sexta-feira, 31 de agosto de 2012

FECHOU A 115 DA PRAÇA 8 DE MAIO



 Encerrou a livraria 115, na Praça 8 de Maio. Depois de 35 anos naquele local e ter sido um dos espaços emblemáticos da Baixa de Coimbra fechou portas. Até agora esta reputada firma livreira da cidade detinha três casas num raio de cinquenta metros. Esta no largo de Santa Cruz, outra na Rua da Moeda, onde é possível comprar artigos mais virados para “o faça você mesmo”, em bricolage, e tintas e pincéis para artes decorativas, e outra grande livraria, também histórica, a Casa Castelo, na Rua da Sofia –estas duas, felizmente, ainda em funcionamento.
Segundo Fernando Freixo, um dos sócios desta afamada sociedade livreira, “entendemos que perante as vendas e as dificuldades que o mercado do livro está atravessar, neste momento, não fazia sentido manter a casa da Praça 8 de Maio aberta e, acredite, com muita pena nossa fechámos. Com os elevados custos com o pessoal, e em face do negócio que se está a fazer, não era possível mantermos três estabelecimentos em funcionamento. Temos a certeza que os nossos clientes irão entender e virão aqui à Rua da Sofia.”
Conheço o senhor Fernando e a família há cerca de 30 anos e por quem tenho a maior estima. Pessoas muito trabalhadoras e, sobretudo, generosas. Tal como milhares de portugueses, a quem políticos mais preocupados com os seus interesses e dos outros povos do que a salvaguarda dos bens e vidas dos muitos nacionais residentes nas ex-colónias, no período revolucionário do após-25 de Abril, veio com “uma mão atrás e outra à frente”. Resultado de muita entrega, muitas noites sem dormir, muito trabalho, esta sociedade familiar atingiu um patamar de reconhecido mérito na cidade. Chegou a ter, durante quase duas décadas e até ao virar do milénio, uma outra livraria nas Escadas do Quebra Costas.
Hoje, ao conversar com o meu amigo Freixo, não pude deixar de perceber o profundo desânimo que lhe consome a alma, ao ver o estado a que chegou o mercado livreiro. “Rebentaram com tudo, Luís. Não há volta a dar a isto. Repare, a nossa margem de comercialização do livro escolar é de 20 por cento. Se for às grandes superfícies fazem-lhe um desconto de 20 por cento. Ou seja, como não precisam deste lucro, porque o que lhes convém é levar lá as pessoas para compararem outras coisas, rebentam com as pequenas casas com esta nossa. Diga-me, como é que é possível manter uma pequena livraria aberta nestas condições e nesta selva? Trabalha aqui uma dezena de pessoas. Nestas circunstâncias, como é que ganhamos dinheiro para lhes pagar? Depois, como se o que conto fosse pouco, as editoras, que estão a agir em oligopólio porque estão na mão de poucos, fazem de nós “gato-sapato”. O que está acontecer é simplesmente indescritível. Nunca pensei, depois de mais de meio século a vender livros, que viria a constatar esta situação. O que querem fazer deste país, Luís? Já viu que a Baixa está ficar sem tabacarias? Há cerca de uma vintena de anos nessas muitas entradas de portas estava uma família a trabalhar. Era dali que retiravam o seu meio-sustento. E hoje, com esta selvajaria, com a falta de ética, na lei do mais forte, as pessoas vão viver de quê? Será que ninguém vê que estamos a caminhar para o abismo e para a destruição do trabalho e do rendimento que lhe está associado? Nunca pensei que viria assistir a isto…”

1 comentário:

Liliana Azevedo disse...

É caso para dizer porra mais uma :-( quando é que termina este martírio? E já há algum tempo que pressinto que a castelo também vai fechar