quinta-feira, 30 de agosto de 2012

ENCERROU O SALÃO BRAZIL



 Encerrou uma das mais típicas casas da Baixa de Coimbra: o Salão Brazil. Escrever assim, desta forma fria, não consigo transmitir a quem me lê um pouco da tristeza que me envolve. É como se estivesse a anunciar a morte de um ente querido.
Depois de décadas de muita história deste salão, nesta segunda fase, digamos assim, foram 8 anos de muita luta -e essa homenagem, creio, ninguém a fará, mas é devida- que o Telmo, contra ventos e marés, tudo fez para manter este grande navio à tona. Porque soçobrou todos sabemos as causas mas nem vou enunciá-las pela razão de que não falei com este último proprietário e, como forma de respeito, prefiro escrever que, enquanto durou, durante estes 8 anos, foi uma casa de referência na Baixa, na cidade, em Portugal e até pelo mundo inteiro, tendo em conta os muitos estrangeiros que o frequentavam. Sei, porque enquanto vizinho me apercebia, que o Telmo deu tudo para aguentar até que pode.
Se as cidades são centros de convivência, naturalmente, só fazem sentido com as pessoas e os estabelecimentos que os constituem. Ao desaparecerem do seu seio, homem e negócio porque são siameses impossíveis de separar, a urbe, enquanto núcleo, fica mais triste, mais só, muito mais a viver em angústia pesada e que se vai alastrar a quem nele vive e revive. Todos nós que continuamos a assistir a estas ausências anunciadas, e que nunca mais voltarão, deveríamos ficar preocupados com o que se está a passar nas nossas ruas das nossas cidades, vilas ou aldeias. O que está acontecer à nossa volta é demasiado trágico para podermos aceitar pacificamente de mãos cruzadas sobre o peito. A pergunta que mais me ocorre é perguntar: o que é isto?
É certo que, enquanto cidadãos comuns, não poderemos fazer nada -ou poderemos?-, mas e quem manda, quem detém o poder decisório, também não pode fazer nada? Ou será que este poder sofre de autismo? Estando a ser o coveiro destas muitas casas com história e a mandar para o charco as famílias que aí detinham o seu rendimento e que lhes permitia viver condignamente, parece apenas interessado em tudo o que é grande, prestando vassalagem ao que vem de fora, faz de conta que não vê e assobia para o lado? É demasiado triste o que está acontecer aos nossos pequenos centros onde vivemos e partilhamos com todos as nossas vidas. Especulando, deveríamos ter uma varinha mágica que pudesse perpetuar estes marcos históricos para além do seu ciclo de vida. Infelizmente não temos! Uma lágrima de saudade para uma luz que feneceu.

JAZZ AO CENTRO CLUBE TOMA CONTA DO ESPAÇO

 Embora o Jazz ao Centro Club já desse há vários anos uma “mãozinha” ao Telmo, segundo o presidente desta agremiação jazzística, Rocha Santos, “ficámos com o espaço e vamos continuar para que a história deste grande salão tão importante para a Baixa de Coimbra não se perca. Depois de umas pequenas obras de remodelação, contamos em (re)abrir lá para o princípio de Outubro. Vamos fazer deste local um grande centro de actividades culturais onde, naturalmente, o Jazz estará presente mas também outras formas musicais. Embora já o fosse, mas como viemos de novo e cheios de força, estamos apostados em fazer desta casa, que agora pertencerá ao Jazz ao Centro Clube, um sítio de referência local e internacional. Queremos dar a conhecer à cidade todo o nosso trabalho em prol da música. A maioria dos conimbricenses não sabe mas temos uma vasta obra cultural em marcha. Já editámos 18 discos. Felizmente, pela declaração expressa de várias entidades, o nosso esforço está ser reconhecido por todos, incluindo a Câmara Municipal de Coimbra. Esta nova passada, que agora estamos a encetar, é mais uma entre muitas ideias que temos para colocar a andar.”

1 comentário:

JPG disse...

Quando passei no seu espaço (muito bem recheado), vinha de visitar o Núcleo da Cidade Muralhada (Torre de Almedina e outros espaços) com o meu filhote.

Aproveitei para lhe mostrar e explicar o que são as Repúblicas e o Sousa Bastos.

Ao passar junto ao Salão Brazil (ainda me atrevi a contar algumas peripécias - as mais "softs", claro), fiquei surpreendido, mas pareceu-me que seria apenas um encerramento temporário para férias.

É muito mau não conseguirmos manter espaços do nosso imaginário colectivo.

Restam-nos as fotos e as vivências (enquanto o tal Alzheimer não nos trair).

Abraço!