(Imagem da Web)
Na semana passada realizou-se
mais uma reunião extraordinária do executivo da Câmara Municipal de Coimbra
sobre a empresa Metro Mondego. Segundo a notícia do Diário de Coimbra, nesta
sessão foi aprovada parcialmente uma proposta do Partido Socialista apresentada
há dois anos.
Não vou perorar sobre esta
questão de “per si”, isto é, se com esta aceitação se perderam ou não 24 meses.
Gostaria antes de elevar esta crónica, por um lado, para uma análise mais terra
a terra e, por outro, levando-a para o virtual, para o que pensará disto o
cidadão comum.
Creio que este folhetim “metro
ligeiro de superfície” já deveria estar decidido há muito tempo. O que se
assiste, começando pelas autarquias, é um emprenhar, um “partir pedra”,
contínuo de todos os envolvidos e sem resultados práticos à vista. É como se os
executivos de Coimbra, Miranda do Corvo e Lousã e respectivas oposições
andassem em círculo e, pelos compromissos assumidos desde a constituição da
empresa Metro, em 1996, não se conseguissem libertar desta praga.
Como mais à frente tentarei
explicar esta síndrome do levar em frente um projecto ruinoso e falhado e em
que nem eles próprios nem outros acreditam já extravasou o poder local. A meu
ver estaremos perante uma teimosia em que apenas subsiste pelos interesses
partidários envolvidos. Embora o País esteja numa crise de Finanças Públicas
com paralelo apenas num cenário de bancarrota em 1892, nenhum dos parceiros dá
mostras de colocar o Estado acima das suas conveniências políticas.
Todos sabemos que a ideia do Metro não
surgiu em Coimbra pela carência de mais e melhores transportes. A urbe dos
estudantes nunca teve necessidade desta obra mastodôntica. Por outras palavras,
este projecto foi imposto pelo poder político à cidade, na altura governada por
Manuel Machado, do partido Socialista (PS) –na edilidade dos estudantes, tal
como o país, os seus executivos, nas últimas décadas, têm andado sempre a balouçar
entre o PS e coligações do PSD. Surgiu na onda de novo-riquismo e onde o que
interessava era ter um transporte de excelência mesmo que, pela falta de
viabilidade, redundasse num plano ruinoso para as gerações futuras. Se
Mirandela tinha o seu, ainda que sem receitas que assegurassem a sua
sustentabilidade, a Lusa Atenas também tinha que ter igual. O que veio a seguir e
ao longo dos últimos 16 anos, com milhões gastos em programas, demolições,
expropriações, mais planos e mais administrações, e mais mudanças do poder
autárquico do PS para o PSD, que nem vale a pena estar a maçar quem lê. E
chegamos ao presente. E a pergunta que se faz é a seguinte: se este projecto, de
facto, nunca fez sentido, hoje, com todas as consequências da crise estrutural
e conjuntural, nomeadamente com o elevado desemprego, fará algum sentido
continuar a defender esta obra?
Antes de responder vamos só elencar
algumas premissas importantes. Segundo o jornal Público de ontem, quatro
transportadoras públicas do Porto e de Braga, nos primeiros seis meses deste
ano e em comparação com o período homólogo de 2011, perderam 7,4 milhões de
passageiros –não vale a pena elencar as causas nem tão pouco transcrever que esta redução tem
sido lucrativa para as empresas do norte. A título de curiosidade, diz o jornal
que “a STCP (Serviço de Transportes Colectivos do Porto) foi a empresa que mais
passageiros perdeu: uma sangria de seis milhões de viagens que tem a ver com a
supressão de serviços que levou a cabo.”
Escreve ainda o Público que na
opinião de um técnico “(…) não é o desemprego, mas sim o aumento dos preços que
explicam a quebra de mobilidade no Grande Porto.”
Depois desta ressalva em amostragem,
não tenho duvida nenhuma em afirmar que, sendo Coimbra uma cidade média com
cerca de 140 mil habitantes e tendo uma população flutuante de 40 mil, este processo
do metro para a cidade não faz o mínimo sentido.
E agora, sendo eu um defensor da
reposição da linha da Lousã retirada com base numa promessa nunca cumprida, vou
escrever aqui que, mesmo considerando a legítima de ressarcimento como de
elementar justiça para o povo espoliado de forma aviltante, nesta actual
conjuntura ponho em dúvida a exequibilidade financeira da restituição da
linha.
E coloco uma pergunta: o Governo
e mais propriamente o Secretário de Estado dos Transportes, Sérgio Monteiro,
não sabe? Claro que está farto de saber! Ora, partindo do princípio de que
enquanto representante maioritário na empresa tem conhecimento da sua inviabilidade,
porque não diz a verdade de uma vez por todas às compartes? Na minha opinião,
tal como os executivos locais e accionistas minoritários da Metro, porque
também está preso a compromissos durante a campanha eleitoral e, como se não
chegasse, para o ano há eleições, mas, é mais que lógico: este processo jamais
sairá do papel.
Mas ainda poderemos fazer outra
pergunta: e a nomeação de Carlos Encarnação, como coordenador do grupo de
trabalho e de análise desta obra, por parte da tutela, foi um “queimar tempo”
ou, por opção calculada, uma armadilha para o ex-presidente da Câmara de
Coimbra? Isto é, imaginemos que a sua equipa vem dizer preto no branco que é
uma leviandade económica levar isto para frente, como é que, estando ele, tal como
os restantes, enterrado até às orelhas neste processo viciado, como fica a sua
imagem perante os conimbricenses?
E ainda outra questão: sabendo de
antemão que a sua conclusão pode ser conclusiva na decisão do Governo, e
sabendo que será sempre preso por ter cão ou não ter, será Encarnação suficientemente
livre para dizer a verdade?
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