domingo, 19 de agosto de 2012

O PARAÍSO É AQUI!



 “Em finais do ano passado a minha clínica foi assaltada. Ali era o meu trabalho, o coração, o pulsar do rendimento da minha família. Foi um rude golpe que sofri. O Governo do meu país, a Venezuela, não garantia a minha segurança e a dos meus. Apesar de ter começado bem, com ideias para o desenvolvimento do povo, há cerca de 14 anos, Chavez, com o passar do tempo, foi se tornando igual aos governos que o antecederam. Ou dito de outra forma, transformou o viver de todos os venezuelanos em algo inexplicavelmente vazio de tudo, de fé, de esperança, do simples acreditar no homem enquanto agente da mudança para uma vida melhor.
A lei no meu país só existe para alguns; a corrupção grassa como cogumelos em terra protegida no inverno; ninguém respeita ninguém; a propriedade privada não é salvaguardada; qualquer edifício, grande ou pequeno, a qualquer momento, pode ser confiscado a mando das autoridades com a bandeira do interesse público; a vida não vale nada; mata-se para roubar um telemóvel, um relógio, um fio de ouro.
Depois de a minha casa de saúde ter sido assaltada nunca mais dormi tranquilo. Senti-me inseguro na minha terra. Apesar dos meus trinta e poucos anos, tinha levado uma facada na minha alma. Via os meus sonhos esvaírem-se como farrapos de nevoeiro em manhã de sol resplandecente. Sentia faltar-me as forças. Era lá o meu lar e ali fui agredido. Era lá que tinha tudo, naquelas paredes edificadas pela minha família estavam as nossas reminiscências. Aquele prédio era o centro de centrifugação, o ninho de toda a minha prole, da minha mãe, da minha mulher, dos meus dois filhos ainda infantes.
Uma noite, em que o despertar teimava em me manter acordado e o sono, mais uma vez, me abandonara, dei por mim a dirigir-me ao computador e, no motor de busca, escrever: “as melhores praias do mundo”. E a primeira que saiu foi “Algarve”. “Algarve”? O que seria isso de “Algarve”? Eu nunca ouvira falar em tal. Nessa noite não preguei olho a pesquisar tudo o que dizia respeito a “Portugalo”. Através da Web, corri tudo do Minho ao Algarve, do norte ao sul, de lés-a-lés. Como pesquisador de ouro atrás da sua pepita, comecei a ver casas para venda. Acabei preso numa habitação próximo de Coimbra. No dia seguinte estava a expor os meus planos à minha mulher. Se ela estivesse de acordo, abandonaríamos a nossa terra e partiríamos em busca de um mundo melhor. Esta abraçou completamente a minha ideia. A Venezuela não era mais uma pátria profícua, nem para nós, nem para os nossos filhos.
A seguir contactei dois bancos portugueses e tratei de obter crédito para comprar a moradia. Infelizmente, porque demorei algum tempo, acabei por a perder, ganhei outra, em sentido oposto, mas também muito próximo da cidade dos estudantes. Eu e a minha família estamos cá há quase 6 meses. Isto é muito bom! Estamos muito felizes! Você tem noção de que o paraíso é aqui? As gentes de “Portugalo” são muito simples e respeitadoras. Que bem que nos sentimos cá! Aqui há segurança. Adoro estar aqui. É aqui que queremos ficar. É aqui que quero que os meus filhos cresçam e se façam pessoas de bem, cidadãos interessados em lutar pelo que acreditam –sabe que um dos problemas do meu berço natalício é a incapacidade do povo em se revelar contra a tirania do Governo? Aceitam tudo de braços caídos sem revolta. Aqui, lutem todos com coesão; ergam-se em bloco contra as decisões arbitrárias! Com o tempo todos os governos abusam do seu mandato e, se o povo não se levantar em peso, escravizam-no e transformam-se em ditadores. Foi o aconteceu com Chavez.
Estou a tentar vender o que tenho lá na Venezuela para depois trazer a minha mãe para junto de nós. Esta terra é abençoada por Deus, meu amigo!”

(Relato, na primeira pessoa, obtido hoje de um cidadão imigrante venezuelano. Às vezes, eu e tantos outros, passamos a vida a dizer mal do nosso país. É quando ouvimos desabafos assim que verificamos que estamos na terra do sol crescente. Lutemos pela nossa Pátria. Pugnemos todos por este chão sagrado, que é nosso!)

1 comentário:

João Nobre disse...

Muito bom!

Já falei com vários venezuelanos que dizem o mesmo.

Aquele maldito Hugo Chávez, mais a direita corrupta anterior a Chávez destruíram a Venezuela.

Abraço!