Mais um comerciante que se
apagou. Desta vez foi Álvaro dos Santos Chaves, com 92 anos, que conheci bem e durante
muitas décadas esteve estabelecido com a “Bambi”, na Rua Corpo de Deus, e até ao
seu encerramento há meia dúzia de anos.
Nas décadas de 70 e 80 do século
passado esta casa foi uma das mais importantes no fornecimento de fardas para a
hotelaria. Nesta altura, estou em crer, não haveria nenhum profissional desta
área do turismo que não conhecesse a casa “Bambi” e, nomeadamente, o senhor
Álvaro. Nesta época, a Rua Corpo de Deus, tal como todas as outras da Baixa, era
um rio com um caudal diário estabilizado de transeuntes e estava prenhe de
estabelecimentos. A “Bambi”, então com duas simpáticas funcionárias que conheci
lá na casa muito bem e já não recordo o nome, não tinha mãos a medir a atender
a clientela. Eram batas, eram casacos brancos para empregados de mesa, eram “jalecas”
para cozinheiros, eram emblemas, capas e batinas para os estudantes, eram
pijamas e camisas e tantos artefactos profissionais. Parece-me ainda estar a
ver o senhor Álvaro, com o seu ar discreto, simples e afável, a atender e a cumprimentar
os seus clientes atrás do balcão. Nos dias que correm esta artéria é apenas um
mero afluente com pouco comércio e poucas pessoas a atravessá-la.
Hoje, com a partida deste
comerciante, a íngreme Rua Corpo de Deus fica mais pobre e mais sozinha. A
lembrar uma memória que já poucos terão presentes, a “Bambi”, ainda com algumas
inscrições nos vidros em reminiscência arqueológica, mostra que ali, em tempos
não muito recuados, existiu vida comercial.
Claro que ninguém se importa com
esta destruição massiva da loja física. Mas era bom questionar, nem que fosse
por momentos, o que irão ser as cidades no futuro. Pessoalmente estou em crer
que, pela destruição de empregos que esta nova era tecnológica está a gerar, inevitavelmente,
teremos a médio prazo um retorno às origens. Este sistema de comércio virtual
pode ser muito cómodo para todos mas é destruidor da mão-de-obra humana.
Por que alarguei nas
considerações, nesta hora de profunda angústia, finalizo com os mais sentidos
pêsames à família do senhor Álvaro.
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