Para além da coluna "Uma crónica inviezada sobre o comércio local", deixo também os meus textos "Rostos Nossos (Des)conhecidos: "O compositor", "Um pirosismo bacoco" e "Reflexão: uma bomba no comércio".
UMA CRÓNICA INVIEZADA SOBRE O COMÉRCIO LOCAL
Henrique Raposo, colunista do
semanário Expresso, pelos vistos, num sábado da semana em que decorreu o
festival de ginástica Eurogyme, veio a Coimbra e, como pássaro esvoaçante, que
vê tudo lá do alto, em crónica duvidosa e com título “Ui, ui, o comércio
tradicional”, tratou de desancar os comerciantes da Baixa da cidade. Como já
escrevi aqui na última edição Falando daquele evento, salvo pequenas vendas
pontuais, na generalidade não trouxe mais-valias para o comércio da cidade.
Sinceramente, não é que não
lhe credite alguma razão, o problema é a forma aligeirada e enviesada como o
faz. Hoje, todos sabemos, a começar por mim, temos opinantes generalistas que
falam de qualquer assunto com as maiores facilidades, mas se formos discutir o
“comprar e vender”, aqui, já não se trata apenas de falar, todos sabem
profundamente e até detêm soluções sobre o comércio tradicional. Mais, até se
permitem, constantemente, dar pareceres sobre esta tão ancestral profissão. A
ideia que perpassam é que esta classe de vendedores está ultrapassada, não sabe
nada, e a culpa da crise que está a sofrer a si o devem em toda a sua plenitude
–nem ao de leve, em dúvida, colocam a hipótese de haver vários fatores
convergentes que empurraram o comércio de rua para o estado letárgico e anémico
em que se encontra. No fundo até nem admira, porque a principal causa do cancro
que, em moléstia de pandemia, alastra neste sector, deve-se a políticos sem
projeção, sem alma, sem Pátria, que nunca vislumbraram o futuro nas suas ações,
como deve ser condição “sine qua non” de qualquer interveniente de passagem
pelo poder. É óbvio que este arrasamento de sectores essenciais ao País não se
ficou apenas por este da distribuição, infelizmente. O comércio não é mais do
que um delta confluente a jusante onde vários ramos estratégicos, a montante,
vêm desaguar. É lógico, portanto, que se a produção está doente, em coma, é
evidente que o comércio, na subsequência, nunca poderia apresentar-se saudável.
Ora, para tentar tapar o sol com a peneira, tentando justificar os seus
desastres apocalíticos para a Nação, o que fizeram os políticos desde há 20
anos para cá? Utilizaram a demagogia pura e dura num consumidor ignorante,
interesseiro e que só vê o que está à frente dos seus olhos, mal esclarecido, e
facilmente manipulável. Ou seja, sacudindo o capote, escamoteando a sua inteira
culpa direta, foram passando a ideia de que o desastre que estamos a assistir é
por inteiro e da responsabilidade dos mercadores. E a verdade é que este
pensamento único colou mesmo e bem. Para quase todos, o comércio tradicional é
constituído por “Velhos do Restelo” que, numa onda avassaladora progressista,
se deixaram comer completamente e sem reação.
Porém, há uma diferença
substancial em uma opinião pública acrítica e amorfa e um jornalista. E porquê?
Porque, para além de esta classe estar obrigada ao cumprimento de um estatuto
de equidade na retratação das partes, sabe-se, são pessoas muito mais
esclarecidas e intuitivas do que a demais população. É certo que se poderá
sempre dizer de que estamos perante um texto opinativo, mas, mesmo assim, pela
necessária honestidade intelectual, não desonera.
Então, chegados aqui, e numa
subjetiva análise ao texto do “mensageiro”, posso opinar também. Para mim este
jornalista do Expresso sofre de delírios. Para além de não saber nada do que se
passa em Coimbra sofre de estigmatismo. Este cronista, ao que parece,
desconhece completamente, e nunca procurou saber, o que se passa no
comércio tradicional nacional, porque o que se verifica na Lusa Atenas é
transversal. É mais um doutor formado em Marketing por uma universidade mais
fatela do que a que deu o canudo ao outro. Este jornalista é um turista de
sacola ao ombro que arribou a Coimbra e, como se soubesse alguma coisa do que
se passa no pequeno estabelecimento de rua, debita bitaites. Mais, só não
percebo, havendo tantos doutorados na arte de comprar e vender, porque não vêm
abrir lojas aqui na Baixa? Com o seu saber sebenteiro e erudito, com a sua
certeza em que os que cá estão são uns aselhas, isto seria tiro e queda no
sucesso. Venham eles... venham eles! Neste caso sobre o texto em análise, haja
dó para tanta palermice.
A imprensa está cheia de
jornalistas de meia-tigela, que confundem a informação com o conhecimento; que
olham para uma situação, como máquina fotográfica a captar o superficial,
inferem parcialmente do que veem, evacuam sentenças, não ouvem com
imparcialidade as partes, e, seguindo o massificado, quando a sua função é
despoletar o pensamento crítico, despejam o veneno que os consome
interiormente. Haja pachorra para aturar profissionais da imprensa assim.
