terça-feira, 14 de agosto de 2012

MAIS UM COMERCIANTE QUE FICOU SEM LUZ



 Mais um comerciante que se apagou. Desta vez foi Álvaro dos Santos Chaves, com 92 anos, que conheci bem e durante muitas décadas esteve estabelecido com a “Bambi”, na Rua Corpo de Deus, e até ao seu encerramento há meia dúzia de anos.
Nas décadas de 70 e 80 do século passado esta casa foi uma das mais importantes no fornecimento de fardas para a hotelaria. Nesta altura, estou em crer, não haveria nenhum profissional desta área do turismo que não conhecesse a casa “Bambi” e, nomeadamente, o senhor Álvaro. Nesta época, a Rua Corpo de Deus, tal como todas as outras da Baixa, era um rio com um caudal diário estabilizado de transeuntes e estava prenhe de estabelecimentos. A “Bambi”, então com duas simpáticas funcionárias que conheci lá na casa muito bem e já não recordo o nome, não tinha mãos a medir a atender a clientela. Eram batas, eram casacos brancos para empregados de mesa, eram “jalecas” para cozinheiros, eram emblemas, capas e batinas para os estudantes, eram pijamas e camisas e tantos artefactos profissionais. Parece-me ainda estar a ver o senhor Álvaro, com o seu ar discreto, simples e afável, a atender e a cumprimentar os seus clientes atrás do balcão. Nos dias que correm esta artéria é apenas um mero afluente com pouco comércio e poucas pessoas a atravessá-la.
Hoje, com a partida deste comerciante, a íngreme Rua Corpo de Deus fica mais pobre e mais sozinha. A lembrar uma memória que já poucos terão presentes, a “Bambi”, ainda com algumas inscrições nos vidros em reminiscência arqueológica, mostra que ali, em tempos não muito recuados, existiu vida comercial.
Claro que ninguém se importa com esta destruição massiva da loja física. Mas era bom questionar, nem que fosse por momentos, o que irão ser as cidades no futuro. Pessoalmente estou em crer que, pela destruição de empregos que esta nova era tecnológica está a gerar, inevitavelmente, teremos a médio prazo um retorno às origens. Este sistema de comércio virtual pode ser muito cómodo para todos mas é destruidor da mão-de-obra humana.
Por que alarguei nas considerações, nesta hora de profunda angústia, finalizo com os mais sentidos pêsames à família do senhor Álvaro.


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