Quem der uma volta pela cidade de
Coimbra, com tempo e se abstrair das suas normais preocupações, desde o norte
até ao sul, desde a Alta até à Baixa, facilmente constata os imensos e
incomensuráveis postos de trabalho encerrados e dizimados. São escritórios, são
estabelecimentos, são pequenos locais prestadores de serviços que até há poucos
anos deram emprego a toda a população citadina e zonas limítrofes. O número é
avassalador. A desertificação acelerada de toda a urbe, sobretudo no Centro
Histórico da Alta e Baixa, é catastrófica.
No seu aforismo popular, diz o
povo, mais ou menos isto, que na primeira qualquer um cai, na segunda só os
parvos persistem. Quero dizer com isto que se já há muito se viu que a opção
por este sistema económico, na preferência em, por um lado, centralizar e em
detrimento do modelo secular e assente na variação, por outro, continuar a
autorizar o licenciamento de novos projectos está errado e a contribuir para
mais desemprego. Estamos a assistir ao esvaziamento da utilidade das cidades
enquanto polos aglutinadores. Se é um erro de palmatória, porque se persiste? Se,
no caso de estabelecimentos no mesmo ramo, já deu para ver que a abertura de um
novo irá contribuir para o encerramento de, pelo menos, dois antigos, seria de
supor que, quem manda, em vez de se continuar nesta absurda lei da selva,
escudada numa liberdade individual de cada um poder fazer o que quer, se
legislasse num ordenamento comercial e industrial com urgência e se arrepiasse
caminho. Mas, como brinquedo de corda que vai até ao fim, nada disso, tudo
continua. Em nome de um desenvolvimento dominador, absolutista e obsessivo, autofágico
e que se destrói a si mesmo, assistimos todos a um desregulamento que está a conduzir
a um processo de falência colectiva –não só devido a este facto, como também à
crise económica, segundo as notícias, estão a encerrar 500 empresas por dia. Pelos
visto ninguém se preocupa.
E chegados aqui, tentando ir mais
longe e dissecando numa pretensa análise, uma vez que ouso pôr em dúvida este
modelo seguido até agora, poderemos colocar uma questão simples: poderemos nós interromper
este ciclo, considerado até há pouco de excelso e de uma aparente e
extraordinária dinâmica do progresso? Ou seja, não estarei eu a propor que se coloque
um “pau na roda” do desenvolvimento? E se assim é, nesse caso, nunca teríamos
passado da máquina a vapor, que foi o centro da Revolução Industrial, para o
processamento de substituição que surgiu a seguir, certo?
Antes de responder a estas
questões, faço outra pergunta: o que é o Progresso? Sem entrar em grandes
tiradas filosóficas, sabe-se que, para falar dele, teremos de dividi-lo em duas
premissas: espiritual e terreno. Neste caso, por que é o que interessa agora,
focarei apenas o terreno. E, respondendo objectivamente à interrogação, diremos
que o Progresso será a direcção contínua -sem cortes horizontais- estabelecido
numa linha vertical que visa o aperfeiçoamento do bem-estar da humanidade.
Penso que não haverá dúvida de
que a substituição da máquina a vapor pelas sucessoras, mecânica a diesel ou
eléctrica, foi um processo contínuo de evolução, isto é, não existiu uma
separação, em corte transversal, no objecto, este, que seria atingir um maior
bem-estar e, por outro lado, sem descolar da sua essência, continuar a utilizar
a mão-de-obra humana.
E chegados aqui, poderemos ainda formular
a seguinte interpelação: com estas novas formas de centralização, comercial ou
industrial, onde o digital está tomar completamente conta da mecânica e do
trabalho braçal, será que estamos perante o Progresso, tal como o descrevi?
Penso que não. E por quê? Porque estamos a assistir a um novo ciclo que impede
o normal “continuum” como o temos visto até aqui. Estamos perante um fim de
linha e o começo de uma nova vaga. Logo, esta nova era não pode ser apelidada
de Progresso. Ora, sendo assim, será o quê? Essa será a questão. Para já não
vou apresentar conjecturas –se dúvidas tivermos, tomando o exemplo do comboio, sem
que haja substituição por outro mais moderno, verificamos que se está a
abandonar este meio de transporte entre populações.
Durante os últimos 250 anos,
levando como início a Revolução Industrial em meados do século XVIII,
considerou-se sempre que a tomada do esforço humano substituído pela máquina
seria um sistema ininterrupto que, na sua mexida natural, visaria no limite
tornar o homem cada vez mais virado para o ócio e menos dependente do trabalho.
Assim foi acontecendo, e, ao mesmo tempo, acompanhado com novas e justas
conquistas laborais –com a grande manifestação em Chicago, em 1886, com o 1º de
Maio, que visava reduzir a jorna para 8 horas diárias.
Na teoria económica, de certo modo,
sempre se teve em conta um equilíbrio, ainda que precário, entre Capital,
expressado no investimento em máquinas, e Trabalho, manifestado na mão-de-obra humana. Isto
é, a partir do momento em que se perdesse o controlo do prato da balança da mecânica,
e esta se desequilibrasse totalmente, colocando em perigo o labor, enquanto fonte
de rendimento único da colectividade, todo o homem na vida social estaria em
perigo.
A verdade é que a invenção do
computador, em 1946, por dois norte-americanos, veio iniciar uma nova e, a meu
ver, última fase do Progresso: a Tecnologia. Começava aqui o princípio do fim
do Progresso, tal como o descrevo.
E agora? Será a questão a formular.
Naturalmente que eu não sei nada. Limitei-me a seguir uma linha de pensamento. Uma ilacção poderá ser retirada: fomos vencidos pela máquina. Por outro lado, uma coisa será previsível a médio-prazo: inevitavelmente haverá um retorno
ao passado. Este novo período da história da humanidade, inegavelmente, trouxe
muito mais comodidade, mas, vemos agora: muita insegurança. Porém, pelo desastre
que estamos a assistir, teremos de prescindir de algum bem-estar associado e
virarmo-nos novamente para o esforço físico e mental.
Voltando ao tema inicial do
encerramento em série de pequenos operadores, e depois desta longa exposição,
era bom que se reflectisse se estaremos a trilhar o caminho certo. Talvez valha
a pena pensar nisto!
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