ROSTOS NOSSOS (DES)CONHECIDOS
“O COMPOSITOR”
Os artistas de rua são como as
andorinhas, quando o frio e chuva invernosos vêm “dão o salto” para outros
climas mais amenos. São saltimbancos entre cidades que a maioria, a começar
pelos edis, não dá valor. Quando “levantam voo”, as ruas ficam mais tristes,
entregues a si próprias e aos ruídos incaracterísticos e de silêncio envolventes
de quem passa, tantas vezes, imerso em mil pensamentos de constante
preocupação.
São estes criadores que, através das suas performances, quebram o quotidiano das urbes. A troco de uma moeda podemos ouvir uma melodia que já quase não tinha lugar na nossa memória. E o Luís Cortez é um destes, porém, com uma diferença, como é invisual não arriba para outros lugares e, quer seja verão ou inverno, mantêm-se todo o ano na Baixa da cidade onde poderemos vê-lo e ouvi-lo, ao vivo e a cores, junto à Loja do Cidadão. Com um braço apenas –o Cortez é também deficiente motor- este homem canta e encanta quem passa. Para além de excelente intérprete, o Cortez é também compositor. Em 2009, nos Estúdios da Valentim de Carvalho, gravou quatro cd’s de música original, compostos e musicados por si, e que foram a banda sonora na campanha eleitoral do então candidato à autarquia Pina Prata.
São estes criadores que, através das suas performances, quebram o quotidiano das urbes. A troco de uma moeda podemos ouvir uma melodia que já quase não tinha lugar na nossa memória. E o Luís Cortez é um destes, porém, com uma diferença, como é invisual não arriba para outros lugares e, quer seja verão ou inverno, mantêm-se todo o ano na Baixa da cidade onde poderemos vê-lo e ouvi-lo, ao vivo e a cores, junto à Loja do Cidadão. Com um braço apenas –o Cortez é também deficiente motor- este homem canta e encanta quem passa. Para além de excelente intérprete, o Cortez é também compositor. Em 2009, nos Estúdios da Valentim de Carvalho, gravou quatro cd’s de música original, compostos e musicados por si, e que foram a banda sonora na campanha eleitoral do então candidato à autarquia Pina Prata.
UM PIROSISMO BACOCO
A Caixa Geral de Depósitos é uma
sociedade anónima de capitais exclusivamente públicos. O que quer dizer que só
o Estado pode ser detentor desse mesmo capital. Por outro lado, quer dizer também
que, embora esteja sujeita nas mesma regras concorrenciais das demais
instituições bancárias, a sua responsabilidade social, enquanto banco público e
de certo modo visando um cliente mais popular, é maior do que as demais.
Acontece que a filial de Coimbra,
junto à Câmara Municipal, está a apresentar as senhas de espera em inglês. Só o
cabeçalho, com o logótipo, e o balcão, “Central de Coimbra”, são em português.
No pequeno quadrado de papel pode ler-se “date”, no correspondente à data;
“Arrival time”, hora de chegada, e “People in Queue”, pessoas em fila, creio.
Ora, entre várias, a primeira
pergunta que poderemos formular é: o que é isto? Pode uma instituição pública
fazer uma alarvidade destas? Lá poder pode, e o exemplo está à vista de todos.
Mas não devia. Em período de acordo ortográfico, em que só o simples facto da
mudança já gerar resistências e bloqueios; num tempo em que, por um lado, há mais
de uma dezena de anos que, gastando milhões de euros, se fazem iniciativas em
defesa da língua portuguesa e da leitura, em que praticamente o livro foi
arrumado no caixote do lixo; numa época em que quase ninguém escreve, e os que
escrevem, sobretudo os jovens, fazem-no de forma simplista e deformada e, por
este andar, não tardará muito, saberão apenas fazer a sua assinatura, pode
compreender-se uma iniciativa assim? Pode até dizer-se que estamos perante um
mero detalhe, mas acontece que é nos pormenores que, enquanto povo arreigado a costumes
e tradições, nos revemos. É aqui que está o nosso ADN e mora a nossa
identidade.
Com este atentado à língua
portuguesa a Caixa Geral de Depósitos está a contribuir fortemente para um novo
tipo de analfabetismo sociológico. Se quem decide lá no topo da hierarquia, e
se esta mensagem lá chegar, tenha dó de quem percebe pouco de inglês, como eu.
Não nos faça ter vergonha da nossa língua e da nossa terra lusa. Por amor da
Santa, acabe lá com este “pirosismo” bacoco.
REFLEXÃO: UMA BOMBA NO COMÉRCIO
Esta semana, mais propriamente,
na segunda-feira, o Presidente da República promulgou as novas alterações à Lei
do Arrendamento Urbano. Se estas modificações serão mais que justas para
colmatar uma iniquidade que tem muitas décadas, em prejuízo de muitos
proprietários que foram sendo sucessivamente espoliados e explorados vilmente,
também é certo que agora, ao serem aplicadas, a partir de novembro, e numa
altura de tanta fragilidade no comércio tradicional, irão causar um verdadeiro
terramoto no sector. Se para a habitação o vereador do pelouro, Francisco
Queirós, já manifestou a sua preocupação no Executivo, para o arrendamento
comercial era bom também que todo o poder local estivesse atento.
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