quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

LEIA O CAMPEÃO DAS PROVÍNCIAS...



Leia aqui o CAMPEÃO DAS PROVÍNCIAS desta semana.

Na página "OLHARES... POR COIMBRA E PELO PAÍS", na rubrica "NÓS POR CÁ..."  leia  o texto "OS BOMBEIROS VOLUNTÁRIOS E O FOGO ARDENTE" 



OS BOMBEIROS VOLUNTÁRIOS EM FOGO ARDENTE

A Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Coimbra (AHBVC) foi criada em 7 de Abril de 1889, na Praça do Comércio, número 27, no antigo espaço dos Marthas. O primeiro Regulamento Interno foi criado em 1895 que, entre outras coisas, adotou como sinal de alarme de incêndio as badaladas das torres das igrejas da cidade. O primeiro carro puxado a cavalos foi adquirido em 1900. Em 15 de Novembro de 1953 foi inaugurado o atual aquartelamento na Avenida Fernão de Magalhães.
Depois de várias primeiras pedras lançadas no campo de desilusão para a construção de um novo quartel, divididas entre Taveiro e Estrada de Eiras, já que as presentes instalações se encontram em avançado estado de degradação, pelo alheamento da cidade e da sua administração, nunca se passou dos planos em papel à prática.

A REVOLUÇÃO SILENCIOSA DE JOÃO

Em outubro de 2010 assumiu como presidente da direção da AHBVC João Silva. Na autarquia e até 2001, no tempo de Manuel Machado o outrora presidente e agora novamente homem-forte da edilidade, aquele ex-vereador do Partido Socialista (PS) colocou os Bombeiros Voluntários na agenda da cidade. Desde os apelos para o aumento de associados –são agora cerca de 6200- até ao pedido de contribuição nas lojas comerciais, não deveria ter restado nenhuma porta ou janela onde João Silva se teria escusado em bater a convocar para a causa dos Bombeiros. Alegadamente por falta de resposta das entidades competentes, das empresas, dos industriais, dos comerciantes, os seus lamentos foram saindo ao longo do exercício em carta aberta e, chegado ao fim de mandato, retirou-se dos órgãos executivos. Embora na despedida citasse Torga, de que “quem faz o que pode faz o que deve”, mais que certo, teria largado com uma sensação enorme de frustração.

AS ELEIÇÕES E O NOVO RUMO

Em 14 de dezembro de 2013 Henrique Fernandes, homem forte do PS e último Governador Civil de Coimbra, até à extinção do cargo, foi eleito para liderar uma nova lista da AHBVC. Na sua tomada de posse afirmou ser seu desejo acabar com a dependência dos subsídios, defendendo um modelo de contratualização de serviços em troca de contrapartidas, a estabelecer entre os bombeiros e a autarquia.
João Silva, o até aí responsável pela direção, passou para presidente do Conselho Fiscal.
Por ruídos a circular nestes becos e ruelas e segundo se consta, desde da entrada em cena deste novo executivo os ventos que sopram no quartel da Avenida Fernão de Magalhães são tudo menos de paz e serenidade. A semana passada um elemento da casa, pedindo o anonimato, solicitou-me que desse conta publicamente do que se está a passar. Naturalmente que, ouvindo as partes em conflito e chamadas à colação, me cabe fazer eco deste lamento. Por isso mesmo anuí. Vamos ouvir o queixoso: “O que se está a passar com esta governação da AHBVC não pode continuar a ser calado. É dever de cidadania mostrar à cidade o que está acontecer. Não dou a cara por receio de retaliação. Apenas por isso. Os Bombeiros Voluntários de Coimbra estão entregues à sua sorte. O presidente da direção, Henrique Fernandes, apenas lá vai uma vez por semana para despachar, ou para assinar cheques, e mais nada –o anterior presidente, João Silva estava sempre presente. O senhor presidente diz que não precisa de lá estar e trata tudo pelo telefone. Dos elementos da direção, os únicos que estão diariamente na sede são os senhores Alberto Amaral e Carlos Balteiro. Nas reuniões do executivo há muita dificuldade em arranjar quórum. Na casa vive-se um clima indescritível. Há uma tensão sempre presente entre o presidente e o pessoal com ameaças de despedimento. Os bombeiros e funcionários são tratados com arrogância, quase desprezo, e ameaças permanentes. Ele quer que várias pessoas vão para a reforma. Dá ideia que quer fechar a porta. Ninguém entende esta forma de gerir. Todo o pessoal está desmotivado. Os bombeiros parecem estar à deriva. Com o vice-presidente, Carlos Clemente, passa-se a mesma coisa. É preciso estender-lhe um tapete vermelho para ele se deslocar às reuniões da direção. Só vai de vez em quando e a marcação tem de ser de acordo com ele. Ele sobrepõe-se aos restantes membros. O mau ambiente é tão grande que os voluntários não aparecem e só lá estão diariamente meia dúzia de homens. Há cerca de um mês houve um incêndio na rua Corpo de Deus, creio, e o nosso pessoal não pode comparecer porque não havia homens. Quem foi acudir ao fogo foi a corporação de Brasfemes.”

