fomos aos estabelecimentos que ontem ficaram em pensar e nos disseram para passarmos hoje. Outra vez, e já o escrevi anteriormente sobre as desculpas esfarrapadas, deu para verificar em repetição que pouco mudara, “ainda não falámos sobre o assunto”, foi-nos dito em colagem. Refiro que só fomos a alguns que, no meu caso, estava curioso, sempre queria ver o que diziam. Na maioria destes indecisos, hoje, já nem fomos porque sabíamos que não valia a pena.
Fomos a outro grande comerciante, com vários empregados, e repetindo a mesma acção de ontem. Estou convencido que, de propósito, só para não nos ter de encarar, nem pôs os pés na loja, hoje de manhã.
Fomos a outro abastado comerciante já com alguma idade. E eis a excepção a não confirmar a regra. Quando nos viu, disse logo: “sei ao que vêm! Que chatice, isto estar a acontecer ao Armindo. Isto é que estamos num tempo?! Não sei o que vai acontecer ao comércio. Estou muito preocupado. Escreva aí 100 euros… (espere!)… ponha antes 200 euros!”
A seguir fomos a outro grande comerciante, que pelas responsabilidades sociais que ocupa na cidade era interessante ver o seu comportamento perante o mal que aconteceu ao Armindo. Em face da nossa solicitação, respondeu: “não, não dou nada! O que o Gaspar precisa é de arranjar um advogado para tratar do seu caso –e que não lhe leve nada. E arranjar um fornecedor que lhe coloque lá os perfumes a crédito e para ele pagar quando puder”.
E caminhámos para outros estabelecimentos. Quando estávamos no interior de um a falar com o proprietário, fomos interrompidos por uma empregada de uma outra loja mais acima. Pedia para lá passarmos depois. Passámos. Disse-nos a patroa, que já ontem tinha generosamente contribuído: passem ali à frente, no primeiro-andar, no estabelecimento da senhora Y. Ela quer contribuir. Fomos lá e sem mais delongas, passou um cheque de 100 euros à ordem de Armindo Gaspar.
Fomos a outra loja de um velho comerciante que (eu sei) está numa situação aflitiva. Mesmo assim, generosamente, ofereceu 50 euros, e com a mensagem: “ eu estou com graves dificuldades, mas entendo que há sempre, e como é o caso, quem esteja pior do que eu. O pouco que temos devemos reparti-lo por quem está mal. É assim que me coloco nesta vida!”
Para além disso, gostaria de dizer que já hoje, e ontem, fui contactado por várias pessoas aqui na loja para, de uma forma voluntária e sem serem convidados para o efeito, me entregarem dinheiro. A todos disse o mesmo: “estando sozinho, não devo aceitar contribuições de ninguém. Se o querem fazer, por favor, em envelope fechado, coloquem o vosso donativo debaixo da porta da perfumaria Pétala. Exactamente da mesma forma que um anónimo colocou esta noite um envelope com 500 euros e dirigido ao Armindo Gaspar. Leia aqui.
Durante a manhã de hoje, visitámos 10 comerciantes. Entre uma dádiva de 200, várias de 100 e outras de 50, o resultado foi de 795 euros. Fantástico! É, ou não é? Estou a repetir-me, mas, volto a dizer, há pessoas com um coração enorme, do tamanho do mundo. Um grande abraço a todos.

FIM DAS ACÇÕES E CONSEQUENTES NARRAÇÕES.


Sem comentários: