Encerrou a livraria 115, na Praça
8 de Maio. Depois de 35 anos naquele local e ter sido um dos espaços
emblemáticos da Baixa de Coimbra fechou portas. Até agora esta reputada firma livreira
da cidade detinha três casas num raio de cinquenta metros. Esta no largo de
Santa Cruz, outra na Rua da Moeda, onde é possível comprar artigos mais virados
para “o faça você mesmo”, em bricolage, e tintas e pincéis para artes
decorativas, e outra grande livraria, também histórica, a Casa Castelo, na Rua
da Sofia –estas duas, felizmente, ainda em funcionamento.
Segundo Fernando Freixo, um dos
sócios desta afamada sociedade livreira, “entendemos que perante as vendas e as
dificuldades que o mercado do livro está atravessar, neste momento, não fazia
sentido manter a casa da Praça 8 de Maio aberta e, acredite, com muita pena
nossa fechámos. Com os elevados custos com o pessoal, e em face do negócio que
se está a fazer, não era possível mantermos três estabelecimentos em
funcionamento. Temos a certeza que os nossos clientes irão entender e virão
aqui à Rua da Sofia.”
Conheço o senhor Fernando e a família
há cerca de 30 anos e por quem tenho a maior estima. Pessoas muito
trabalhadoras e, sobretudo, generosas. Tal como milhares de portugueses, a quem
políticos mais preocupados com os seus interesses e dos outros povos do que a
salvaguarda dos bens e vidas dos muitos nacionais residentes nas ex-colónias,
no período revolucionário do após-25 de Abril, veio com “uma mão atrás e outra
à frente”. Resultado de muita entrega, muitas noites sem dormir, muito
trabalho, esta sociedade familiar atingiu um patamar de reconhecido mérito na
cidade. Chegou a ter, durante quase duas décadas e até ao virar do milénio, uma
outra livraria nas Escadas do Quebra Costas.
Hoje, ao conversar com o meu
amigo Freixo, não pude deixar de perceber o profundo desânimo que lhe consome a
alma, ao ver o estado a que chegou o mercado livreiro. “Rebentaram com tudo, Luís.
Não há volta a dar a isto. Repare, a nossa margem de comercialização do livro
escolar é de 20 por cento. Se for às grandes superfícies fazem-lhe um desconto
de 20 por cento. Ou seja, como não precisam deste lucro, porque o que lhes
convém é levar lá as pessoas para compararem outras coisas, rebentam com as
pequenas casas com esta nossa. Diga-me, como é que é possível manter uma
pequena livraria aberta nestas condições e nesta selva? Trabalha aqui uma
dezena de pessoas. Nestas circunstâncias, como é que ganhamos dinheiro para lhes
pagar? Depois, como se o que conto fosse pouco, as editoras, que estão a agir
em oligopólio porque estão na mão de poucos, fazem de nós “gato-sapato”. O que
está acontecer é simplesmente indescritível. Nunca pensei, depois de mais de
meio século a vender livros, que viria a constatar esta situação. O que querem
fazer deste país, Luís? Já viu que a Baixa está ficar sem tabacarias? Há cerca
de uma vintena de anos nessas muitas entradas de portas estava uma família a
trabalhar. Era dali que retiravam o seu meio-sustento. E hoje, com esta
selvajaria, com a falta de ética, na lei do mais forte, as pessoas vão viver de
quê? Será que ninguém vê que estamos a caminhar para o abismo e para a destruição
do trabalho e do rendimento que lhe está associado? Nunca pensei que viria
assistir a isto…”
1 comentário:
É caso para dizer porra mais uma :-( quando é que termina este martírio? E já há algum tempo que pressinto que a castelo também vai fechar
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