Encerrou uma das mais típicas
casas da Baixa de Coimbra: o Salão Brazil. Escrever assim, desta forma fria,
não consigo transmitir a quem me lê um pouco da tristeza que me envolve. É como
se estivesse a anunciar a morte de um ente querido.
Depois de décadas de muita
história deste salão, nesta segunda fase, digamos assim, foram 8 anos de muita
luta -e essa homenagem, creio, ninguém a fará, mas é devida- que o Telmo,
contra ventos e marés, tudo fez para manter este grande navio à tona. Porque soçobrou
todos sabemos as causas mas nem vou enunciá-las pela razão de que não falei com este último
proprietário e, como forma de respeito, prefiro escrever que, enquanto durou,
durante estes 8 anos, foi uma casa de referência na Baixa, na cidade, em
Portugal e até pelo mundo inteiro, tendo em conta os muitos estrangeiros que o
frequentavam. Sei, porque enquanto vizinho me apercebia, que o Telmo deu tudo
para aguentar até que pode.
Se as cidades são centros de convivência,
naturalmente, só fazem sentido com as pessoas e os estabelecimentos que os
constituem. Ao desaparecerem do seu seio, homem e negócio porque são siameses
impossíveis de separar, a urbe, enquanto núcleo, fica mais triste, mais só,
muito mais a viver em angústia pesada e que se vai alastrar a quem nele vive e
revive. Todos nós que continuamos a assistir a estas ausências anunciadas, e
que nunca mais voltarão, deveríamos ficar preocupados com o que se está a passar
nas nossas ruas das nossas cidades, vilas ou aldeias. O que está acontecer à
nossa volta é demasiado trágico para podermos aceitar pacificamente de mãos
cruzadas sobre o peito. A pergunta que mais me ocorre é perguntar: o que é
isto?
É certo que, enquanto cidadãos
comuns, não poderemos fazer nada -ou poderemos?-, mas e quem manda, quem detém o poder
decisório, também não pode fazer nada? Ou será que este poder sofre de autismo? Estando a ser o
coveiro destas muitas casas com história e a mandar para o charco as famílias
que aí detinham o seu rendimento e que lhes permitia viver condignamente, parece apenas interessado em tudo o que é grande, prestando vassalagem ao que vem de fora, faz de conta que não vê e assobia para o lado? É demasiado triste o que está acontecer aos
nossos pequenos centros onde vivemos e partilhamos com todos as nossas vidas. Especulando,
deveríamos ter uma varinha mágica que pudesse perpetuar estes marcos históricos
para além do seu ciclo de vida. Infelizmente não temos! Uma lágrima de saudade
para uma luz que feneceu.
JAZZ AO CENTRO CLUBE TOMA CONTA
DO ESPAÇO
Embora o Jazz ao Centro Club já
desse há vários anos uma “mãozinha” ao Telmo, segundo o presidente desta
agremiação jazzística, Rocha Santos, “ficámos com o espaço e vamos continuar
para que a história deste grande salão tão importante para a Baixa de Coimbra
não se perca. Depois de umas pequenas obras de remodelação, contamos em (re)abrir
lá para o princípio de Outubro. Vamos fazer deste local um grande centro de
actividades culturais onde, naturalmente, o Jazz estará presente mas também
outras formas musicais. Embora já o fosse, mas como viemos de novo e cheios de força, estamos apostados em fazer desta casa, que agora
pertencerá ao Jazz ao Centro Clube, um sítio de referência local e internacional.
Queremos dar a conhecer à cidade todo o nosso trabalho em prol da música. A
maioria dos conimbricenses não sabe mas temos uma vasta obra cultural em
marcha. Já editámos 18 discos. Felizmente, pela declaração expressa de várias entidades,
o nosso esforço está ser reconhecido por todos, incluindo a Câmara Municipal de
Coimbra. Esta nova passada, que agora estamos a encetar, é mais uma entre muitas
ideias que temos para colocar a andar.”
1 comentário:
Quando passei no seu espaço (muito bem recheado), vinha de visitar o Núcleo da Cidade Muralhada (Torre de Almedina e outros espaços) com o meu filhote.
Aproveitei para lhe mostrar e explicar o que são as Repúblicas e o Sousa Bastos.
Ao passar junto ao Salão Brazil (ainda me atrevi a contar algumas peripécias - as mais "softs", claro), fiquei surpreendido, mas pareceu-me que seria apenas um encerramento temporário para férias.
É muito mau não conseguirmos manter espaços do nosso imaginário colectivo.
Restam-nos as fotos e as vivências (enquanto o tal Alzheimer não nos trair).
Abraço!
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