“Em finais do ano passado a minha
clínica foi assaltada. Ali era o meu trabalho, o coração, o pulsar do
rendimento da minha família. Foi um rude golpe que sofri. O Governo do meu
país, a Venezuela, não garantia a minha segurança e a dos meus. Apesar de ter
começado bem, com ideias para o desenvolvimento do povo, há cerca de 14 anos,
Chavez, com o passar do tempo, foi se tornando igual aos governos que o
antecederam. Ou dito de outra forma, transformou o viver de todos os venezuelanos
em algo inexplicavelmente vazio de tudo, de fé, de esperança, do simples
acreditar no homem enquanto agente da mudança para uma vida melhor.
A lei no meu país só existe para
alguns; a corrupção grassa como cogumelos em terra protegida no inverno;
ninguém respeita ninguém; a propriedade privada não é salvaguardada; qualquer
edifício, grande ou pequeno, a qualquer momento, pode ser confiscado a mando
das autoridades com a bandeira do interesse público; a vida não vale nada;
mata-se para roubar um telemóvel, um relógio, um fio de ouro.
Depois de a minha casa de saúde
ter sido assaltada nunca mais dormi tranquilo. Senti-me inseguro na minha
terra. Apesar dos meus trinta e poucos anos, tinha levado uma facada na minha alma.
Via os meus sonhos esvaírem-se como farrapos de nevoeiro em manhã de sol
resplandecente. Sentia faltar-me as forças. Era lá o meu lar e ali fui agredido.
Era lá que tinha tudo, naquelas paredes edificadas pela minha família estavam
as nossas reminiscências. Aquele prédio era o centro de centrifugação, o ninho
de toda a minha prole, da minha mãe, da minha mulher, dos meus dois filhos ainda
infantes.
Uma noite, em que o despertar
teimava em me manter acordado e o sono, mais uma vez, me abandonara, dei por
mim a dirigir-me ao computador e, no motor de busca, escrever: “as melhores praias
do mundo”. E a primeira que saiu foi “Algarve”. “Algarve”? O que seria isso de “Algarve”?
Eu nunca ouvira falar em tal. Nessa noite não preguei olho a pesquisar tudo o
que dizia respeito a “Portugalo”. Através da Web, corri tudo do Minho ao
Algarve, do norte ao sul, de lés-a-lés. Como pesquisador de ouro atrás da sua
pepita, comecei a ver casas para venda. Acabei preso numa habitação próximo de
Coimbra. No dia seguinte estava a expor os meus planos à minha mulher. Se ela
estivesse de acordo, abandonaríamos a nossa terra e partiríamos em busca de um
mundo melhor. Esta abraçou completamente a minha ideia. A Venezuela não era
mais uma pátria profícua, nem para nós, nem para os nossos filhos.
A seguir contactei dois bancos portugueses
e tratei de obter crédito para comprar a moradia. Infelizmente, porque demorei
algum tempo, acabei por a perder, ganhei outra, em sentido oposto, mas também
muito próximo da cidade dos estudantes. Eu e a minha família estamos cá há
quase 6 meses. Isto é muito bom! Estamos muito felizes! Você tem noção de que o paraíso é aqui? As
gentes de “Portugalo” são muito simples e respeitadoras. Que bem que nos
sentimos cá! Aqui há segurança. Adoro estar aqui. É aqui que queremos ficar. É
aqui que quero que os meus filhos cresçam e se façam pessoas de bem, cidadãos
interessados em lutar pelo que acreditam –sabe que um dos problemas do meu
berço natalício é a incapacidade do povo em se revelar contra a tirania do
Governo? Aceitam tudo de braços caídos sem revolta. Aqui, lutem todos com coesão;
ergam-se em bloco contra as decisões arbitrárias! Com o tempo todos os governos
abusam do seu mandato e, se o povo não se levantar em peso, escravizam-no e
transformam-se em ditadores. Foi o aconteceu com Chavez.
Estou a tentar vender o que tenho
lá na Venezuela para depois trazer a minha mãe para junto de nós. Esta terra é abençoada
por Deus, meu amigo!”
(Relato, na primeira pessoa,
obtido hoje de um cidadão imigrante venezuelano. Às vezes, eu e tantos outros,
passamos a vida a dizer mal do nosso país. É quando ouvimos desabafos assim que
verificamos que estamos na terra do sol crescente. Lutemos pela nossa Pátria.
Pugnemos todos por este chão sagrado, que é nosso!)
1 comentário:
Muito bom!
Já falei com vários venezuelanos que dizem o mesmo.
Aquele maldito Hugo Chávez, mais a direita corrupta anterior a Chávez destruíram a Venezuela.
Abraço!
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