quinta-feira, 2 de agosto de 2012

LEIA O DESPERTAR...



LEIA AQUI O DESPERTAR DESTA SEMANA


Para além da coluna "Uma crónica inviezada sobre o comércio local", deixo também os meus textos "Rostos Nossos (Des)conhecidos: "O compositor",  "Um pirosismo bacoco" e "Reflexão: uma bomba no comércio".




UMA CRÓNICA INVIEZADA SOBRE O COMÉRCIO LOCAL

 Henrique Raposo, colunista do semanário Expresso, pelos vistos, num sábado da semana em que decorreu o festival de ginástica Eurogyme, veio a Coimbra e, como pássaro esvoaçante, que vê tudo lá do alto, em crónica duvidosa e com título “Ui, ui, o comércio tradicional”, tratou de desancar os comerciantes da Baixa da cidade. Como já escrevi aqui na última edição Falando daquele evento, salvo pequenas vendas pontuais, na generalidade não trouxe mais-valias para o comércio da cidade.
 Sinceramente, não é que não lhe credite alguma razão, o problema é a forma aligeirada e enviesada como o faz. Hoje, todos sabemos, a começar por mim, temos opinantes generalistas que falam de qualquer assunto com as maiores facilidades, mas se formos discutir o “comprar e vender”, aqui, já não se trata apenas de falar, todos sabem profundamente e até detêm soluções sobre o comércio tradicional. Mais, até se permitem, constantemente, dar pareceres sobre esta tão ancestral profissão. A ideia que perpassam é que esta classe de vendedores está ultrapassada, não sabe nada, e a culpa da crise que está a sofrer a si o devem em toda a sua plenitude –nem ao de leve, em dúvida, colocam a hipótese de haver vários fatores convergentes que empurraram o comércio de rua para o estado letárgico e anémico em que se encontra. No fundo até nem admira, porque a principal causa do cancro que, em moléstia de pandemia, alastra neste sector, deve-se a políticos sem projeção, sem alma, sem Pátria, que nunca vislumbraram o futuro nas suas ações, como deve ser condição “sine qua non” de qualquer interveniente de passagem pelo poder. É óbvio que este arrasamento de sectores essenciais ao País não se ficou apenas por este da distribuição, infelizmente. O comércio não é mais do que um delta confluente a jusante onde vários ramos estratégicos, a montante, vêm desaguar. É lógico, portanto, que se a produção está doente, em coma, é evidente que o comércio, na subsequência, nunca poderia apresentar-se saudável. Ora, para tentar tapar o sol com a peneira, tentando justificar os seus desastres apocalíticos para a Nação, o que fizeram os políticos desde há 20 anos para cá? Utilizaram a demagogia pura e dura num consumidor ignorante, interesseiro e que só vê o que está à frente dos seus olhos, mal esclarecido, e facilmente manipulável. Ou seja, sacudindo o capote, escamoteando a sua inteira culpa direta, foram passando a ideia de que o desastre que estamos a assistir é por inteiro e da responsabilidade dos mercadores. E a verdade é que este pensamento único colou mesmo e bem. Para quase todos, o comércio tradicional é constituído por “Velhos do Restelo” que, numa onda avassaladora progressista, se deixaram comer completamente e sem reação.
Porém, há uma diferença substancial em uma opinião pública acrítica e amorfa e um jornalista. E porquê? Porque, para além de esta classe estar obrigada ao cumprimento de um estatuto de equidade na retratação das partes, sabe-se, são pessoas muito mais esclarecidas e intuitivas do que a demais população. É certo que se poderá sempre dizer de que estamos perante um texto opinativo, mas, mesmo assim, pela necessária honestidade intelectual, não desonera.
Então, chegados aqui, e numa subjetiva análise ao texto do “mensageiro”, posso opinar também. Para mim este jornalista do Expresso sofre de delírios. Para além de não saber nada do que se passa em Coimbra sofre de estigmatismo. Este cronista, ao que parece, desconhece completamente, e nunca procurou saber, o que se passa no comércio tradicional nacional, porque o que se verifica na Lusa Atenas é transversal. É mais um doutor formado em Marketing por uma universidade mais fatela do que a que deu o canudo ao outro. Este jornalista é um turista de sacola ao ombro que arribou a Coimbra e, como se soubesse alguma coisa do que se passa no pequeno estabelecimento de rua, debita bitaites. Mais, só não percebo, havendo tantos doutorados na arte de comprar e vender, porque não vêm abrir lojas aqui na Baixa? Com o seu saber sebenteiro e erudito, com a sua certeza em que os que cá estão são uns aselhas, isto seria tiro e queda no sucesso. Venham eles... venham eles! Neste caso sobre o texto em análise, haja dó para tanta palermice.
A imprensa está cheia de jornalistas de meia-tigela, que confundem a informação com o conhecimento; que olham para uma situação, como máquina fotográfica a captar o superficial, inferem parcialmente do que veem, evacuam sentenças, não ouvem com imparcialidade as partes, e, seguindo o massificado, quando a sua função é despoletar o pensamento crítico, despejam o veneno que os consome interiormente. Haja pachorra para aturar profissionais da imprensa assim.




ROSTOS NOSSOS (DES)CONHECIDOS

“O COMPOSITOR”


 Os artistas de rua são como as andorinhas, quando o frio e chuva invernosos vêm “dão o salto” para outros climas mais amenos. São saltimbancos entre cidades que a maioria, a começar pelos edis, não dá valor. Quando “levantam voo”, as ruas ficam mais tristes, entregues a si próprias e aos ruídos incaracterísticos e de silêncio envolventes de quem passa, tantas vezes, imerso em mil pensamentos de constante preocupação.
São estes criadores que, através das suas performances, quebram o quotidiano das urbes. A troco de uma moeda podemos ouvir uma melodia que já quase não tinha lugar na nossa memória. E o Luís Cortez é um destes, porém, com uma diferença, como é invisual não arriba para outros lugares e, quer seja verão ou inverno, mantêm-se todo o ano na Baixa da cidade onde poderemos vê-lo e ouvi-lo, ao vivo e a cores, junto à Loja do Cidadão. Com um braço apenas –o Cortez é também deficiente motor- este homem canta e encanta quem passa. Para além de excelente intérprete, o Cortez é também compositor. Em 2009, nos Estúdios da Valentim de Carvalho, gravou quatro cd’s de música original, compostos e musicados por si, e que foram a banda sonora na campanha eleitoral do então candidato à autarquia Pina Prata.


UM PIROSISMO BACOCO

 A Caixa Geral de Depósitos é uma sociedade anónima de capitais exclusivamente públicos. O que quer dizer que só o Estado pode ser detentor desse mesmo capital. Por outro lado, quer dizer também que, embora esteja sujeita nas mesma regras concorrenciais das demais instituições bancárias, a sua responsabilidade social, enquanto banco público e de certo modo visando um cliente mais popular, é maior do que as demais.
Acontece que a filial de Coimbra, junto à Câmara Municipal, está a apresentar as senhas de espera em inglês. Só o cabeçalho, com o logótipo, e o balcão, “Central de Coimbra”, são em português. No pequeno quadrado de papel pode ler-se “date”, no correspondente à data; “Arrival time”, hora de chegada, e “People in Queue”, pessoas em fila, creio.
Ora, entre várias, a primeira pergunta que poderemos formular é: o que é isto? Pode uma instituição pública fazer uma alarvidade destas? Lá poder pode, e o exemplo está à vista de todos. Mas não devia. Em período de acordo ortográfico, em que só o simples facto da mudança já gerar resistências e bloqueios; num tempo em que, por um lado, há mais de uma dezena de anos que, gastando milhões de euros, se fazem iniciativas em defesa da língua portuguesa e da leitura, em que praticamente o livro foi arrumado no caixote do lixo; numa época em que quase ninguém escreve, e os que escrevem, sobretudo os jovens, fazem-no de forma simplista e deformada e, por este andar, não tardará muito, saberão apenas fazer a sua assinatura, pode compreender-se uma iniciativa assim? Pode até dizer-se que estamos perante um mero detalhe, mas acontece que é nos pormenores que, enquanto povo arreigado a costumes e tradições, nos revemos. É aqui que está o nosso ADN e mora a nossa identidade.
Com este atentado à língua portuguesa a Caixa Geral de Depósitos está a contribuir fortemente para um novo tipo de analfabetismo sociológico. Se quem decide lá no topo da hierarquia, e se esta mensagem lá chegar, tenha dó de quem percebe pouco de inglês, como eu. Não nos faça ter vergonha da nossa língua e da nossa terra lusa. Por amor da Santa, acabe lá com este “pirosismo” bacoco.


REFLEXÃO: UMA BOMBA NO COMÉRCIO

 Esta semana, mais propriamente, na segunda-feira, o Presidente da República promulgou as novas alterações à Lei do Arrendamento Urbano. Se estas modificações serão mais que justas para colmatar uma iniquidade que tem muitas décadas, em prejuízo de muitos proprietários que foram sendo sucessivamente espoliados e explorados vilmente, também é certo que agora, ao serem aplicadas, a partir de novembro, e numa altura de tanta fragilidade no comércio tradicional, irão causar um verdadeiro terramoto no sector. Se para a habitação o vereador do pelouro, Francisco Queirós, já manifestou a sua preocupação no Executivo, para o arrendamento comercial era bom também que todo o poder local estivesse atento.




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