UMA QUESTÃO DE CUSTOS

Continua o meu depoente, “no tempo de João Silva, da anterior direção, tudo era tratado na hora e não havia conflitos. Tratava todos de igual para igual. Se houvesse divergências eram examinadas e, com assertividade, saía uma conclusão o mais rapidamente possível e de modo a não prejudicar o normal funcionamento da instituição.
O clima de mal-estar começou pela recusa de pagamento de subsídio de almoço. E, por isso mesmo, o pessoal não comparece –esta é uma das principais razões. Para além das instalações, o material está completamente obsoleto. Há dias foi uma ambulância para Lisboa e ficou lá avariada. Há uma obsessão pelos custos e em querer controlar tudo. Antes de se contratualizar seja o que for são precisos três orçamentos –bem sei que a lei exige mas há casos que são de tal modo urgentes que não pode ser assim. Veja o caso da ambulância, vai-se a três oficinas pedir um orçamento ao motor? Como é que se faz? Pede-se a cada uma que desmonte o motor e paga-se a avaliação? A ser assim, lá para o próximo verão devemos ter a viatura pronta! Esta inexistente flexibilidade está a emperrar o sistema. Entende-se mas não é exequível pelo exagerado rigor. Bem sei que a nossa situação financeira não é brilhante. E se está tudo controlado para os próximos seis meses é graças à edilidade, que financiou um subsídio de 50 mil euros. De certo modo até admito a rigidez –até porque, do ponto de vista de gastos, não tenho nada a apontar-lhe- o que não compreendo é a falta de presença e a incapacidade de delegar –no tempo de João Silva o pessoal estava sempre disponível. Agora não. Recusam-se. Só aparecem mesmo se for um sinistro muito grave. Já não vão de livre e espontânea vontade. Passou de uma casa popular e de serviço público para um quartel militar. O presidente Fernandes só fala com ameaças e aos berros, como se as pessoas fossem estúpidas. Na parada, chegou a utilizar uma expressão de “estar habituado a pegar o boi pelos cornos”. Caiu muito mal esta metáfora. Muito mal mesmo! Era preciso haver mais relacionamento humano, mais diálogo com as pessoas. Em face das suas intimações de despedimento alguns funcionários já choraram a bom chorar. Acho que tem um feitio muito difícil, irascível, e não foi feito para o lugar que ocupa.”

A CARTA ANÓNIMA E NOVAS ELEIÇÕES

“O ambiente é de tal modo mau, de cortar à faca, que há cerca de seis meses o presidente recebeu uma carta anónima com ameaça de morte. Na carta era apontado o mau relacionamento entre ele e os bombeiros. Salvo erro, chegou a aventar-se a hipótese de remeter a missiva para a polícia, mas creio que não houve andamento.
Entre algumas pessoas ligadas a esta equipa já foi ponderada a possibilidade de haver novas eleições para tentar acalmar os ânimos. Uma coisa digo: a bem dos Bombeiros Voluntários, alguma atitude deverá ser tomada nos próximos tempos.”

O QUE DIZ CLEMENTE

Perante as acusações de comparecer às reuniões da direção apenas por marcação prévia e de sujeitar os restantes membros à sua vontade, fui ouvir Carlos Clemente. O vice-presidente da AHBVC diz o seguinte: “Não é verdade! Sempre que sou chamado vou lá. E mais, é raro o dia em que não ligue para a associação a saber o que se passa. Tenho feito sacrifícios para estar presente. O que acontece é que eu não posso ir a reuniões às 17h30 e 18h30. Tenho obrigações institucionais que me impedem de estar presente nesse horário. Já pedi ao presidente da direção que fosse paginado um horário pós-laboral e acessível para toda a gente. Mais não posso fazer!”

O QUE DIZ HENRIQUE

Para uma legítima defesa, contactei Henrique Fernandes e li as acusações de que era alvo. Arguiu o seguinte: “Eu não entro nesse tipo de conversas. O primeiro elemento é a AHBVC, que tem a manutenção do corpo de bombeiros. O segundo elemento é o próprio corpo de bombeiros, que tem uma cadeia hierárquica e à sua frente está o comandante. O corpo de bombeiros é tutelado. A Proteção Civil não aponta nada. A Associação Humanitária representa cerca de 6000 sócios. O corpo de bombeiros andará por volta da centena e estão em boa disponibilidade. Embora, sabe-se, os seus meios não são iguais aos Sapadores. Quer dizer, portanto, que gerimos conforme as possibilidades. A gestão dos operacionais é feita pelo comando –que tem autonomia. A presença da direção não afeta em nada a operacionalidade dos bombeiros. Por isso digo que eu ir uma vez por semana chega perfeitamente. A associação reúne duas vezes por mês. Cada membro tem a sua responsabilidade, em atribuições e competências. Alguém imagina que estas acusações serão fundadas, mas não são. Não fico nada preocupado. Vou deixar publicar e depois decido. A nossa casa é deficitária, por causa do transporte de doentes não-urgentes. Temos seis funcionários afetos a este transporte, que dá prejuízo. O que esta direção está a fazer é tentar que a associação seja sustentável.
Essa questão dos subsídios de almoço também não é verdade. Quando tomei posse verifiquei que havia funcionários a receber dois subsídios de refeição, acumuláveis. O que era ilegal. Isso foi suspenso. Mas para que não ficassem prejudicados, passou para subsídio eventual/ajudas de custo. Quanto à reforma de funcionários, alguns mantiveram a vontade de se aposentar aproveitando as regalias que a lei permite. É da sua disponibilidade e da sua vontade.
Posso afirmar que a situação financeira da AHBVC está garantida. A cidade pode estar descansada com o bom serviço que os Bombeiros voluntários prestam.”







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